Terrorista recebeu treinamento em filial da Al Qaeda, que planeja ataques em massa

said_kouachi_02Pavio aceso – Francês de origem argelina, Said Kouachi, 34 anos, um dos suspeitos pelo ataque contra a redação do jornal parisiense Charlie Hebdo, esteve no Iêmen em 2011, onde recebeu treinamento de uma célula afiliada da Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP, na sigla em inglês) antes de voltar para a França, afirmou na quinta-feira (8) uma fonte do alto escalão do governo norte-americano, que ajuda as autoridades francesas na localização dos terroristas.

Said Kouachi teria permanecido “alguns meses” no Iêmen, quando foi treinado para operar armas de pequeno porte e melhorar a pontaria, além de outras habilidades militares que aparecem nos vídeos divulgados na quarta-feira (7).

O treinamento de Said ocorreu no período em que muitos jovens muçulmanos do Ocidente foram para o Iêmen, inspirados por Anwar al-Awlaki, clérigo radical islamita nascido nos Estados Unidos e que ganhou destaque nas ações da AQAP.

O funcionário do governo norte-americano também confirmou que Said, assim como seu irmão, Chérif Kouachi, estava no banco de dados dos Estados Unidos que monitora terroristas conhecidos (ou possíveis terroristas), além fazerem parte de uma lista que proibia ambos de viajar para o país.

Até o início da noite de quinta-feira, enquanto 88 mil policiais franceses patrocinavam uma intensiva caçada aos irmãos terroristas, agentes da inteligência do setor de contraterrorismo dos EUA tentavam esclarecer se a AQAP teria ordenado o ataque contra o jornal satírico francês. Desde os primeiros instantes após o ataque até o momento não há qualquer indício de que os irmãos Kouachi foram instruídos pelo grupo ou faziam parte de alguma célula terrorista da AQAP na França.

Em recente edição da revista “Inspire”, utilizada pela AQAP para fazer propaganda, o grupo incentiva seus seguidores a atacarem alvos ocidentais que eventualmente tenham insultado a fé islâmica. A revista também identificou o editor do Charlie Hebdo, Stéphane Charbonnier, o Charb, cujo nome foi citado em matéria de duas páginas sob o título “Bullet a Day Keeps the Infidel Away – Defend the Prophet Muhammad” (Uma bala por dia mantém os infieis afastados – Defenda o profeta Maomé, em tradução livre).

Perigo a caminho

Em outra ponta das investigações, que começaram muito antes do atentado de Paris, o chefe do MI5, serviço de inteligência do Reino Unido, revelou na quinta-feira (8) que o braço da rede Al Qaeda na Síria planeja “atentados em grande escala” no Ocidente.

Falando em Londres um dia após o sangrento e covarde ataque ao “Charlie Hebdo”, o diretor do MI5, Andrew Parker, alertou para o risco de atentados no Ocidente protagonizados por parte de combatentes vindos da Síria.

“Sabemos, por exemplo, que um grupo de terroristas fanáticos da Al-Qaeda na Síria planeja atentados em grande escala contra o Ocidente”, afirmou Parker.

As declarações do diretor do MI5 reforçam as informações iniciais de testemunhas do ataque na capital francesa, de que um dos terroristas teria dito que fazia parte da Al Qaeda do Iêmen.

As ameaças mais factíveis envolvem o grupo terrorista Estado Islâmico (EI), mas os jihadistas ligados ao braço sírio da Al-Qaeda constituem igualmente um risco, declarou Andrew Parker.

“Somos diariamente confrontados com complôs muito complexos e cada vez mais ambiciosos (…) da Al-Qaeda e de seus imitadores: tentativas de provocar perdas de vida em massa, por meio de ataques aos meios de transportes ou a objetivos simbólicos”, disse o diretor do MI5.

O grande enigma nessa onda de terror que está nos primeiros capítulos é identificar os nascedouros dos ataques, uma vez que o Ocidente cometeu o equívoco de armar os dissidentes sírios para lutar contra o ditador Bashar al-Assad, mas acabou abrindo flancos para o avanço dos criminosos do Estado Islâmico,que avançam a passos largos na Síria e no Iraque. De tal modo, torna-se cada vez mais difícil descobrir de onde podem partir os ataques.

“Apesar de nós e nossos parceiros fazermos o máximo, sabemos que não será possível deter todos”, advertiu Parker, que aproveitou a ocasião para destacar que, diante de u cenário de incertezas e barbárie, os serviços antiterroristas reforçaram a identificação e a vigilância sobre suspeitos.

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