Educação e patrimônio público

(*) Lígia Fleury –

ligia_fleury_02Nesta semana, muitos profissionais da área da Educação retomam suas atividades, planejando o ano letivo. É o momento em que o corpo docente se reúne para traçar novas metas, rever o Projeto Político Pedagógico da escola, refletir sobre os melhores caminhos na aprendizagem do aluno. Eu sugiro que todos paremos por um momento e façamos uma análise das consequências do nosso trabalho na sociedade. Como assim? Por quê?

Pensando apenas no Brasil, focando em apenas um país deste planeta, um país tão enorme que é dividido em regiões, com uma população de 200 milhões de habitantes distribuídos em áreas nobres e áreas periféricas. O que, exatamente, significa esta divisão?

A área nobre tem serviço público como água, luz, esgoto que apresentam problemas graves, mas o serviço existe. A periferia, em sua maioria, sequer possui tratamento de água e esgoto, energia, gás. Para que pagamos impostos senão para termos estes serviços, policiamento, atendimento à saúde e escola de qualidade para todos? Esta é a questão: se o governo não faz, não podemos continuar de mãos atadas, reclamando sempre das mesmas coisas. Ação! Vamos agir!

A escola é um sistema político, em que professores possuem a real possibilidade de desenvolver o pensamento crítico dos alunos, mostrando-lhes como funciona a ideologia, o sistema, a corrupção, a desigualdade, as falcatruas, o valor imensurável dos impostos pagos e a falta de assistência que o governo oferece à população. Onde está o dinheiro do contribuinte? Essa reflexão cabe em todas as áreas do conhecimento.

É sabido que um número absurdo de crianças deste Brasil está fora da escola porque não há vagas; estes, entram em fila de espera e podem jamais serem chamados. E acredito que estejam fora da escola exatamente para não aprenderem a pensar. Como exigir que essa parte da população respeite a vida em sociedade, o patrimônio público? Em casa, eles encontram famílias que não acreditam no governo, com razão. Colaborar para quê?

Mesmo errado, esse é o raciocínio que guia as ações dos baderneiros. Lugar de crianças e adolescentes é na escola, aprendendo, refletindo, trocando experiências, ensinando, crescendo. Em algumas grandes cidades, atualmente, ocorrem os “ rolezinhos”, nome dado ao movimento que jovens organizam para se encontrarem em shopping centers e promoverem desordem.

Se os pais os educassem e a escola promovesse reflexões, eles estariam ociosos? Teriam tempo para badernar e violar regras? Teriam interesse em destruir o patrimônio público se pudessem usufruir deste para seu lazer, por uma questão cultural?

Pois bem, colegas educadores. Se o governo não faz, façamos nós. Lugar de crianças e adolescentes é na escola e não na rua. Educação começa em casa, caminha em paralelo com a escola e se perpetua por uma vida toda. É da vida que falamos, é pela vida que trabalhamos. Vamos ensinar aos alunos que vida em sociedade tem regras, limites e que respeito é o primeiro espaço, o valor que precisa ser trabalhado em todos os segundos do cotidiano.

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.