Fica combinado assim

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Nos tempos em que a Seleção brasileira tinha ao menos quatro craques disputando cada posição, a deputada Conceição da Costa Neves, rainha da Assembléia paulista, definiu o Legislativo. “É o retrato do Estado. Tem honesto, tem ladrão, tem sábio, tem ignorante. Só não tem bobo, porque bobo não chega aqui”.

Mas as coisas mudaram. Geraldo Alckmin, que chegou a governador de São Paulo, deixou sua PM acreditar que o Movimento Passe Livre faria uma passeata sem baderna, e retirou o policiamento da rua. Resultado: os black-blocs de sempre, como sempre, fizeram as depredações de sempre. E o noticiário, como sempre, disse que os manifestantes eram pacíficos mas foram infiltrados, tadinhos.

Lula chegou à Presidência e fez sua sucessora. Foi o grande responsável por trazer a Copa ao Brasil. Dilma disse que essa Copa era para o povo brasileiro. Aconteceu o que aconteceu: Dilma foi vaiada na abertura da Copa, com transmissão por rede mundial de TV, e tanto ela quanto Lula jogaram a culpa no público. No estádio, só haveria torcedores brancos e ricos (como, acreditam, Joaquim Barbosa), gente que nunca trabalhou, nunca pegou numa enxada. Ou seja, os Governos Lula e Dilma aplicaram dinheiro público (R$ 8 bilhões, em seu próprio cálculo) para proporcionar à elite branca, endinheirada e, horror dos horrores, paulistana, a possibilidade de assistir a uma Copa num estádio magnífico como o do Corinthians. Que, a propósito, sem Lula não teria sido feito.

Alckmin e Lula acham que acreditamos. Bobos não são. São é muito espertos.

Dúvida vegetal

Depois da passeata do Movimento Passe Livre, Alckmin é chuchu ou banana?

O xadrez da sucessão

Há quem diga que Geraldo Alckmin, do PSDB paulista, candidato à reeleição, ofereceu a vice ao PSB, de Eduardo Campos. Não é bem assim: Alckmin ainda pode fechar com Gilberto Kassab, o cacique do PSD, que até agora apoia a reeleição de Dilma.

A proposta é boa: Kassab como vice do favorito Alckmin (e, como Alckmin não pode disputar mais uma reeleição e tentará outro cargo, ele ficaria meio ano no Governo e se fortaleceria para a eleição seguinte) e Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central no Governo Lula, para vice do tucano Aécio Neves. Meirelles tem a confiança dos empresários e a fama de bom presidente do Banco Central (Lula cansou de indicá-lo a Dilma para a Fazenda). Se a manobra der certo, fortalece Aécio e lhe dá o tempo de TV do PSD. Mas só vale como jogo casado: Kassab ganha a vice de Alckmin se Aécio ganhar o PSD.

Banda larga e molhada

A presidente Dilma, falando na terça-feira em União da Vitória, Paraná, onde há chuvas fortes e inundações, garantiu que o Exército tem “um bote de fibra ótica” para ajudar o Estado a enfrentar as enchentes. Deve tratar-se de uma inovação sensacional, explosiva: jamais as fibras óticas foram usadas para fazer barcos. Talvez o tal bote tenha conexão permanente com a Internet, em altíssima velocidade, para que os flagelados saibam rapidamente que não vão ter ajuda.

Talvez Dilma tenha se enganado de fibra: a fibra de vidro seria mais adequada. Talvez se refira à fibra dos soldados que ajudam a população. Mas, nesse caso, e o bote? Talvez seja o bote de serpente da elite branca. Uns venenosos!

Os números da eleição

Pesquisa eleitoral? Sim, é importante, mas se fosse decisiva não seria preciso realizar a votação. Pesquisa ajuda a equipe dos candidatos a planejar seus próximos passos, é fundamental na captação de recursos, essas coisas. Mas o que decide eleições, já ensinava o principal assessor eleitoral de Bill Clinton, James Carville, é a economia.

E como está a economia? Em maio, a indústria paulista demitiu 12.500 funcionários, o maior número desde que o levantamento começou a ser feito, em 2006. “Maio foi particularmente ruim”, diz o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini. Neste ano, calcula Francini, a indústria paulista deverá eliminar 40 mil empregos.

A solução do Senado

Os computadores do Senado passaram a semana sofrendo ataques de hackers. Como agir?

Como sempre: o Senado suspendeu o expediente na sexta, para não atrapalhar a equipe que instalou novo programa de proteção. Até agora, só os senhores senadores suspendiam o trabalho às quintas. Os demais funcionários do Senado, como os demais assalariados do país, trabalham também na sexta.

Calma, calma

Lembra da CPMI da Petrobras, aquela comissão parlamentar mista de inquérito que era para investigar tudo? A reunião deveria ter ocorrido na quarta, mas foi adiada por falta de quorum – não havia Excelências suficientes para o trabalho.

Mas o taxímetro vai correndo: o custo da CPMI está estimado em R$ 250 mil.

Faça-se justiça

A FIFA decidiu que seu presidente, Joseph Blatter, candidato à reeleição, entregará a taça ao campeão da Copa 2014, no Maracanã.

Errado: quem trouxe a taça ao Brasil, o presidente Lula, quem trabalhou por ela nos últimos quatro anos, a presidente Dilma, merecem esta honra e os aplausos da torcida. É justo!

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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