Ativista que se diz vítima de tortura vira símbolo dos protestos na Ucrânia

dmitry_bulatov_01Na vitrine – A foto do ativista Dmitry Bulatov com marcas de agressões repercutiu em todo o mundo. A imagem do ucraniano de 35 anos com a face esquerda totalmente coberta de sangue e manchas azuis distribuídas pelo dorso foi feita na noite de 30 de janeiro de 2014 em um vilarejo não muito longe de Kiev. Desaparecido desde 22 de janeiro, ele contou que fora sequestrado na capital ucraniana e torturado durante oito dias. “Cortaram-me uma orelha, martelaram pregos na minha mão”, disse.

Nesta segunda-feira (03/02), o militante se encontrava numa clínica na capital lituana, Vinius, onde deu entrada depois de viajar de Kiev através de Riga, na Letônia. Um tribunal ucraniano autorizou no domingo a saída do ativista do país para tratamento médico. As autoridades o acusam de organizar protestos violentos e alegam que, por isso, o mantiveram em prisão domiciliar. O processo, entretanto, foi arquivado, segundo informações da mídia ucraniana.

Enquanto isso, a polícia tenta há dias esclarecer o suposto sequestro. Mas quando os investigadores tentaram ouvir Bulatov em um hospital de Kiev, foram impedidos por amigos e médicos do militante, que alegaram razões de saúde, mas provavelmente temiam a prisão dele.

O caso é o de maior repercussão entre a série recente de ataques a militantes da oposição. Muitos foram sequestrados e espancados. Um homem morreu de hipotermia na floresta, com as mãos atadas por seus sequestradores. Alguns políticos da oposição falam de “esquadrões da morte”, que seriam compostos por policiais e criminosos. Até agora, não há provas, somente indícios.

Grupo pressionava membros do governo

As imagens de Dmitry Bulatov desfigurado o tornaram um dos símbolos dos protestos na Ucrânia. Ele é dos líderes do chamado Automaidan (em alusão ao nome original da praça da Independência em Kiev), um grupo de motoristas, em maioria jovens, que se organizaram em Kiev no início dos protestos, em novembro de 2013. Eles decoraram seus carros com bandeiras da UE e rodavam a cidade para divulgar os protestos na Praça da Independência. Mas não só isso.

Em dezembro, Bulatov foi, junto com centenas de integrantes do Automaidan, até a residência do presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, em Meschihirja, nos arredores de Kiev, mas foram impedidos de se aproximarem da casa pela polícia. Várias vezes, os militantes motorizados tentaram pressionar importantes membros do governo, fazendo carreatas até as casas de alguns deles. Em um dos atos, ativistas jogaram um peixe podre por cima da cerca da casa do ministro ucraniano do Interior, Vitali Sachartschenko. Eles exigiram a demissão do político, responsabilizando-o pela dissolução violenta de uma manifestação pacífica em Kiev.

Bulatov também teve papel indireto na recente escalada de violência em Kiev. No comício em 19 de janeiro passado, ele subiu no palanque e apelou para que os líderes dos protestos entrassem em acordo sobre um único nome para encabeçar o movimento, o que foi rejeitado.

Em seguida, parte dos manifestantes se retirou da Praça da Independência e se dirigiu ao Parlamento, quando a polícia bloqueou os ativistas, e alguns manifestantes radicais começaram a atirar coquetéis molotov nas forças de segurança. Os policiais responderam com gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e balas de borracha. A batalha de rua assumiu tais proporções inéditas até então, durou quase uma semana e deixou mortos e feridos.

Logo no início, Bulatov e outros líderes da Automaidan rejeitaram aquela violência. Dmitry Bulatov chegou a escrever afirmando ser contra a “violência gratuita” e derramamento de sangue. Pouco antes de seu sequestro, o militante afirmou que os integrantes da Automaidan reconhecem Vitali Klitschko como líder dos protestos. Klitschko também foi um dos primeiros a visitar Bulatov no hospital. (Deutsche Welle)