Lula chique

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_16De acordo com a versão da máquina oficial, Marta Suplicy detona o PT por se sentir sem espaço para disputar a Prefeitura de São Paulo. Põe divergências pessoais acima dos interesses partidários. Aliás, dizem, nunca foi muito petista. E o que busca é um pretexto para sair do PT sem perder o mandato de senadora.

Pode ser – desde que não se conheça Marta Suplicy. É petista de raiz, das que adoram Lula. Analisemos o que disse: que quis Lula candidato no lugar de Dilma, que a equipe econômica liderada por Guido Mantega não estava funcionando, que Aloizio Mercadante quer ser candidato à Presidência em 2018 (e apenas finge apoiar Lula, enquanto articula seu próprio nome). Deve ser coincidência – mas há algum tempo pessoas que conversam com Lula atribuem a ele críticas duras a Mercadante e a Mantega, e queixas de que Dilma não o ouviu quando recomendou a substituição do ministro da Fazenda. Marta diz que Lula a estimulou a integrar o movimento Volta, Lula, para fazê-lo candidato no lugar de Dilma; e depois recuou, talvez por achar que a troca de candidato seria ruim para ambos.

E que é que diz Lula? Nada – três dias depois do tiroteio de Marta, mantém-se no mais retumbante silêncio. O Instituto Lula diz, em tímida nota, que os dois se encontraram pela última vez em agosto – ou seja, dois meses antes da eleição, a tempo de discutir uma eventual troca de candidato. O tema foi discutido? A nota do Instituto Lula segue a diretriz atual do chefe supremo: o silêncio é de ouro.

A pergunta que não quer calar: não estará Lula falando pela voz de Marta?

Bombardeio

A máquina de destruição de reputações que o PT montou na Internet já está em ação contra Marta Suplicy. Juca Ferreira, o ministro da Cultura favorito de Pablo Capilé, aquele ativista do Fora do Eixo, disse que as críticas de Marta a ele foram como se tivesse levado uma bolsada de Louis Vuitton na cabeça.

O requinte do guarda-roupa de Marta sempre levantou alguma inveja no partido, mas agora o ataque é direto. Falta acusá-la de servir boa bebida em suas festas. Mas Marta gosta de briga. Atacá-la pode até deixá-la mais animada do que já está.

Dura na queda

Este colunista conhece Marta há quase 40 anos e, embora nunca tenha votado nela, sempre a apreciou como gente e a respeitou pela franqueza. Marta é combativa, guerreira, arrojada; não tem medo de cara feia; sua gestão como prefeita, embora marcada pelos aumentos de impostos (que levaram ao apelido Martaxa), teve pontos positivos, como os CEUs, escolas de tempo integral de ótima qualidade, e o bilhete único dos ônibus. É do tempo em os petistas enfrentavam com dureza os políticos que detestavam, e que hoje fazem parte do Governo Dilma.

Fale ou não em nome de Lula, Marta não deve ser subestimada. E, quando diz que Aloízio Mercadante é arrogante e prepotente, saiba: se ela acha, é.

Pátria Educadora

Sim, Dilma disse num dia que o lema de seu Governo seria Brasil, Pátria Educadora. E, na mesma semana, houve cortes no Orçamento federal. Os maiores cortes atingiram o Ministério da Educação. Mas a Pátria Educadora não é apenas a Educação: é também a Cultura. E o Museu Nacional, com 196 anos de história, maior instituição latino-americana de Antropologia e História Natural, fechou as portas ao público.

Motivo: há três meses a Universidade Federal do Rio de Janeiro não paga as empresas terceirizadas de limpeza e segurança. Os serviços foram paralisados e o museu não podia mesmo receber visitantes. Por que a UFRJ, subordinada ao Ministério da Educação, parou de pagar? Porque o Governo Federal parou de repassar as verbas para esses serviços. O salário de dezembro dos funcionários não saiu, nem o vale-transporte. E os R$ 4 milhões que prometeram liberar nesta semana não resolvem o problema.

É a Pátria Educadora em ação.

Futebol enlouquecido

Os clubes e a Confederação Brasileira de Futebol são entidades privadas, certo? Há controvérsias: quando a situação financeira dos clubes faz com que suas dívidas fiscais exijam sucessivas providências legislativas para que não fechem, é hora de patrulhar como usam o dinheiro. Há coisas estranhas no futebol brasileiro. O Corinthians contratou o volante Cristian, encostado num clube turco, e vai-lhe pagar mais de R$ 400 mil mensais. Cristian é bom? Nunca foi ótimo, mas ao deixar o Brasil, há cinco anos, era bom jogador. Passados seis anos, sabendo-se que num futebol pouco competitivo não tinha lugar, estará bem? Vale o gasto?

O Palmeiras contratou Dudu, jogador de 23 anos que fez certo sucesso no Grêmio. Dudu estava no Dínamo de Kiev, que também não é clube de primeira linha. Não despertou o interesse de clubes europeus. É jovem, veloz – por que é tão fácil trazê-lo? Talvez por ter feito apenas oito gols, como atacante, em 52 jogos pelo Grêmio? Vale R$ 19 milhões pelo passe, mais uns R$ 400 mil mensais?

Quem paga?

OK, se os clubes são privados, que cada um pague quanto puder para contratar jogadores adequados. Um jogador que leve a vitórias, que atraia público, merece ganhar muito. Mas isso vale desde que o dinheiro seja do clube, que o clube esteja em dia com seus impostos. Sem que esteja em dia, quem paga a conta?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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