Jogo de cena – Condenado no julgamento do Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção da história nacional, o deputado federal João Paulo Cunha (SP) abusou mais uma vez do populismo barato e da vitimização. O mensaleiro almoçou nesta segunda-feira (3) com militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) que desde novembro estão acampados diante do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, para protestar contra as condenações dos envolvidos no esquema criminoso de cooptação de parlamentares por meio do pagamento de mesadas.
Com a conclusão da Ação Penal 470, João Paulo Cunha deve cumprir pena de prisão, cujo mandado deveria ter sido assinado pelo ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF e relator do processo, que não o fez por conta das férias. Barbosa deixou o mandado de prisão para ser assinado por seus substitutos na presidência interina da Corte – a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha e o ministro Ricardo Lewandowski – mas ambos refugaram diante da responsabilidade. Joaquim Barbosa reassumiu a presidência do STF nesta segunda-feira e qualquer momento pode expedir o mandado contra João Paulo Cunha, condenado a 9 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro.
Após o almoço com os acampados, o mensaleiro petista disse que tem recebido muitos apoios de parlamentares. “De ontem para hoje [domingo para segunda-feira], a quantidade de telefonemas que recebi de deputados me conforta demais”, declarou.
João Paulo Cunha é dono de personalidade egocêntrica e narcisista, mas agora, diante da iminência da prisão, resolve posar de inocente e humilde. Apenas para lembrar, nos dois anos em que esteve na presidência da Câmara dos Deputados, João Paulo teve a oportunidade de colocar em prática a sua vaidade. Circulava pelas ruas de Brasília a bordo de carro oficial, uma prerrogativa do cargo, mas exigia a presença de estridentes batedores, que com suas motocicletas rasgavam o trânsito da capital dos brasileiros com ruidosas sirenes instaladas.
Fora isso, João Paulo Cunha jamais agiu, nesse período, com a devida humildade. Tratava os colegas de Parlamento com arrogância e desdém, comportamento que a poucas horas de ser preso desapareceu.
Vale destacar que o petista tentou justificar o recebimento de quantia em dinheiro do esquema coordenado por Marcos Valério, mas acabou se enrolando. De início alegou que sua esposa, Márcia Milanésia da Cunha, teria ido à agência do Banco Rural, em Brasília, para pagar faturas de empresa de televisão a cabo, quando na verdade lá esteve para receber na boca do caixa recursos do “valerioduto”. Na sequência, ao perceber que a desculpa não decolou, João Paulo disse que o dinheiro tinha sido empregado na contratação de pesquisas de opinião na região de Osasco, cidade da Grande São Paulo e base político-eleitoral do mensaleiro.
Assim como as duas esfarrapadas desculpas apresentadas à época do escândalo do Mensalão do PT, essa falsa humildade de João Paulo Cunha não convence. Quem o conhece sabe que tudo não passa de encenação chicaneira, que segue script rabiscado pela cúpula do PT, cujo objetivo é martirizar os criminosos que integraram o esquema comandado por José Dirceu de Oliveira e Silva, já devidamente recolhido ao Complexo Penitenciário da Papuda.