Os princípios, os fins, os meios

Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09Princípios? Deixa pra lá. Beto Albuquerque, ligado ao agronegócio, é vice de Marina, que prefere a floresta como ela é. E ambos estão no Partido Socialista de Paulo Bornhausen, da mais tradicional oligarquia catarinense, para quem até há pouco a palavra “socialista” era usada apenas como xingamento. Dilma, que considera Fidel Castro um personagem quase tão importante quanto Lula, que foi presa e torturada pela ditadura, está aliada a José Sarney, que foi presidente do partido de apoio à ditadura e que só tem em comum com Fidel Castro a predileção por um tipo de roupa – a farda, até há algum tempo, para um; o fardão, até hoje, para outro. Aécio, o pragmático, que herdou do avô Tancredo a aversão às ideologias, tem na vice um ex-guerrilheiro comunista, ligado a seu adversário Serra – de quem agora gosta, mas preferiria bem-passado e com maçã na boca.

Há três bons motivos pelos quais os candidatos esquecem seus princípios: primeiro, porque nunca foram assim tão radicais; segundo, porque os fins a que se propõem (defesa do bem e combate ao mal, apoio à saúde e rejeição à doença, e outras platitudes) são tão importantes para o país que os princípios, tadinhos, têm de ser flexibilizados. O terceiro motivo é o mais importante: para fazer campanha à vontade, gastando o que for preciso, é necessário obter os meios. Pela abundância de meios, políticos fazem boi voar e passarinho devorar o gato. Para eles, fora do poder não há salvação (embora sempre dêem um jeito de salvar-se).

Para nós, cidadãos, estando eles dentro ou fora do poder, salvação não haverá.

Termômetro

O boato é de que o acompanhamento diário pelos partidos da tendência dos eleitores (tracking) coloca Marina à frente de Aécio no primeiro turno e de Dilma no segundo. Já no início desta semana sai a pesquisa Ibope, que mostrará como estão as coisas.

Mas um fato não pode ser esquecido: Romero Jucá, que foi líder de Fernando Henrique e líder de Lula, senador cuja maior virtude é jamais pular em piscina vazia, apoia Aécio. Isso deve querer dizer alguma coisa.

A aposta

Paulo Maluf apostou com o empresário Washington Cinel uma caixa de vinho francês, daqueles de preço estratosférico, na vitória de Dilma no primeiro turno.

Cozinheira experienta

Dilma cozinha no horário gratuito. Dizem que assa uma pizza como ninguém.

Tristeza compartilhada

Não, caro leitor, nós não somos as únicas vítimas do horário eleitoral gratuito. As emissoras de TV aberta, embora muito bem remuneradas pelo tempo desperdiçado, terão um trabalhão para recuperar a audiência que estão perdendo para os canais pagos, livres da obrigação de transmitir a chatice. De acordo com o Ibope, a TV paga dobrou de audiência nos primeiros dias. Somados, os canais a cabo quase igualaram os números da Rede Globo. E esta é uma das fases de melhor desempenho do horário gratuito, o início, quando o público toma conhecimento dos candidatos (a outra é no final, já pertinho das eleições). Entre uma e outra, há uma barrigade audiência, em que aumenta o desinteresse do público.

Literatura eduardiana

Da ótima coluna de Fernando Albrecht, do Jornal do Comércio e da Bandeirantes de Porto Alegre (www.fernandoalbrecht.com.br), sobre Eduardo Campos: “Os últimos acontecimentos fizeram com que eu revolvesse da minha memória citações de dois ilustres personagens. Uma é de Augusto Comte, o filósofo que criou o Positivismo: ‘os vivos são cada vez mais e necessariamente governados pelos mortos’. Já o nosso Barão de Itararé tinha uma variante: ‘Os vivos são governados cada vez mais e necessariamente pelos mais vivos’. Não há – houve – exemplo melhor para mostrar a hipocrisia não só de dirigentes partidários como também de políticos de todos os níveis e tendências que só sabiam falar mal de Eduardo Campos quando vivo e que agora o colocam no panteão dos heróis. Não tem frase que se encaixe melhor do que esta do Machado de Assis para definir o espírito dos muito vivos: ‘Está morto: podemos elogiá-lo à vontade’”.

Lava mais branco

Antes da realização da concorrência para limpeza de escolas municipais paulistanas, o jornal O Estado de S.Paulo revelou que os vencedores já estavam escolhidos, registrou a lista em cartório e enviou-a ao Ministério Público. A concorrência foi cancelada. E que é que aconteceu?

Vamos ver se o caro leitor conhece o Brasil: as empresas foram contratadas do mesmo jeito, emergencialmente, pelo prefeito petista Fernando Haddad, e vão trabalhar normalmente até que se realize nova licitação – que, espera-se, será decidida só depois de comparados os preços. Não é um belo prêmio para empresas suspeitas de formação de cartel?

Boa promessa

O senador Cyro Miranda (PSDB-Goiás), enviou esclarecimento ao jornalista Paulo Renato Coelho Neto, da revista virtual Top Vitrine (www.topvitrine.com.br), de Campo Grande, negando que esteja em estudos uma reforma radical do Português escrito. Segundo o senador, presidente da Comissão de Educação e Cultura, o trabalho é apenas de unificação ortográfica, conforme acordo de 1990 com Portugal. Ainda bem!

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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