Olho do furacão – Um dos principais delatores da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef revelou todos os detalhes de como o dinheiro do Petrolão chegou até a senadora petista Gleisi Helena Hoffmann, ex-ministra-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff. As declarações de Youssef, em depoimento prestado no último dia 11 à PF, em Curitiba, foram obtidas pelo jornal “O Globo” e detalham o envio do dinheiro desviado do esquema de corrupção na Petrobras para a campanha de Gleisi em 2010. O pedido de ajuda financeira, de acordo com o doleiro, partiu do marido da petista, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Comunicações). Um empresário de Curitiba, Ernesto Kugler, ainda de acordo com Youssef, recebeu “em três ou quatro operações” R$ 1 milhão em nome do casal.
O envolvimento de Gleisi no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história, é confirmado tanto pelo doleiro quanto por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Ambos garantem que o pagamento para Gleisi ocorreu,mas caem em contradição sobre o ponto de partida do pedido. Youssef disse que Costa contou a ele sobre a solicitação de Paulo Bernardo antes de ordenar a entrega do dinheiro. Já o ex-diretor, em depoimento, afirmou que soube por Youssef que o ex-ministro queria recursos para a campanha da mulher e autorizou o repasse. Na agenda de Costa há o registro de um pagamento com as iniciais “PB”, referentes ao marido da senadora, segundo ele.
Ao contrário do que havia afirmado em depoimento prestado em 2 de outubro de 2014, sobre entrega única de R$ 1 milhão, feita pessoalmente, Youssef disse que terceirizou a tarefa. Afirmou, entretanto, que para definir como seria repassado o dinheiro, recebeu, “uma ou duas vezes”, em 2010, em seu escritório em São Paulo, o interlocutor de Gleisi. Depois de descrevê-lo como um “senhor com aproximadamente 48 a 55 anos, (que) não era alto, pessoa clara, pele branca, cabelo baixo”, foi confrontado pelos investigadores com uma foto de Kugler. Reconheceu de imediato o homem, sócio de um shopping em Curitiba.
“O declarante confirma, sem sombra de dúvidas e com 100% de certeza, gue se trata da pessoa que esteve em seu escritório e para a qual foram entregues os valores de Paulo Bernardo e Gleisi Hoffman”, destaca a transcrição do depoimento de Youssef. Ele diz que Kugler se apresentou como alguém “próximo de Gleisi Hoffman e Paulo Bernardo”, que “conhecia muitos políticos em Curitiba” e que “deu a entender que era uma espécie de coordenador de campanha (de Gleisi ao Senado)”.
Youssef afirmou também que provavelmente foi Rafael Angulo, um dos auxiliares dele na execução dos pagamentos a políticos, que fez a entrega do dinheiro ao empresário, em “três ou quatro operações”, sempre nas dependências do shopping do qual Kugler é sócio. A polícia identificou um voo de Angulo, para Curitiba, em 15 de julho de 2010. Questionado sobre o motivo da viagem, Youssef afirma que pode fazer referência à entrega dos valores a Gleisi e Paulo Bernardo.
As próximas diligências da força-tarefa da Operação Lava-Jato, no que diz respeito a Gleisi Hoffman, será ouvir, além da própria senadora, Paulo Bernardo, Angulo e Kugler.