“Há limites para a liberdade de expressão”, afirma o papa Francisco

(L. Yik Fei - Getty Images)
(L. Yik Fei – Getty Images)
Doses de coerência – O papa Francisco disse nesta quinta-feira (15) haver limites para a liberdade de expressão, pois nenhuma religião pode ser insultada ou motivo de piada – referência às costumeiras sátiras publicadas pelo semanário francês Charlie Hebdo.

O líder dos católicos falou sobre os ataques terroristas em Paris ao voar com destino às Filipinas. Como exemplo, ele se referiu a Alberto Gasparri, que organiza as viagens papais e estava a seu lado.

“Se meu amigo Dr. Gasparri xinga a minha mãe, ele pode esperar um soco. É normal. Não se pode provocar”, disse.

Para o papa, aqueles que falam mal ou zombam de uma religião são “provocadores”. “E o que acontece com eles é o mesmo que aconteceria com o Dr. Gasparri se xingasse a minha mãe. Há um limite”, afirmou.

Francisco reiterou que cada religião tem a sua dignidade, e que “a liberdade de expressão é um direito e um dever e precisa ser exercida sem ofender”.

Ao mesmo tempo, disse que “matar em nome de Deus é um absurdo” e que a religião nunca pode ser usada para justificar a violência.

Após o ataque de extremistas islâmicos na semana passada, o direito do Charlie Hebdo de publicar caricaturas do profeta Maomé entrou em debate. Alguns meios de comunicação optaram por não reproduzir as charges do semanário. Sua primeira edição após o atentado fez piada também sobre o papa.

Recentemente, o Vaticano e quatro imãs franceses emitiram uma declaração conjunta condenando o ataque, mas pedindo que a mídia trate as religiões com respeito.

Pensamento idêntico

O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, disse nesta quinta-feira que a liberdade de imprensa não é a “liberdade de insultar”. Ele qualificou a publicação de caricaturas do profeta Maomé de uma “grave provocação”. “A liberdade de imprensa não significa a liberdade de insultar”, destacou o primeiro-ministro, em Ancara, antes de partir para Bruxelas. Ele ressaltou que “não se pode aceitar insultos ao profeta”.

O primeiro número do jornal satírico Charlie Hebdo depois do ataque à redação na semana passada, tem na capa uma caricatura de Maomé, com lágrima no olho, segurando uma folha com a frase “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), a mesma que foi usada por milhões de pessoas que se manifestaram em defesa da liberdade de expressão. A capa tem como título “Tudo está perdoado”.

Radicalismo, violência e fé

Os talibãs afegãos condenaram nesta quinta-feira a publicação de novas caricaturas do profeta Maomé no semanário francês Charlie Hebdo e saudaram os autores do atentado praticado na última contra o jornal parisiense. Em comunicado, o Emirado Islâmico do Afeganistão, nome oficial dos talibãs afegãos, lamenta a publicação de novas caricaturas que, de acordo com o grupo, “provocam a sensibilidade de quase 1,5 bilhão de muçulmanos”.

Na última terça-feira (13), a principal autoridade islamita sunita no Egito, Al Azhar, antecipou que a publicação de novos desenhos representando o profeta Maomé no jornal satírico vai “incitar o ódio”. A publicação dos desenhos “vai incitar o ódio, não serve à coexistência pacífica entre os povos e impede a integração dos muçulmanos nas sociedades europeias e ocidentais”, destacou Al Azhar em nota.

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) considerou como “muito estúpida” a publicação de caricaturas do profeta Maomé na nova edição do Charlie Hebdo. Em boletim informativo da rádio do EI na internet, a Al Bayan, o locutor disse que o “Charlie Hebdo publicou caricaturas que mais uma vez dizem respeito ao profeta e essa é uma ação muito estúpida”. (Com agências internacionais)

Versão digital

A procura pela edição desta terça-feira do Charlie Hebdo foi tamanha, que, horas depois de a publicação ter esgotado, alguns sites de leilões começaram a oferecer um exemplar do jornal por 100 mil euros, valor que não animou os interessados.

Alguns mais afoitos pagaram milhares de dólares por um exemplar, mas não causará surpresa se uma nova leva da histórica edição chegar às bancas nas próximas horas, pois ainda é grande a procura, especialmente depois das críticas ao jornal que surgiram no mundo islâmico.

Para aqueles que não fazem questão de ter o exemplar físico do Charlie Hebdo, que na esteira da tragédia acabou promovendo a publicação, o UCHO.INFO disponibiliza uma versão em formato PDF da edição desta quarta-feira e que em menos de uma hora tornou-se objeto do desejo de nove entre dez defensores da liberdade de expressão.

Clique aqui e depois do carregamento do arquivo passe o mouse no canto inferior direito e selecione a opção salvar, representada por um ícone de disquete. Escolha a pasta de armazenamento, nomeie o arquivo como quiser e clique em SALVAR.

charlie_hebdo_20

apoio_04