Lava-Jato: delator afirma ter recebido propina de US$ 1 milhão da Odebrecht, que alega inocência

pedro_barusco_01Tiro ao alvo – Faltando pouco para completar três meses da Operação Juízo Final, sétima etapa da Operação Lava-Jato, que mandou para a prisão os executivos das maiores empreiteiras do País, algumas empresas caminham na contramão das delações premiadas e tentam negar o inegável, mesmo diante de provas incontestáveis. Ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras, Pedro Brusco, durante depoimento prestado em novembro passado, disse que a Odebrecht lhe pagou aproximadamente US$ 1 milhão em propina.

Barusco, que firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no âmbito da Lava-Jato, apresentou documentos que comprovam a transação. O ex-gerente disse que a empreiteira do grupo homônimo depositou, entre maio e setembro de 2009, US$ 916.697,00 em conta bancária pertencente à offshore “Constructora Internacional Del Sur SA”. Em seguida, o dinheiro transferido para uma conta que Barusco mantinha no Panamá.

Em nota, a Odebretch negou obter pago propina a Barusco e afirmou que a empresa “nunca participou de cartel” na Petrobras, conforme nota ao final.

Pedro Barusco, por sua vez, afirmou à Polícia Federal que a Odebretch firmou nove contratos com a Petrobras, sendo cinco na área de Gás e Energia, três na de Abastecimento e uma na de Exploração e Produção. Os contratos, de acordo com o delator, totalizaram aproximadamente R$ 8,6 bilhões entre, 2004 e 2011. O ex-gerente afirmou, durante depoimento, que “nesses contratos […] houve o pagamento de propinas.”

Pedro Barusco foi além em sua fala e disse que a Odebretch era “jogo duro” porque muitas vezes discordava o pagamento de propina “em determinados contratos”.

O ex-executivo da Petrobras também afirmou à PF que outras empresas pagaram propina para obtenção de contratos com a estatal, o que deve complicar sobremaneira a situação de quem está atrás das grades, além de facilitar a ida daqueles que ainda estão em liberdade.

Há na negativa da Odebrecht uma situação estranha, assim como ambígua, mesmo que de forma intrínseca. Presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht afirmou, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, em setembro de 2014, ser obrigação do empresariado tentar influenciar as decisões do governo. “Sendo legítimo e transparente, não vejo nada demais em defender pontos que muitas vezes a gente conhece melhor do que qualquer um”, disse Odebrecht ao jornal paulistano.

Na ocasião, o UCHO.INFO afirmou que se tratava de uma declaração irresponsável, cujo objetivo explícito era minimizar os efeitos danosos da convivência espúria entre governantes e empreiteiras, algo que nas últimas décadas vem devastando o Brasil e a dignidade dos cidadãos. Fosse para os empresários influenciarem os ocupantes do Poder Executivo, os eleitores escolheriam os donos de empreiteiras como seus representantes. Com a entrevista, Marcelo Odebrecht buscou criar uma cortina de fumaça em torno da Operação Lava-Jato, pois sabia que em algum momento suas empresas seriam alcançadas pela investigação da Polícia Federal. Fora isso, Marcelo Odebrecht tentou manter seus negócios bilionários com o governo federal e a forma como os mesmos são contemplados pelo Palácio do Planalto, assunto que há muito é tema de discussões em todo o País.

Ora, se Marcelo Odebrecht chama para si o direito de imiscuir nas decisões do Executivo federal, causa espécie o fato de o empresário ter se calado diante da informação de que executivos da Petrobras exigiam pagamento de propina em troca de contratos. No momento em que o castelo da Odebrecht começar a ruir, não sobrará pedra sobre pedra. É uma questão de tempo, pois o acordo de delação premiada firmada por Barusco só avançou porque as informações foram checadas e comprovadas pela Polícia Federal.

Confira abaixo a íntegra da nota divulgada pela Odebrecht:

“A Odebrecht nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo réu confesso. Nega em especial ter feito qualquer pagamento a qualquer executivo ou ex-executivo da Petrobras. A empresa não participa e nunca participou de nenhum tipo de cartel e reafirma que todos os contratos que mantém, há décadas, com a estatal, foram obtidos por meio de processos de seleção e concorrência que seguiram a legislação vigente.”

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