Abacate dá tomate e vai virar limão

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Como disse o Governo Federal, em 30 de maio, a Copa iria ajudar o PIB do Brasil a ser maior. Como disse o Governo Federal, em 29 de agosto, a Copa tem parte da culpa pelo PIB negativo. Em ambos os casos, o porta-voz foi o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele, que está no cargo há oito anos, sob Lula e sob Dilma, certamente sabe o que fala: fala aquilo que a presidente o manda falar.

Faz parte. O que é bom a gente conta, o que é ruim a gente esconde. Mas justamente Dilma acusa Marina de mudar de opinião? Pois é – e tem razão. Marina odiava o agronegócio e, há poucos meses, impediu a aliança de Eduardo Campos com Ronaldo Caiado. Marina ama o agronegócio e seu vice é Beto Albuquerque, um Caiado gaúcho. Marina amou o PT, rompeu com o PT, e seu marido foi secretário do Governo petista do Acre até uns dias atrás. Saiu quando descobriram.

Só Aécio é coerente? Sim: Aécio faz apenas o que acha bom para ele. Largou Serra e Alckmin sozinhos, hoje adoraria tê-los a seu lado. Amava Eduardo Campos de paixão, ambos jovens, amigos; foi gentil com Marina até que ela o atropelasse nas pesquisas Agora acusa Marina, a sucessora de Eduardo, de plagiar programas do PSDB – como se algum partido tivesse programa. Há aecistas que chamam Marina de melancia: verde por fora, vermelha por dentro. Só falta acusá-la (e nisso teriam razão) de querer ocupar o espaço tucano em cima do muro.

Faz sentido? Não. Refazenda também não faz e foi um tremendo sucesso de Gilberto Gil – sim, Gil, aquele que foi ministro de Lula e hoje apoia Marina.

Como é o nome dela?

Dilma esteve em Pernambuco para buscar os votos que tinha nos tempos em que era aliada de Eduardo Campos. Foi uma viagem esquisitíssima: a convocação do PT nem citava o nome da presidente (“Hoje é dia de vermelho; tem Lula em Petrolina”). A música-tema era o Lula-lá, composta por Hilton Acióli para a campanha de Lula em 1989. Nenhum jingle de Dilma nem da campanha atual.

Números, números, números

Para quem acredita que pesquisa é anabolizante de candidaturas, dose dupla: na terça, devem sair os novos levantamentos do Datafolha e da CNT-MDA sobre as eleições presidenciais. Encerrada a fase de beatificação de Eduardo Campos, após o acidente, será possível medir com mais precisão quem tem o que em termos de intenções de voto, e quais as perspectivas de evolução dos candidatos.

Foi mas não é

Um dos principais adversários do atual Governo petista é um petista tradicional, dos tempos de criação do partido, militante, ativista: o professor Ildo Sauer, ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras. Sauer critica Lula e Dilma por aceitar indicações de partidos para cargos técnicos apenas para ganhar apoio; diz que o argumento de Dilma, de que apoiou a compra da Refinaria de Pasadena pela Petrobras por basear-se num resumo mal feito, é “piada”; e lembra que Dilma “procura um culpado sempre que acontece um problema”. Sauer, respeitadíssimo na área energética, diz também que o relacionamento entre o pessoal técnico da Petrobras e a presidente é tenso.

Sauer é um adversário perigoso para o Governo petista porque não faz acusações: só conta como as coisas funcionam.

Inverno quente

As investigações do Congresso estão paralisadas porque todo o Congresso está paralisado, Suas Excelências dedicando-se exclusivamente á campanha eleitoral. Mas as investigações da Polícia Federal na Operação Lava Jato, tendo como centro Alberto Youssef, acusado de ser doleiro e de promover lavagem de dinheiro, continuam a avançar.

O leque dos envolvidos ainda está se ampliando.

Temperatura máxima

Se o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa fizer mesmo o acordo de delação premiada, muita gente importante poderá ser atingida pelos estilhaços das reputações detonadas. Mas, fora isso, já há muita coisa explosiva que ainda não apareceu nas reportagens. Há parlamentares citados (e os nomes só não apareceram para evitar que a investigação inteira vá para o Supremo), há dezenas de contratos com grandes empresas, há manifestações de interesse de laboratórios no sal da Sibutramina, cuja venda era restrita e que acaba de ser, sob protestos da Anvisa, bem facilitada (a sibutramina é moderadora de apetite).

É muita, muita coisa – tanta que, se os envolvidos tiverem sorte, o escândalo será tamanho que a repercussão das denúncias acabará sendo menor que a prevista.

Comentando

Notícia da coluna de Ancelmo Gois em O Globo, sob o título Salve ele: “O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, esteve no fim de semana com Antônio Cândido, de 96 anos. Ficou impressionado com a disposição e a memória do grande crítico literário”.

Ancelmo nada disse a respeito da impressão de Antônio Cândido sobre a disposição, a memória e outras características do prefeito Fernando Haddad.

O nome do fenômeno

Do jeito que a coisa vai, a candidata sonhática Marina Silva já pode lançar seu novo slogan: “Chega de intermediários. Para presidente, pastor Silas Malafaia”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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