Políticos pegam carona na tragédia que matou Eduardo Campos e embarcam no voo da hipocrisia

eduardo_campos_16Sordidez política – No primeiro dia do enfadonho horário eleitoral, os programas dos principais candidatos prestaram homenagem a Eduardo Campos, então presidenciável do PSB que morreu em acidente aéreo na cidade de Santos, no litoral paulista, no último dia 13 de agosto. Enquanto os partidos tentavam “vender” ao eleitorado uma postura politicamente correta, o PSB continuava pegando carona na comoção que tomou conta do País desde os primeiros instantes após a confirmação da morte das sete pessoas que estavam a bordo do Cessna Citation 560 XL, prefixo PR-AFA, que despencou sobre o bairro santista do Boqueirão.

Como se não bastasse ter transformado o funeral de Eduardo Campos em um ato político e de campanha, o PSB esticou ao máximo o cenário oportunista que passou a pilotar desde a última quarta-feira (13), sempre na esteira do suspense e da especulação sobre quem assumiria a candidatura presidencial da legenda, o mesmo acontecendo em relação à escolha do candidato a vice.

Com a confirmação não oficial de Marina Silva como cabeça de chapa, o que aconteceu somente nesta terça-feira (19), as apostas sobre o candidato a vice passaram a recair sobre Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco. Filiada ao PSB e reconhecidamente ativa nos bastidores políticos, Renata resistiu à pressão, mas poderá assumir a presidência nacional da legenda em dezembro próximo.

Como se sabe, Marina Silva já tinha decidido abandonar Eduardo Campos em futuro próximo, até porque ambos divergiam sobre diversos assuntos, inclusive na seara das coligações estaduais. Apesar de o PSB negar essas divergências de bastidor, Marina sempre esteve mais esquerda do que Campos, o que poderia comprometer no futuro essa aliança político-eleitoral apenas porque o Rede Sustentabilidade, partido criado pela ex-ministra do Meio Ambiente, tropeçou no Tribunal Superior Eleitoral.

O PSB viu nos últimos dias uma reviravolta nas pesquisas de intenção de voto, mas não se pode ignorar o fato de que essa ascensão se deu na esteira da comoção, que deve durar no máximo mais duas semanas. Depois disso, Marina Silva será obrigada a mostrar a que veio, pois do contrário assistirá a uma nova mudança na corrida ao Palácio do Planalto.

A carona que os políticos tentam pegar na imagem de Eduardo Campos é algo tão acintoso quanto o oportunismo que aterrissou no PSB. Enquanto a ex-primeira-dama de Pernambuco tenta substituir, pelo menos no momento, a figura política do marido, alguns irresponsáveis fazem declarações mentirosas sobre a relação com Eduardo Campos. É o caso de Luiz Inácio da Silva, que no programa eleitoral do PT disse que tinha com Campos um “afeto de pai e filho”.

Há quem diga que amizade é uma coisa, política é outra, mas esse discurso de ocasião serve apenas para camuflar a canalhice existencial de muitos. Depois que desembarcou do governo petista e decidiu concorrer à Presidência da República, Eduardo Campos sentiu na pele a peçonha de Lula e Dilma.

O mesmo erro cometeu o presidenciável Aécio Neves, do PSDB, que no horário eleitoral tentou entrar no vácuo da tragédia que tirou a vida de Campos. Disse o tucano: “Colocar em práticas as ideias e ideais que tínhamos em comum será a melhor forma de celebrar a vida do pai, amigo, marido e brasileiro que foi Eduardo Campos”.

A política é movida por dois conhecidos vetores, a mitomania e a hipocrisia, mas a exploração política do acidente que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas há muito ultrapassou os limites do bom senso.

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