No ano que vai nascer

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Que tudo se realize, diz nossa canção tradicional de Ano Novo. E com muito dinheiro no bolso. Pois isto, caro leitor, já está sendo providenciado com carinho.

Os novos ministros, por exemplo, vão ganhar o suficiente para viver tranquilos. O salário é de uns R$ 30 mil, fora carro, casa, motoristas, cartão corporativo. Mas as excelências – ao menos as mais excelentíssimas – têm ainda complementos, como pagamento por participação nos conselhos de estatais. A Itaipu paga R$ 20 mil por mês, com seis reuniões por ano. A ministra do Planejamento, Míriam Belchior, recebe uns R$ 47 mil mensais, entre salário e jetons da Petrobras e da BR Distribuidora. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem o salário mais uns R$ 21 mil do BNDES. Jaques Wagner, nomeado para a Defesa, vai ganhar, além do salário, mais R$ 19 mil como governador da Bahia aposentado (a lei foi assinada por ele mesmo), mais R$ 10 mil como deputado federal aposentado (com oito anos de mandato). Dá quase R$ 60 mil por mês.

Deputado é gente boa e defende a fraternidade. Por isso, a bancada federal paulista, com 70 deputados de sabe-se lá quantos partidos, destinou a verba de meio bilhão de reais (sim: R$ 500 milhões) para a compra de uma nova sede para o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo – a propósito, Justiça Eleitoral é coisa tipicamente brasileira, que não existe em outros países. São dois prédios novinhos, mais de 40 mil m², mais de mil vagas na garagem, a R$ 12.400,00 o m².

Os governantes não são egoístas, compartilham. Entre si, mas é um começo.

Lembrança incômoda

Os juízes da Justiça Eleitoral deverão o extremo conforto e o alto luxo de sua nova sede aos deputados cuja conduta muitas vezes lhes caberá julgar.

Fraternidade

Os partidos se enfrentam, ameaçam processar uns aos outros, insultam-se. Mas a briga tem limites. Nossos políticos, sempre fraternos, não querem deixar desamparados nem os adversários. Dos 27 Estados, há 21, dirigidos pelos mais diversos partidos, que pagam pensão a ex-governadores. A todos – hoje, são 104. E também às 53 viúvas de ex-governadores. Governo ou oposição, tanto faz: Agripino Maia, DEM, recebe R$ 11 mil mensais como ex-governador do Rio Grande do Norte. Jaques Wagner, PT, assinou a lei que lhe dá pensão. Roseana Sarney receberá R$ 24 mil como governadora aposentada, somando-se a isso os R$ 23 mil que recebe do Senado como funcionária aposentada.

Solidariedade

Há 28 partidos com representação na Câmara, que discordam sobre quase tudo. Menos sobre vencimentos e vantagens. Um deputado vai ganhar, a partir de amanhã, R$ 30 mil. Mas, somando-se às ajudas a que tem direito, seu custo mensal chega a perto de R$ 145 mil. São 513 deputados. É deputado demais – mas quem irá propor a redução desse número, prejudicando colegas queridos?

Vida nova

Há dois tipos de insatisfeitos com as escolhas de Dilma: os que acham que a presidente está corrigindo corretamente o rumo do Governo, mas ganhou a eleição mentindo; os que acham que a presidente perdeu o rumo e não cumpre o que prometeu na eleição. Nem sempre isso é verdade: Ricardo Berzoini nas Comunicações desagrada à oposição e agrada ao PT de raiz. Os petistas esperam que ele cuide da censura – ops, “controle social da mídia”.

E ele já mostrou como vê a imprensa: no dia da eleição, deu um soco no microfone do repórter do CQC. Quando ministro da Previdência, exigiu que velhinhos, muitos deles doentes ou inválidos, fossem em pessoa aos guichês da burocracia para provar que estavam vivos. Já o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é tucano até nas palavras: disse que o Tesouro “assumiu responsabilidades desproporcionais”.

Tucanou o rombo.

As exceções

Alguns nomes do novo Ministério provocaram reações unânimes – estarrecimento geral, como diria Dilma. George Hilton no Esporte, bem na hora da Olimpíada; Aldo Rebelo na Ciência e Tecnologia, ele que já apresentou projeto proibindo o Governo de adotar inovações tecnológicas que poupem mão de obra; Cid Gomes na Educação, depois de dizer que professor tem de trabalhar por amor, sem ligar para o salário.

E mais estarrecedor ainda é saber quem formará o núcleo da coordenação política do Governo: Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto, Jaques Wagner, Pepe Vargas e José Eduardo Cardozo.

Quem achou que o Ministério era fraco ainda não sabia quem seriam os coordenadores políticos.

A tosse da vaquinha

E, por falar em campanha eleitoral, Dilma disse que não mexeria nos direitos trabalhistas de jeito nenhum, “nem que a vaca tussa”. Isso virou lema de campanha.

O novo Governo ainda nem começou e já está explicando como é que os direitos trabalhistas serão cerceados, reduzidos e se tornarão mais difíceis de obter. Pois é: a vaca não apenas tossiu como parece até que está com coqueluche.

Festa popular

Ônibus fretados, militantes pagos para a posse. PT, quem te viu, quem te vê.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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