Problemas à vista – Três anos após a queda do regime do ditador Hosni Mubarak, o Egito foi às urnas escolher um presidente pela segunda vez em sua história, em eleição iniciada na segunda-feira (26) e encerrada nesta terça. O comparecimento às urnas foi baixo e, apesar de os resultados serem esperados apenas dentro de nove dias, todos os prognósticos apontam para a vitória do marechal de campo Abdel Fattah al-Sisi.
“Seu grande tema é a melhora da situação de segurança”, explica Stephan Roll, especialista em assuntos egípcios do instituto alemão SWP. A campanha do ex-chefe das Forças Armadas esteve dominada pelo combate aos fundamentalistas islâmicos, sobretudo à Irmandade Muçulmana.
O próprio Sisi aproveitou a insurgência popular contra o então presidente Mohammed Morsi, para depô-lo em julho de 2013, aplainando, assim, seu próprio caminho para a presidência egípcia. Desde então, os atentados são quase diários do Egito. Os partidários do marechal confiam que ele será capaz de dar fim aos distúrbios no país.
Promessas vagas
No entanto, o que começou no Egito como uma luta pela liberdade e democracia desembocou em grave crise econômica e, para a maioria dos cidadãos, o tema mais urgente é a catastrófica situação da economia nacional. Eles esperam de seu novo chefe de Estado melhores condições de vida – e o mais rapidamente possível.
Os cofres públicos egípcios estão vazios, o déficit orçamentário circula pelos 14% do PIB. A taxa de desemprego, calculada em 13%, é a mais alta de todos os tempos, sobretudo entre a população abaixo dos 30 anos de idade, que compõe quase um terço do total dos sem trabalho.
São essas as circunstâncias em que o novo homem à frente do Egito terá que reafirmar seu poder. Antes das eleições, o marechal Sisi prometeu melhorar a situação geral do país num prazo de dois anos caso fosse eleito. No entanto, não revelou como pretende fazê-lo e deixou em aberto que planos tem contra a pobreza popular e a falência do Estado.
“Ele sempre se manteve muito vago”, resume Stephan Roll. Em sua campanha, o militar mencionou que será preciso economizar e aumentar os impostos – metas discutíveis, diante do fato que um em cada quatro egípcios vive abaixo do limite da pobreza.
Atado aos generais
Entretanto, do ponto de vista de Josef Janning, especialista do instituto alemão DGAP, com Sisi na presidência o Egito não deve esperar nenhuma reforma econômica mais profunda. “Uma reforma assim não poderia poupar as Forças Armadas, com seus numerosos empreendimentos”, lembra.
Isso é um problema, pois o ex-chefe do Exército egípcio depende do apoio dos poderosos militares. Os generais mantêm seu próprio império econômico que, de acordo com algumas estimativas, abarcaria até 40% do volume da economia do país.
As firmas militares estão ao largo de qualquer controle estatal, são isentas de impostos e até mesmo subvencionadas. Além disso, elas fornecem emprego a largas faixas da população. E os generais estão preocupados, em primeira linha, com a própria vantagem econômica, não tendo interesse, portanto, em reformas que lhes acarretem custos.
Projetos gigantescos
A questão das subvenções também é um obstáculo à estabilidade econômica do Egito. Na verdade, há muito a economia nacional não tem como arcar com as vultosas injeções financeiras para alimentos e combustíveis. Quem quiser eliminá-las terá que enfrentar uma onda de protesto. Por isso, até agora, tanto Fattah al-Sisi quanto seu adversário Hamdien Sabahi têm evitado se pronunciar sobre o assunto.
Em vez disso, Sisi vagamente anunciou projetos de desenvolvimento gigantescos, com os quais pretende abrir novas regiões do Egito ao turismo nos próximos dez anos. Trata-se de medidas onerosas, cujo financiamento permanece obscuro.
Segundo Stephan Roll, com tais projetos o marechal de campo “tem na mira, em especial, os interesses de seus principais grupos apoiadores”. Entre eles estão, além das forças militares, também os Estados do Golfo Pérsico. Pois o país já estaria insolvente há muito tempo, sem a ajuda financeira dos Emirados Árabes, da Arábia Saudita e do Kuwait.
Repressão estatal como resposta
Em meados de 2013, as três monarquias concederam 12 bilhões de dólares ao Cairo e, segundo dados do próprio Abdel Fattah al-Sisi, até o mês corrente essas injeções financeiras deverão se elevar a cerca de 20 bilhões de dólares.
As ajudas bilionárias não estão subordinadas a quaisquer condições. Os Estados do Golfo têm interesses no Egito, e elas facilitam seus futuros investimentos no mercado do país. Além disso, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Kuwait veem com bons olhos o rigor do marechal egípcio contra a Irmandade Muçulmana, pela qual também se sentem ameaçados em seus territórios.
Porém, as verbas desses três países não bastarão para trazer mais bem-estar ao povo do Egito. E o novo presidente não pode basear seu orçamento em injeções de capital estrangeiro. “Eu temo que Sisi não vá dar conta da situação econômica. Sua única resposta vai ser inflar o aparato de segurança, a fim de impedir os protestos”, prevê Roll.
O ex-chefe do Exército nacional já tomou as primeiras medidas nesse sentido, ao reforçar a repressão estatal nos últimos meses. E ele também proibiu a única oposição forte, a Irmandade Muçulmana, mandando prender todos aqueles que estejam ligados a ela. (Deutsche Welle)