Charlie Hebdo publicará caricaturas de Maomé na primeira edição após o atentado

charlie_hebdo_21De volta à carga – Após o atentado terrorista da última quarta-feira, que matou doze pessoas que trabalhavam no jornal, a equipe de sobreviventes do Charlie Hebdo quer mostrar que não ficou acuada. No próximo número, que sai na quarta-feira (14), o veículo publicará caricaturas do profeta Maomé, segundo o advogado do jornal, Richard Malka, em entrevista nesta segunda-feira (12) à Radio France.

“Nós não cederemos, senão nada teria sentido”, afirmou o redator Patrick Pelloux durante a mesma entrevista. A edição terá uma tiragem de um milhão de exemplares e será traduzida para dezesseis línguas.” Um dia após as manifestações que reuniram 4 milhões de pessoas na França contra o terrorismo e pela liberdade de expressão, os autores do próximo número continuam firmes na sua linha editorial. “Nós fazemos piada com tudo, com os políticos, as religiões, é um estado de espírito”, destacou Malka.

Em 2006, Charlie Hebdo havia reproduzido as caricaturas de Maomé publicadas originalmente pelo jornal dinamarquês “JyllandsPosten” e que haviam provocado violentos protestos no mundo muçulmano. Depois disso, o jornal foi alvo de um incêndio criminoso e de várias ameaças. Os dois jihadistas autores do massacre da última quarta-feira saíram gritando: “Vingamos o profeta. Matamos Charlie Hebdo”.

Para Malka, “não temos nunca o direito de criticar um judeu porque ele é judeu, um muçulmano porque ele é muçulmano, um cristão porque ele é cristão”. “Mas podemos dizer o que quisermos e os piores horrores sobre o cristianismo, o judaísmo e o islã, porque, além da unidade dos belos slogans, essa é a realidade do Charlie Hebdo”, completou.

A edição da quarta-feira será realizada unicamente por membros da equipe do jornal e não contará com colaboradores externos. Os sobreviventes, como eles se autodenominam, estão trabalhando em um espaço na sede do jornal “Libération”.

Histórico de polêmicas

O Charlie Hebdo tem uma história cheia de polêmicas desde a sua criação em 1970, como sucessor do jornal “Hara-Kiri”. Ele conservou o tom satírico do predecessor e continuou a criticar os poderes políticos e religiosos, usando caricaturas mordazes, crônicas e reportagens investigativas. François Cavanna (1923-2014), um dos fundadores do veículo, dizia que “o jornal não toleraria obstáculos a sua insolência”.

Devido a problemas financeiros, o Charlie Hebdo deixou de circular em dezembro de 1981 para ser relançado apenas em 1992, unindo chargistas veteranos e uma nova geração – que incluía Tignous e Charb, dois dos jornalistas mortos no ataque da quarta-feira (7). O partido francês de extrema direita Frente Nacional e todos os extremistas se tornaram os alvos favoritos do jornal. Devido às críticas irreverentes, o Charlie Hebdo foi processado diversas vezes na Justiça, mas era quase sempre absolvido, como em abril de 2010, em um processo movido por uma associação de extrema direita contra a edição “Spécial Pape” (especial Papa).

Caricaturas de Maomé

Mas é em 2006 que estoura o maior escândalo do jornal, com a publicação de caricaturas do profeta Maomé. Processado por diversos grupos, cujos maiores representantes foram a Grande Mesquita de Paris e a União de Organizações Islâmicas da França, o jornal foi absolvido. Para a corte, as caricaturas não representavam uma “injúria” contra os muçulmanos, mas uma crítica aos terroristas.

Em 2009, o jornal comemorou a sua 900ª edição com o novo título “Charlie 3” (terceira geração) e uma nova equipe, com Charb, morto no atentado, como diretor de redação. “Nós perguntamos o que temos que fazer para não indignar as pessoas”, afirmou ele, antes do lançamento do número “Charia Hebdo” com “Maomé como redator chefe”, em 2011. A edição provocou a ira de grupos islâmicos, e a sede do jornal foi alvo de um incêndio – com o lançamento de um coquetel molotov – sem vítimas. (Com RFI)

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