Dando o troco – No primeiro dia após a retomada da “operação antiterrorismo” de Kiev no leste da Ucrânia, o saldo é de pelo menos 45 mortos, inclusive dois civis, segundo dados das autoridades locais. Os combates se concentram, sobretudo, no reduto separatista de Donetsk. Após retomar o controle do aeroporto da cidade, o governo prometeu seguir o combate às forças separatistas pró-Rússia.
Os choques se iniciaram na segunda-feira (26), quando as tropas de Kiev repeliram com sucesso a tentativa dos insurgentes de assumir o controle do aeroporto de Donetsk, o segundo maior do país. Na operação foram utilizados jatos e helicópteros de combate. Há também notícias de choques armados em torno da estação ferroviária.
O ministro interino do Interior, Arsen Avakov, declarou não ter havido vítimas entre as forças governamentais. Fontes rebeldes, por sua vez, estimam o número total dos mortos nas últimas 24 horas em até cem, sendo a metade civis, assim como centenas de feridos.
Há algumas semanas a capital regional, de 1 milhão de habitantes se proclamou, unilateralmente, “República Popular de Donetsk”. As emissoras alemãs de direito público ARD e ZDF retiraram da cidade suas equipes de repórteres, temendo que o agravamento dos combates na área do aeroporto e da estação venha a impedir uma futura evacuação.
Possível diálogo com Moscou
No domingo (25), o magnata Petro Poroshenko venceu as eleições presidenciais ucranianas já no primeiro turno, com cerca de 55% dos votos. O governo interino de Kiev deposita no novo chefe de Estado a esperança de que unifique a nação profundamente dividida entre pró-ocidentais e pró-russos.
O bilionário, apelidado de “Rei do Chocolate”, é conhecido por seu pragmatismo. Embora declaradamente a favor de fortificar os laços da Ucrânia com a União Europeia, ele também enfatizou a importância de reparar as relações com Moscou.
Poroshenko, que ainda não foi empossado, diz que almeja um fim pacífico da insurgência no leste ucraniano e que vai visitar a região em breve. Ao mesmo tempo, porém, tachou os separatistas de “piratas somalianos”, com quem não vai negociar, e prometeu impedir que semeiem ainda mais caos.
Durante uma sessão governamental televisionada, nesta terça-feira, o vice-primeiro-ministro Vitaly Yarema adiantou que a “operação antiterrorista” na Ucrânia Oriental prosseguirá “até que todos os militantes tenham sido aniquilados”.
Em Moscou, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, se disse preocupado pela decisão de Kiev de intensificar a operação militar no leste. Ele exigiu o fim imediato dos combates, acusando Kiev de empregar as forças armadas nacionais contra a própria população.
O chefe da diplomacia russa desaconselhou Poroshenko de tentar alcançar uma vitória rápida antes mesmo da posse, pois isso “dificilmente criará condições para uma acolhida hospitaleira na região de Donetsk”.
Em contrapartida, Lavrov assegurou que o novo presidente terá na Rússia uma “parceira séria e confiável”, se ele se empenhar pelo fim das hostilidades. Moscou está pronta ao diálogo com Poroshenko – sem a mediação dos Estados Unidos ou da União Europeia, acrescentou.
Outro sequestro
Uma equipe de quatro observadores Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) foi capturada por separatistas entre Donetsk e Lugansk, segundo informação divulgada nesta terça-feira pelo ministro dinamarquês do Comércio e Desenvolvimento, Mogens Jensen.
A organização europeia revelou estar em contato com o governo ucraniano e com as autoridades locais. Desde a manhã da véspera, ela perdera o contato com o grupo composto por inspetores da Dinamarca, Estônia, Suíça e Turquia. O incidente evoca o recente sequestro de 12 funcionários da OSCE. Detidos no fim de abril, eles foram mantidos durante mais de uma semana em poder dos separatistas da cidade de Slaviansk.
Na cidade de Lugansk, vizinha de Donetsk e também autoproclamada independente do governo central em Kiev, a guarda de fronteira ucraniana rechaçou combatentes armados da Rússia, que tentavam atravessar a fronteira. Um dos invasores foi ferido, e foram apreendidos diversos veículos carregados de fuzis kalashnikov, lança-morteiros e explosivos.
Também na fronteira russo-ucraniana, um representante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) registrou a retirada de unidades russas isoladas. A maioria das tropas seguiria estacionada na zona fronteiriça, mas há indicações de que os equipamentos estão sendo embalados ou preparados para transporte.
“A atividade que atualmente se observa pode levar a concluir que ocorre uma retirada lenta e gradual das forças de combate”, comentou o oficial, pedindo anonimato. (Com agências internacionais)