Contadora do doleiro da Lava-Jato, Meire Poza deveria ter sido presa durante depoimento na Câmara

meire_poza_02Audácia desmedida – Dona da empresa de contabilidade que até recentemente prestava serviços ao esquema criminoso de Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, Meire Bonfim da Silva Poza, que estampa a capa da mais recente edição da revista veja, compareceu ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (13) para dar detalhes do envolvimento de Luiz Argôlo, deputado federal pela Bahia, e o doleiro.

De acordo com Meire Poza, Argôlo não apenas era cliente de Youssef, mas também seu sócio em empresas que integravam a estrutura financeira que pode ter movimentado muito mais do que o montante ilegal descoberto no escândalo do Banestado, no qual o doleiro foi um dos protagonistas.

Muito bem orientada por advogados e aproveitando mais um pouco o repentino estrelato, a contadora fez declarações incisivas, mas não escondeu que está gostando desses momentos de celebridade, situação que contou com salamaleques disparados pelos integrantes do Conselho de Ética.

Que o Brasil precisa ser passado a limpo todos sabem, mas não se pode cair na esparrela de uma contabilista que durante anos a fio colaborou para que Alberto Youssef avançasse em suas ilegais incursões. Meire Poza disse que na conta bancária de sua empresa passaram vultosas quantias em dinheiro, as quais eram imediatamente repassadas ao doleiro. Isso é motivo mais que suficiente para a Justiça Federal requerer a prisão da contadora, que agora vem recebendo mimos por parte das autoridades que investigam os desdobramentos da Operação Lava-Jato. Trata-se de associação para o crime, o que está previsto no Código Penal Brasileiro.

Um peso, duas posturas

Meire Poza disse que foi apresentado ao doleiro por Enivaldo Quadrado, um dos então proprietários da corretora Bônus-Bonval, uma das lavanderias financeiras do escândalo do Mensalão do PT. Quadrado, para quem não se recorda, foi preso pela Polícia Federal no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, por carregar elevada quantia de dólares e euros junto ao corpo. Na ocasião, Enivaldo Quadrado vinha da Europa e trazia dinheiro para José Janene, já falecido, soma que seria supostamente usada na locadora de veículos da família, com sede em Londrina.

Apenas para lembrar, a Operação Lava-Jato surgiu a partir das denúncias feitas, ainda em 2009, pelo empresário Hermes Magnus e o editor do ucho.info, jornalista Ucho Haddad. Sem saber inicialmente que o aporte financeiro em sua empresa de tecnologia estava sendo operacionalizado pelo esquema criminoso de Alberto Youssef e José Janene, o empresário denunciou a dupla tão logo identificou o primeiro sinal de ilegalidade.

É imensurável a diferença entre a postura de Hermes Magnus e a da contadora Meire Poza. O empresário, que não é um especialista em questões fiscais, não hesitou em denunciar as ilegalidades e procurar ajuda junto a este site. O que confirma mais uma vez a sua atitude patriótica e corajosa de denunciar o que no seu entendimento estava muito além dos limites da lei. No contraponto, a contadora, que por força de ofício tem o dever de saber distinguir o legal do ilegal, somente procurou a Polícia Federal no começo de julho passado, quando percebeu que sua situação poderia complicar da noite para o dia.

Essa conduta oportunista de Meire Poza não pode receber apoio de parlamentares e autoridades, pois o que essa senhora busca, na verdade, é uma espécie de habeas corpus emocional, algo que no seu plano contaria com o apoio da opinião pública, Quando afirmam que Meire está a prestar um grande serviço ao País, os parlamentares do Conselho de Ética da Câmara não apenas erram de forma grosseira, mas exibem uma miopia crescente diante do que determina a legislação vigente no País.

Meire Poza, a contabilista que agora se revela uma excelente contadora de histórias, cometeu crimes em sequência ao acobertar e participar do esquema do doleiro Youssef. Em qualquer país minimamente sério e com autoridades responsáveis, Meire teria deixado a Câmara dos Deputados algemada. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde reina o Direito saxônico, a contabilista do doleiro já estaria presa pelo crime de conspiração contra o Estado. Afinal, ela foi diretamente conivente com a emissão de notas fiscais de empresas de fachada, criadas para movimentar o dinheiro da corrupção e os recursos públicos desviados.

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