Copa comprada, apito amigo

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_07Só há uma coisa mais aborrecida do que aquela abertura chinfrim da Copa: discutir o futebol a partir de posições partidárias. Eta, gente chata! E deslocada: em geral, não sabe quem é a bola e acha que impedimento é depor o Collor. A última discussão imbecil é a da compra da Copa: como muita gente acha que o pênalti em Fred não foi pênalti (este colunista, em minoria, acha que foi), surgiu a lenda de que a Copa foi comprada para reeleger Dilma. Coisa de quem não entende de política: o Brasil perdeu a Copa de 98 e Fernando Henrique se reelegeu, o Brasil ganhou 2002 e o candidato de Fernando Henrique perdeu. E não entende de futebol: se esta Copa é comprada, e as outras? Digamos, a de 86, com o gol de mão de Maradona contra a Inglaterra – e a Argentina bicampeã do mundo?

Como a de 1962, vencida pela indiscutível Seleção de Gilmar, Djalma Santos e Mauro; Zito, Zózimo e Nílton Santos; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé (Amarildo) e Zagalo. Contra a Espanha (sem Pelé, com distensão muscular), o Brasil perdia por 1×0, gol de Rodríguez. O ponta-direita Collar foi derrubado na área por Nílton Santos – que, malandro, saiu da área. O juiz chileno Sérgio Bustamante deu falta, não pênalti. Na cobrança, Puskas marcou de bicicleta. O juiz anulou, por jogo perigoso. O Brasil virou o jogo com dois gols de Amarildo, substituto de Pelé. Na semifinal, Garrincha, o maior jogador da Copa, foi expulso. Seria suspenso – mas o juiz uruguaio Esteban Marino sumiu sem apresentar seu relatório. Garrincha pôde jogar contra os tchecos. Brasil, 3×1, bicampeão do mundo.

Em tempo

Esteban Marino tinha viajado para o Uruguai, com passagem oferecida pelo Brasil. Depois apitou muitos anos em São Paulo, sempre com fama de bom juiz.

Por favor

E agora, que tal voltar a discutir futebol como futebol, não como ideologia?

Pau que dá em Chico

O PT, com apoio do PMDB, está ralentando a investigação na CPI da Petrobras, sob protestos do PSDB. Em compensação, o PT acusa o PMDB de ficar ao lado do PSDB, ralentando a instalação da CPI da Alstom, destinada a investigar pagamento de propinas aos Governos tucanos de São Paulo e do DEM de Brasília, para atuar em condições mais vantajosas no setor do Metrô e trens urbanos.

O PT tem razão: PSDB e PMDB até agora não indicaram nomes para compor a CPI da Alstom. O PSDB, claro, como alvo da CPI; o PMDB porque parece entender que, quanto menos se investigar, melhor para todos.

Quem tem, cuida.

Jogo de equipe

A CPI sobre Metrô e trens urbanos pode levantar dados interessantes. Por exemplo, até agora só o chefe da Casa Civil do Governo Mário Covas, Robson Marinho, vem sendo acusado de irregularidades. Por mais poderoso que fosse, Marinho jamais teria condições de agir sozinho. Certamente teve que dividir o pudim.

Com quem? Falta investigar os outros secretários do Governo Covas.

Fomos lembrados!

Quem disse que os parlamentares não pensam nos cidadãos? A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou a criação do Dia Nacional do Palhaço.

Entre amigos

Dilma confirmou: vai à Convenção Nacional do PCdoB em Brasília, dia 27. Estará entre amigos, todos disciplinados. Onde, enfim, não será vaiada.

Tucanos trabalhando 1

A Unicamp, uma das universidades mais prestigiosas do país, ligada ao Governo paulista, tem um hospital da maior importância. Neste momento, o Hospital Universitário da Unicamp está atendendo apenas situações de emergência. Foram suspensas 470 cirurgias nos últimos dias, por ferrugem nos instrumentos.

Tucanos trabalhando 2

O Incor, Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, de fama internacional, está sem gaze. Numa farmácia, no varejo, um pacote de gaze com 500 unidades custa R$ 37. No atacado deve ser mais barato.

Petistas trabalhando 1

O caro leitor acredita no que lê sobre a dengue? Talvez esteja equivocado: reportagem do ótimo Agostinho Teixeira, do Grupo Bandeirantes, mostra que foram forjados pelo menos os boletins “para identificar focos de dengue” feitos na Zona Norte de São Paulo. Teixeira gravou agentes da Vigilância em Saúde: “os agentes estão na rua, sem supervisão, livres para fazer o que quiserem. Ninguém verifica nada. É para tapear mesmo”.

Uma bióloga responsável pelo controle da dengue no bairro da Casa Verde, Eliana Colucci, disse que é impossível saber se os números são verdadeiros. “O município ainda não tem supervisores de campo, o agente para supervisionar as equipes. E pode acontecer fraude no trabalho”.

Petistas trabalhando 2

Com números duvidosos, a presidente Dilma acaba dizendo que notícias sobre a epidemia de dengue, “no inverno”, foram divulgadas para prejudicar a Copa. Alguém precisa contar à presidente que não estamos ainda no inverno. Que ao menos em São Paulo o outono está quente.

E a dengue vai bem, obrigado.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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