Criança francesa é convocada pela polícia após apoiar autores dos ataques de Paris

(Reuters)
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Exagero desnecessário – Um menino francês de 8 anos compareceu, na quarta-feira (28), a uma delegacia de polícia de Nice, no sul da França, para explicar seu comportamento em relação ao atentado contra o jornal Charlie Hebdo, no dia 7 de janeiro, em Paris. De acordo com testemunhas, o aluno do 3° ano do ensino básico se recusou a fazer um minuto de silêncio na escola em homenagem às vítimas do ataque e manifestou apoio à ação dos terroristas.

Convocado pelo diretor da escola para conversar sobre o comportamento do menino, o pai da criança teria sido agressivo. O ministério francês da Educação declarou que a escola não prestou queixa contra o aluno, apenas contra o pai, após a briga com o diretor.

A lei francesa permite uma audiência com um menor, mas desde que ele esteja acompanhado dos pais. Baseada nela, o tribunal de Nice decidiu que a criança deveria prestar depoimento na polícia. “Convocamos o pai e o filho para tentar compreender como uma criança de oito anos pode ter um comportamento tão radical”, disse um comissário de polícia de Nice, Marcel Authier.

Segundo Authier, a criança foi ouvida pela polícia durante 30 minutos. Logo depois, o pai foi interrogado. “Claramente, o menino não tem compreensão do que falou. Não sabemos no que ele se baseou para declarar apoio aos terroristas”, reiterou.

Mão única

Quando centenas de milhares de franceses saíram às ruas para a Marcha de Paris, no domingo subsequente aos ataques terroristas ocorrido na eterna “Cidade Luz”, emoldurados por 44 líderes globais, a bandeira maior defendia a liberdade de expressão. Isso porque os franceses entendem que é lícito e inquestionável o direito do jornal Charlie Hebdo de fazer sátiras, principalmente para atacar o profeta Maomé e o Islã.

O UCHO.INFO, como sabem os leitores, defende a liberdade de expressão, desde que a apelação pura e simples não ocupe o lugar do bom senso, da responsabilidade e do respeito ao próximo. Ao mesmo tempo, o site condena todo e qualquer tipo de violência, não importando quem são seus agentes.

Considerando que a França, desde sua revolução, marcada pela histórica queda da Bastilha, vivem sob o manto do lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que assim sejam as relações entre as pessoas que vivem no país europeu.

A democracia é, antes de qualquer questionamento filosófico, o equilíbrio de forças opostas, o que deve ocorrer no rastro da tolerância, do respeito e do direito ao contraditório. Se os franceses defendem a liberdade de expressão, que essa valha para ambos os lados, não apenas para os que são contra o Islamismo e os muçulmanos. A prevalecer essa tese de mão única, a França dificilmente viverá em paz, assim como todo Ocidente.

Nosso posicionamento não representa apoio aos terroristas que usam a fé para justificar suas ações criminosas, até porque defendemos a paz, mas, sim, significa um respeito incondicional à opinião divergente, desde que esculpida com o cinzel da responsabilidade.

Melhor caminho

De nada adianta levar uma criança de oito anos para a delegacia, enquanto jovens cruzam as fronteiras da França em direção a países onde o jihadismo corre livre e solto. É preciso dar aos franceses muçulmanos as mesmas condições dos cidadãos adeptos de outras crenças e religiões. Somente assim será possível, no médio prazo, mostrar a essas pessoas que a prática criminosa em nada contribui para a evolução da sociedade e do convívio pacífico.

No momento em que todos são tratados de forma isonômica por parte do Estado, reduz sobremaneira a possibilidade de um jovem ser cooptado por organizações terroristas, que pegam carona no sonho deturpado de muitos para embalar o projeto de ressuscitar o passado Império Muçulmano. Esse projeto é obsoleto e não cabe nos dias atuais, mas serve para transferir poder político e financeiro para uma dúzia de criminosos, os quais devem ser combatidos sem trégua.

Ao Estado francês cabe a obrigação de zelar pela segurança dos cidadãos, mas não será com medidas emolduradas pelo radicalismo que o terrorismo sairá de cena. Ao contrário, esse tipo de atitude fermenta a cizânia que surgiu em uma nação teoricamente laica.

Histeria coletiva

O Coletivo contra a Islamofobia na França denunciou a forma como o caso foi conduzido. “O pai e o filho estão profundamente chocados com um tratamento que ilustra a histeria coletiva na qual a França mergulhou desde o início de janeiro”, escreveu a organização em um comunicado.

Já o advogado da família considerou o caso como “um absurdo”. Ele alegou que o menino não tinha nenhuma consciência de suas palavras.

Reforma na educação

Depois dos atentados em Paris perpetrados no início deste mês, mais de quarenta incidentes de estudantes que se manifestaram a favor dos terroristas foram registrados nas escolas francesas e encaminhados à polícia. O governo francês anunciou recentemente medidas para restabelecer os valores republicanos e laicos no sistema de educação do país. (Com informações da RFI)

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