Falta de tato – A Indonésia espera um pedido de desculpas do governo brasileiro pelo adiamento da apresentação das credenciais do embaixador indonésio designado para o Brasil e está analisando todas as áreas da cooperação bilateral, declarou nesta segunda-feira (23) o porta-voz da diplomacia do país asiático, Armanatha Nasir, à agência de notícias Lusa.
De acordo com Nasir, o pedido de desculpa está subentendido na declaração enviada ao governo brasileiro sobre os passos que este deve tomar para resolver o mal-estar diplomático, criado pelo adiamento da apresentação das credenciais do embaixador indonésio à presidente Dilma Rousseff, que impôs ao diplomata indonésio um descabido e vexatório “chá de cadeira”.
As declarações foram dadas depois de uma reunião no Ministério do Exterior da Indonésia, na qual o embaixador designado para o Brasil, Toto Riyanto, relatou o ocorrido. Ele foi chamado a Jacarta após Dilma ter adiado, na sexta-feira, o recebimento das suas credenciais até a situação das relações diplomáticas entre as duas nações se esclarecer.
“Trata-se um passo muito extraordinário e antidiplomático”, comentou Nasir, ao explicar que Riyanto foi convidado formalmente para apresentar suas credenciais e, quando já se encontrava no Palácio do Planalto para fazê-lo, foi informado de que isso não aconteceria. Dilma, porém, recebeu as credenciais dos embaixadores da Venezuela, Panamá, El Salvador, Senegal e Grécia.
Em resposta, o governo indonésio enviou uma declaração às autoridades brasileiras, informando que chamou Riyanto de volta “até que o governo do Brasil determine o momento em que as credenciais deverão ser apresentadas” e na qual constam todos os “passos que devem ser tomados pelo Brasil”, respondeu o porta-voz, sem entrar em mais detalhes.
‘Todos os aspectos das nossas relações estão sendo analisados e revistos, bem como o que poderemos fazer para seguir em frente e o que precisa ser feito nos próximos meses, semanas e dias”, disse Armanatha Nasir.
O diretor-geral para os Assuntos Europeus e Americanos no Ministério do Exterior, Dian Triansyah Djani, sublinhou que a Indonésia “é um país amigável”, mas que “toda a cooperação deve ser baseada no respeito mútuo e na aceitação da sua soberania”.
A diplomacia indonésia convocou o embaixador brasileiro no país, Paulo Soares, logo após a recusa das credenciais, com a intenção de transmitir a sua nota de protesto relativa ao episódio no Planalto, que qualificou de “inaceitável”.
Nasir sublinhou que a Indonésia tem explicado ao Brasil, “ao nível técnico, ministerial e até dos chefes de Estado”, que a condenação de dois brasileiros à pena de morte é uma questão de “implementação da lei” indonésia. “Esperamos que eles entendam isso”, completou o porta-voz.
Em janeiro, a execução de Marco Archer por tráfico de drogas gerou um mal-estar entre os dois países, após Dilma Rousseff ter falado diretamente com o presidente indonésio, Joko Widodo, e pedido clemência. Outro brasileiro, Rodrigo Gularte, também foi condenado e pode ser fuzilado em breve, mas os familiares esperam que o fato de ele ter sido recentemente diagnosticado com esquizofrenia adie a aplicação da pena. (Com agências internacionais)