Presidente do HSBC tem de explicar sua própria conta na Suíça

(Bobby Yip - Reuters)
(Bobby Yip – Reuters)
Rastilho de pólvora – A prestação de contas anual do banco HSBC, enterrado no maior escândalo de lavagem de dinheiro e evasão de divisas da história, se transformou em uma sessão de malhação do Judas, nesta segunda-feira (23) em Londres. O Judas em questão era o presidente da instituição, Stuart Gulliver. Ele foi pressionado a explicar porque ele mesmo, que prometeu moralizar as operações do banco quando estourou o escândalo conhecido como Swiss Leaks, recebeu mais de US$ 7 milhões na filial suíça em 2007, quando vivia em Hong Kong.

Gulliver se recusou a falar se essa conta, aberta em 1998 e cuja existência foi revelada neste domingo pelo jornal britânico The Guardian, continua aberta. Ele se restringiu a garantir que paga na Grã-Bretanha os impostos sobre a totalidade de sua renda mundial e que a revelação da existência da conta “não afeta de nenhuma maneira” sua capacidade de dirigir a corporação. De acordo com ele, a conta era usada para proteger a confidencialidade de sua remuneração de seus colegas em Hong Kong e na Suíça.

Pressão sobre a imprensa

Também coube a Stuart Gulliver explicar porque o HSBC tem cortado a verba publicitária de veículos de mídia que fazem o que ele chamou de “cobertura hostil” do caso. Ele nega que isso seja uma forma de intimidar e influenciar editorialmente a imprensa. “Não tem nada a ver com influenciar a cobertura editorial de quem quer que seja”, respondeu. “Recorremos à publicidade para vender produtos bancários. Não tem sentido colocar publicidade ao lado de uma cobertura jornalística hostil”.

De acordo com ele, essa é uma medida de bom senso, puro e simples: “Os negócios exigem que não coloquemos anúncios ao lado de artigos hostis porque isso significaria jogar fora a verba publicitária”. Na semana passada, um editorialista do Daily Telegraph pediu demissão e acusou o diário conservador britânico de censurar informações sobre o HSBC, o que o jornal nega.

Não bastassem os escândalos, o balanço financeiro não ajudou. Em 2014, os processos judiciais custaram US$ 3,7 bilhões à instituição. No mesmo ano, o volume de negócios encolheu 5,3% para US$ 61,2 bilhões. Em 2015, o cenário não deve melhorar, devido a “tensões geopolíticas, as incertezas na zona do euro e a incerteza sobre as medidas pouco convencionais dos bancos centrais” em meio à crise. O HSBC reviu suas previsões para baixo e viu suas ações despencarem 5,57% no pregão da tarde.

Swiss Leaks

O Swiss Leaks é o escândalo mais recente – e mais importante – envolvendo o banco, cujas ligações com atividades contestáveis remontam à própria fundação. Depois de vencer a segunda Guerra do Ópio, a Inglaterra obrigou a China a restabelecer o comércio da droga depois que o gigante asiático o proibiu por uma questão de saúde pública. Para financiar suas atividades econômicas locais e, principalmente, o tráfico de ópio, Londres fundou a Hong Kong and Shangai Bank Corporation (HKSC), depois rebatizada de HSBC. Isso faz exatos 150 anos e, de lá para cá, ele se tornou o maior banco da Europa e segundo maior do mundo.

Como mostrou o escândalo Swiss Leaks, suas relações com o crime organizado seguiram de “vento em popa”. Entre os quase €180 bilhões que circularam pela filial suíça da instituição do final de 2006 ao início de 2007, há muita evasão fiscal e crimes mais graves, como lavagem de dinheiro de traficantes de drogas, armas e diamantes de sangue. Em termos de valores financeiros, o Brasil é o nono do ranking feito pelo ICIJ (International Consortium of Invesgative Journalism), responsável pelo vazamento das informações.

A instituição enviou listas de correntistas de diversos países a jornalistas do mundo inteiro, que tomaram a decisão de divulgar ou não os nomes e valores. No Brasil, optou-se por encaminhar a lista às autoridades. Além do jornalista que recebeu o documento inicial, outro membro brasileiro do ICIJ requisitou acesso à lista, mas o pedido foi negado. O valor total de dinheiro relacionado ao Brasil que circulou no período deflagrado foi de quase US$ 7 bilhões. Um único brasileiro chegou a ter US$ 302 milhões na conta. (Com RFI)

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