Troca de acusações marca o compasso do caso que culminou com a morte de cinegrafista

santiago_andrade_02Cantilena conhecida – Como sempre acontece em crimes polêmicos e de repercussão, já começou o bambolê jurídico no caso dos jovens presos por envolvimento na morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, atingido por artefato explosivo na última quinta-feira (6), enquanto registrava imagens de manifestação, no Centro do Rio de Janeiro, contra o aumento da tarifa de ônibus.

Defendidos pelo advogado Jonas Tadeu, os jovens Fábio Raposo Barbosa e Caio Silva de Souza, ambos presos, na capital fluminense, têm discursos distintos acerca do trágico episódio. Fábio alega que entregou ao parceiro de protestos o artefato explosivo que atingiu o cinegrafista, enquanto Caio afirma que foi Raposo o responsável por acender o rojão e pedir que o mesmo fosse arremessado.

De acordo com a repórter Carolina Heringer, do jornal Extra, Caio de Souza afirmou aos policiais, durante depoimento na 17ª Delegacia de Polícia do Rio, que “nem sempre participou do movimento Black Bloc, porque trabalha e nem sempre consegue participar das manifestações”. Ele também teria dito que esteve na ocupação na Câmara de Vereadores do Rio, no fim de 2013, quando “teve a oportunidade de ver a chegada de até cinquenta quentinhas para alimentar os ativistas”. “Há pessoas que aliciam os jovens para participar das passeatas e já foi convidado para participar de forma remunerada”, completou o jovem que foi levado para o complexo Penitenciário de Bangu.

Sobre os financiadores dos protestos marcados pela violência, Caio confirmou a existência desses criminosos que deveriam ser enquadrados como terroristas. O jovem disse que chegou a ver um documento com detalhamento da distribuição do dinheiro aos baderneiros. Segundo ele, o documento foi publicado no Facebook do Anonymous Rio e do Black Bloc, pois “existem discordâncias entre os próprios ativistas”.

Na sequência de detalhes gradativamente revelados, o jovem que foi preso em Feira de Santana (BA) disse que a ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho, foi quem passou a o documento com contabilidade dos protestos para um amigo, que o publicou na rede social.

Longe de ser taxativo, Caio, em determinado trecho do depoimento, revelou que “os partidos que levam bandeira são os mesmos que pagam os manifestantes”. Informou também já ter visto “bandeiras do PSol, PSTU e Fip (Frente Independente Popular), sendo esta um dos grupos que organiza reuniões plenárias”.

O advogado Jonas Tadeu foi mais contundente em suas declarações à imprensa e disse que seus clientes foram aliciados para participar dos quebra-quebras. Ambos teriam recebido dinheiro para promover atos de selvageria e vandalismo, sendo que Caio teria recebido R$ 150 por cada participação. Tadeu sugeriu, na entrevista, que políticos e partidos devem ser investigados pelas autoridades, pois é evidente a ligação com os protestos violentos.

É cedo para afirmar que o caso terminará em uma avalanche de contradições, até porque essa é uma estratégia usada pelos advogados, mas é preciso que as autoridades investiguem a fundo, pois os patrocinadores desses eventos criminosos devem ser alcançados pela lei, assim como foram Fábio Raposo e Caio de Souza. Identificados e punidos os criminosos que operam nos bastidores da baderna, as manifestações populares, plenamente democráticas, voltarão a ser pacíficas, como determina a legislação vigente.

É sabido que os verdadeiros culpados negarão qualquer envolvimento com os protestos violentos, além de tentarem obstruir o trabalho da Justiça, mas é importante que as autoridades não esmoreçam diante das chicanas, pois é preciso salvar a democracia brasileira do esgarçamento imposto pelos donos atuais do poder, que agem nas coxias sem deixar muito rastros. Somente um trabalho de inteligência policial será capaz de decifrar o enigma.