Mensalão Mineiro: renúncia de Azeredo foi drible arquitetado para adiar decisão da Justiça

eduardo_azeredo_03Batendo de trivela – Acusado de envolvimento no Mensalão Mineiro, esquema criminoso que desviou recursos de empresas públicas de Minas Gerais, o tucano Eduardo Azeredo renunciou ao mandato de deputado federal no início da tarde desta quarta-feira (19), como largamente noticiado pela imprensa. Essa decisão já era esperada, pois Azeredo, que adiou para esta semana um discurso sobre a denúncia oferecida contra ele pela Procuradoria-Geral da República, já sinalizara com a possibilidade de abri mão do mandato, como forma de não comprometer o PSDB, que disputará a corrida presidencial de outubro próximo com o também mineiro Aécio Neves.

Por conta da prerrogativa de foro, Eduardo Azeredo respondia ao processo do Mensalão Mineiro no Supremo Tribunal Federal, que recebeu da PGR denúncia acompanhada de sugestão de pena: 22 anos de prisão. Foi esse detalhe que Azeredo usou para justificar a decisão de renunciar.

Assim que sua carta de renúncia foi lida no plenário da Câmara dos Deputados, o que formaliza o pedido, a imprensa nacional confirmou o que começou a ser noticiado desde a manhã desta quarta-feira, mas deixou de explicar aos brasileiros a manobra que está por trás da decisão. Ao deixar o parlamento, Eduardo Azeredo perde o foro especial por prerrogativa de função, o que obriga que o processo seja remetido à primeira instância da Justiça. Isso fará com que os crimes imputados a Azeredo acabem prescrevendo no vácuo da pouca celeridade do Judiciário.

Fosse a verdadeira a preocupação de Eduardo Azeredo em relação aos danos que seriam causados ao PSDB, o ex-governador de Minas Gerais teria e desligado do partido, o que causaria muito mais efeito do que a renúncia.

Tão logo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sugeriu ao STF que Azeredo fosse condenado a 22 anos de prisão, o tucano afirmou que sua culpa no caso do Mensalão Mineiro é idêntica à do ex-presidente Lula no caso do Mensalão do PT. Ou seja, Eduardo Azeredo deu a entender que desconhecia os fatos, mesmo que o desvio de dinheiro tenha servido, à época, para financiar sua campanha para novo mandato como governador. Ora, se Azeredo crê que é tão inocente quanto Lula, deveria ter continuado como deputado federal e provado sua aludida inocência à Justiça. Ou seja, renunciar ao mandato foi um drible no Judiciário.

No contraponto, os petistas não têm muito que comemorar no caso do Mensalão Mineiro, porque outro acusado de envolvimento no escândalo de desvio de dinheiro público, Walfrido dos Mares Guia, é ligado do PT, apesar de sua essência tucana. Inocentado no caso em questão por conta do prazo prescricional, que é reduzido à metade quando o réu atinge 70 anos, Walfrido foi ministro de Lula e desde então mantém relação próxima com o petista. Tanto é assim, que há dias, quando viajou para Belo Horizonte, Lula usou um avião da holding controlada por Walfrido dos Mares Guia, que com certa regularidade oferece almoços e jantares ao ex-presidente e a Dilma Rousseff quando um ou outro está na capital mineira. Resumindo, corrupção gera relações umbilicais que ultrapassam os discursos ideológicos.