Fechando o cerco – Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama fará alerta claro na próxima quarta-feira (24), quando presidir reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ele quer chamar a atenção da comunidade internacional para o que considera um tema fundamental.
Obama já fez isso cinco anos atrás, quando foi o primeiro presidente dos EUA a presidir uma sessão do Conselho de Segurança e falou sobre desarmamento nuclear e não proliferação do arsenal atômico – temas centrais no início de sua presidência. Desta vez, Obama vai ressaltar a ameaça imposta aos países-membros da ONU pelos extremistas estrangeiros que aderem ao “Estado Islâmico” (EI) e outras organizações terroristas.
Assim como em 2009, ele quer usar a reunião para forçar uma resolução do Conselho de Segurança – daquela vez para reafirmar a meta da ONU de um mundo livre de armas nucleares, desta vez para tomar iniciativas no combate aos jihadistas. Como daquela vez, Obama espera que a resolução apresentada pelos EUA seja aprovada por unanimidade: 15 votos a zero.
É bem possível que isso aconteça. “É uma vitória diplomática fácil e que causa boa impressão, porque, obviamente, todos no Conselho de Segurança têm interesse na aprovação de uma resolução dessas”, observa Faysal Itani, especialista em Oriente Médio do Atlantic Council (organização criada em 1961 para promover a cooperação entre a Europa e os Estados Unidos). “É difícil discordar disso, em princípio”, diz.
Sem vetos por parte da Rússia
Até mesmo a Rússia, que costuma obstruir resoluções, deverá apoiar a proposta desde que ela não envolva seu aliado, a Síria. “Os russos devem estar muito preocupados, pois existem muitos jihadistas da Chechênia, assim como de outras partes da Rússia, que aderiram ao EI”, afirmou à DW o professor de Relações Internacionais da Universidade de Lehigh, Henri Barkey.
“Obstruir não é do interesse da Rússia, porque, de algum modo, isso também ajuda a narrativa russa de que o regime de Assad na Síria é a única coisa que separa os jihadistas da civilização. Assim sendo, qualquer resolução que condene os jihadistas, mas não os sírios, deverá ser bem recebida”, avalia Barkey.
De acordo com a agência de notícias Reuters, que teria obtido um esboço da resolução, o documento visa obrigar os países a prevenir e combater o recrutamento de jihadistas internacionais por organizações como o EI. Isso seria feito por mudanças nas legislações nacionais, que deveriam penalizar o recrutamento com rigor.
A resolução proíbe pessoas de viajar, arrecadar fundos ou ajudar outros a viajar para o exterior sempre que houver o propósito de perpetrar, planejar ou participar de ações terroristas, ou de fornecer ou receber treinamento terrorista. Segundo funcionários do governo americano, cerca de 15 mil combatentes estrangeiros de 80 países se uniram ao EI, e em torno de 2 mil seriam ocidentais.
A resolução é de implementação obrigatória por parte de todos os 193 países-membros, de acordo com o capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que permite ao Conselho de Segurança determinar a existência de qualquer ameaça à paz e o autoriza a impor decisões por meio de sanções econômicas ou uso da força. O documento, no entanto, não implica que os países-membros tenham de movimentar recursos militares para combater os jihadistas.
Mensagem para a Turquia
Enquanto Obama usa o Conselho de Segurança como púlpito para a intimidação, a mensagem, na verdade, é endereçada a um aliado próximo dos americanos que, no momento, não faz parte do órgão mais poderoso da ONU: a Turquia. “Imagino que o alvo verdadeiro aqui seja a Turquia porque existe a percepção de que o país está sendo pouco rigoroso e irresponsável na maneira como lida com os fluxos de jihadistas estrangeiros”, diz Itani.
A Turquia estava até há pouco numa situação delicada, uma vez que o EI mantinha, desde junho, 49 cidadãos turcos reféns, o que limitava as possibilidades e a motivação da Turquia para tomar iniciativas contra os jihadistas na Síria e no Iraque. Relatos da imprensa turca afirmam que Ancara não permitirá que os EUA e a Otan usem bases militares em território turco para atacar o EI.
Para Barkey, a postura do governo turco é apenas uma parte do problema. “Existe hoje na Turquia uma infraestrutura muito importante do EI, que se criou ao longo do último ano”. Esta consiste em abrigos e redes de apoio para arrecadar fundos e tratar de combatentes feridos. “Essa infraestrutura precisa ser desmantelada.”
Os especialistas avaliam que o governo turco vai apoiar publicamente a resolução do Conselho de Segurança, mas estão pouco convencidos de que o país vai de fato implementá-la. Além disso, ambos questionam se resolução poderá trazer qualquer mudança significativa, além de alertar o mundo sobre o problema da movimentação dos combatentes extremistas.
“Essa será uma luta muito longa, que deverá levar muitos e muitos anos”, diz Barkey. “Não será uma resolução do Conselho de Segurança que vai resolver o problema. Acredito que a ajuda que ela poderá providenciar será apenas marginal.”
Itani acrescenta que a resolução não é completamente inútil, mas ela deixa claro que essas são as coisas fáceis de serem implementadas. “É relativamente fácil usar meios financeiros contra o terrorismo e tentar impedir que as pessoas migrem para a Síria e retornem”. (Deutsche Welle)