Os seis marielitos

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13É Brasil: primeiro, foram comprados 36 caças supersônicos Grippen NG, ao custo de US$ 4,5 bilhões; depois da compra, discute-se se a compra deveria ter sido feita. O debate sobre o já decidido ocorre amanhã, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, com a participação do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, com início marcado para as dez da manhã.

O valor da compra nem é tão alto: equivale a seis vezes o que o Brasil gastou na modernização do porto de Mariel, em Cuba; ou a quatro vezes o prejuízo com a compra da refinaria de petróleo obsoleta de Pasadena, nos Estados Unidos. E o investimento deve ser mais útil que aqueles: esta coluna – que tinha levantado dúvidas sobre a necessidade de novos caças, perguntando se drones, muito mais baratos, não fariam o mesmo serviço de supervisão de fronteiras e de regiões economicamente sensíveis, como campos petrolíferos em alto mar – recebeu mensagens de especialistas de prestígio, que consideram que a compra foi essencial.

Diz o engenheiro aeronáutico Isu Fang, especialista em administração: “A escolha do Grippen NG foi elogiada por profissionais sérios, tecnicamente excelentes. Os drones não servem para todas as missões que a FAB tem de cumprir; e é preciso lembrar que nossa Força Aérea está praticamente sem aviões de combate, após a aposentadoria dos Mirage”. Sobraram Tigers F-5 e Skyhawks A-4, alguns modernizados, mas bem idosos. Completa Isu Fang: “Se vamos manter uma força aérea precisamos dar-lhe condições mínimas de cumprir suas funções”.

Dúvida pertinente

Fang faz, entretanto, uma pergunta fundamental, para um país que tem poucos recursos (e ainda precisa dividi-los para financiar outros países, além de gastá-los em instalações caríssimas e improdutivas no Exterior): “O que deveria ser discutido de maneira aberta é o que o país espera de suas forças armadas e, em função disso, seus efetivos e os investimentos necessários para que possam operar”.

Não é o que parece

Não leve a sério as ameaças dos partidos aliados a Dilma de criar dificuldades aos projetos do Governo, ou de aderir a candidaturas oposicionistas à Presidência. Eles até podem aderir a candidatos oposicionistas, em duas circunstâncias: se os oposicionistas forem favoritos (no momento, não são), ou se ganharem as eleições, caso em que procurarão demonstrar que sempre foram ferozmente contra Dilma, Lula e tudo o que pareça petismo.

As ameaças têm objetivo preciso: renegociar, para melhor, os termos do apoio à presidente, obtendo mais cargos, em ministérios mais rentáveis, e mais verbas parlamentares. O mais feroz desses leões parlamentares é amansável com boa alimentação e muito carinho oficial.

Falar, sim; largar, não

Observação de um arguto colunista carioca, Aziz Ahmed, de “O Povo”: o PT do Rio rompeu com o Governo do peemedebista Sérgio Cabral e prometeu entregar os cargos que ocupava. Dos 500 petistas lá empregados, nem 10% saíram. O PSB do candidato Eduardo Campos rompeu com o Governo Dilma e prometeu entregar os cargos. Nem 20% dos socialistas empregados no Governo Federal entregaram os cargos até agora.

Romper, sim; largar o osso, nem pensar.

O culpado é o leitor

Sabe quem é o responsável pelas tentativas de invasão do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, no dia 12, por tropas de choque do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, MST? Sabe quem é o responsável pelo tumulto que provocou ferimentos em trinta PMs encarregados da segurança dos prédios públicos?

Pois olhe-se no espelho, caro leitor. O Incra, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, entrou com R$ 448 mil para o congresso do MST que redundou nos tumultos. A Caixa Econômica Federal economizou: deu só R$ 200 mil. E o BNDES contribuiu com R$ 350 mil para evento tão essencial aos objetivos do banco, a busca do desenvolvimento econômico e social. Tudo está devidamente documentado, publicado no Diário Oficial da União. Ao que se saiba, perto de um milhãozinho – fora o que ainda não apareceu.

E por que o caro leitor é o culpado? De onde é que sai o dinheiro do BNDES e do Incra?

Pagando a conta

Mas não se diga que o MST não entregou nada em troca do generoso e gentil patrocínio oficial ao quebra-quebra que promoveu em Brasília. Depois de promover os tumultos, depois de ferir trinta policiais, depois de pregar o fim da Constituição e de chamar o Poder Judiciário de “assassino”, o MST foi recebido pela presidente Dilma Rousseff em Palácio.
E deu de presente a Sua Excelência uma cestinha pequenina com produtos originados, dizem, de seus assentamentos.

Os números do problema

Não é difícil entender os problemas da Petrobras. Dois deles: a) com a falta de chuvas, as usinas a diesel estão funcionando em plena capacidade. As importações de diesel cresceram 40% de dezembro para janeiro. E a Petrobras o vende abaixo do custo; b) o gás natural é importado a US$ 17 o milhão de BTU (unidade de medida) e vendido para usinas a preços que variam de quatro a dez dólares o milhão de BTU.

Um dia a Petrobras precisará de recursos para pagar a conta.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.