Após dizer que a França vive ‘apartheid’, premiê apresenta medidas contra o terror

manuel_valls_03Discurso polêmico – O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, declarou na terça-feira (20) que a França vive neste momento um “apartheid territorial, social e étnico”. A declaração foi feita poucas horas antes da apresentação, nesta quarta-feira (21), de uma série de medidas de luta contra o terrorismo, após os ataques que deixaram 17 mortos em Paris.

Valls apresenta as novas medidas para responder de maneira urgente ao que considera “falhas” em termos de segurança, reveladas durante os ataques que o país viveu recentemente. “A ameaça terrorista global, em sua diversidade, nunca esteve tão elevada”, declarou Manuel Valls. “Temos diante de nós um combate que pode levar anos”, continuou. As propostas do premiê serão examinadas pelo Conselho dos ministros e, em seguida, integrarão um projeto de lei.

Na terça-feira, o chefe do governo disse que um de seus desafios é enfrentar “os males que corroem o país”, revelados ao longo dos ataques terroristas. “A isso acrescentamos todas as fraturas, as tensões latentes há muito tempo e sobre as quais falamos pouco (…) os guetos, como eu já dizia em 2005, e um apartheid territorial, social e étnico”. Valls faz alusão ao uso dessa expressão em um livro de entrevistas que publicou com Virgine Malabard (“La laïcité en Face”, da editora Desclée de Brouwer).

Mas desta vez, o termo, que faz referência ao período de divisão racial de mais de quatro décadas vivido pela África do Sul, foi alvo de críticas, principalmente do partido de extrema-direita Frente Nacional. Para Floriant Philippot, vice-presidente do grupo, a frase de Manuel Valls é “irresponsável” e “insulta o país”. Mesmo tom do lado de Nathalie Kosciuzko-Morizet, vice-presidente do partido de direita UMP. Para ela, “não há segregacionismo na França, e sim problemas de desigualdade e discriminação”.

França vai investir na segurança

Na última semana, Valls anunciou a criação de um arquivo específico na Justiça para pessoas condenadas por terrorismo ou membros de “grupos de combate terrorista”, além da criação de zonas separadas nas prisões para os detentos ligados à esses crimes. O governo também reforçará os meios aplicados na segurança interna e em inteligência, mesmo que com a França na mira da Comissão Europeia para diminuir gastos públicos.

As decisões sobre o assunto devem ser divulgadas durante o dia, após um conselho de Defesa, dirigido pelo presidente François Hollande, previsto para 12h15 (horário local). (Com informações da RFI)