Entrevista do presidente do grupo Odebrecht é uma afronta ao País e revela o viés espúrio do poder

marcelo_odebrecht_01Óleo de peroba – A forma como o brasileiro trata e acompanha o desenrolar da política preocupa sobremaneira, uma vez que fatos escabrosos ocorrem à luz do dia sem que a sociedade esboce qualquer reação. Como tem insistido o ucho.info ao longo dos anos, o Brasil está nas mãos de um punhado de políticos de conduta questionável, a exemplo do que mostram os muitos escândalos, recebendo ordens expressas de empresários “pesos-pesados” que ditam as regras e decidem o futuro do País, como se a nação pudesse ser refém dos interesses negociais de uma minoria inescrupulosa.

Na entrevista concedida ao jornal “Folha de S. Paulo”, publicada na edição de domingo (31), Marcelo Odebrecht, um dos mais poderosos empresários do País, disse que é obrigação do empresariado tentar influenciar as decisões do governo. “Sendo legítimo e transparente, não vejo nada demais em defender pontos que muitas vezes a gente conhece melhor do que qualquer um”, disse Odebrecht ao jornal.

Trata-se de declaração irresponsável, cujo objetivo explícito é minimizar os efeitos danosos da convivência espúria entre governantes e empreiteiras, algo que nas últimas décadas vem devastando o Brasil e a dignidade dos cidadãos. Fosse para os empresários influenciarem os ocupantes do Poder Executivo, os eleitores escolheriam os donos de empreiteiras como seus representantes. Com a entrevista, Marcelo Odebrecht busca manter seus negócios bilionários e a forma como os mesmos são contemplados pelo Palácio do Planalto, assunto que há muito é tema de discussões em todo o País.

O sócio e presidente do grupo Odebrecht, que tem inúmeras e variadas ligações (algumas inexplicáveis) com o Estado, como um todo, é contra o fim das doações de campanha feitas por pessoas jurídicas aos candidatos. Até porque isso cessaria a bisonha e nefasta via de mão dupla que se estabeleceu entre o capital e a política.

Na entrevista, Marcelo Odebrecht falou sobre diversos temas – reformas política, trabalhista, tributária e previdenciária; doações de campanha; democracia; ingerência no Executivo; reajuste dos preços dos combustíveis; investimento em infraestrutura – mas sequer mencionou o fato de o seu grupo deter o controle do setor petroquímico do País, um dos mais importantes e rendosos filões da economia. Afinal aproximadamente 80% do petróleo extraído destinam-se à indústria petroquímica.

Um dos maiores escárnios da história nacional, que só foi possível com a anuência irresponsável e passiva de Luiz Inácio da Silva, Dilma Rousseff e José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras, foi a entrega do monopólio do setor petroquímico ao grupo Odebrecht, que fatura bilhões de reais por ano com um negócio altamente lucrativo e sem concorrência. As poucas e pequenas empresas que também atuam no setor, além do grupo Odebrecht, sequer fazem sombra ao conglomerado empresarial que tem sede na Bahia de todos os santos. E os nada santos também.

Em seus recentes discursos de campanha, a presidente Dilma Vana Rousseff, que tenta a reeleição, tem dado excessivo destaque ao pré-sal, assunto que vem sendo incensado como o passaporte dos brasileiros para o futuro. É importante lembrar que o petróleo que será extraído da camada pré-sal e processado atenderá, em sua maioria, ao setor petroquímico, que como mencionado anteriormente nesta matéria consome 80% do chamado ouro negro.

No momento em que o modelo político brasileiro vem sendo largamente discutido na campanha eleitoral, inclusive com possibilidade de derrotas fragorosas nas urnas, Marcelo Odebrecht surge em cena para posar de bom moço, mas se esquiva de comentar a forma como a Petroquímica Triunfo, no Rio Grande do Sul, foi parar nas mãos da Braskem, empresa do grupo Odebrecht que domina o setor.

A Triunfo foi alvo de uma manobra rasteira da Petrobras, que mesmo com decisão judicial indicando que a parte da estatal na empresa petroquímica deveria ser vendida ao acionista minoritário. Em dado momento, a Petrobras desistiu de vender sua participação majoritária na Triunfo, alegando questões estratégicas, mas acabou entregando seu quinhão ao grupo Odebrecht, que como sempre opera pesado nos bastidores do poder.

O caso da entrada da Braskem no negócio contou com o apoio estranho não apenas de Lula, Dilma e Gabrielli, mas também com o então diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato e que encontra-se na carceragem da corporação, em Curitiba. A venda do controle acionário da Petroquímica Triunfo para o grupo Odebrecht foi uma expropriação mal camuflada, ocorrida em maio de 2009, que obrigou os minoritários a deixarem a empresa por conta das muitas e sórdidas manobras adotadas com o conhecimento do Palácio do Planalto. Como se sabe, há escândalos milionários que reúnem a Odebrecht e a Petrobras que estão sob investigação.

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