Estiagem prolongada – O desmatamento na Amazônia com certeza contribuiu de alguma forma para a atual seca que atinge o Sudeste. Porém, não há dados para explicar uma queda de precipitação tão drástica somente por este fator.
Segundo Philip M. Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), há uma ligação entre a reciclagem de água pela floresta amazônica e o transporte de vapor d’água do Norte do país para o Sudeste, nos chamados ‘rios voadores’. No entanto, a redução das chuvas no Sudeste, entre 2014 e 2015, é bem desproporcional em relação ao aumento da área desmatada entre 2013 e 2014. Algum tipo de quebra nos ventos que transportam vapor d’água na baixa atmosfera, ou “jatos de nível baixo”, explicaria a diferença.
Além disso, outros fatores podem ter influenciado a atual seca. Um deles é o início do fenômeno El Niño, que é o aquecimento excessivo das águas do oceano Pacífico, que afeta o clima da América do Sul. Porém, o fenômeno não mostra severidade fora do normal, capaz de explicar a seca.
Outro fator são as águas do Oceano Atlântico, diante do litoral do Sudeste, que estão mais quentes que o normal, influenciando o padrão de chuvas. Além disso, uma massa de ar estacionada sobre o estado de São Paulo inibiu a entrada de frentes frias vindas do sul do continente, que normalmente provocam condensação de vapor d’água e geram precipitação.
Philip ainda afirma que, apesar das dúvidas sobre as causas da seca, é de suma importância aprender as lições que o que está acontecendo no sudeste nos ensina. Uma delas diz respeito ao desenvolvimento da Amazônia, que caso continue a seguir o curso atual, com planos para a construção de rodovias, barragens e outras estruturas que contribuem para o desmatamento, e com subsídios para a destruição da floresta, em uma larga gama de políticas perversas, continuará faltando água em São Paulo. Nesse caso, porém, a falta não estará associada apenas a uma variação de chuvas de um ano para outro: será permanente.
Outra lição está ligada aos efeitos do aquecimento global. A variabilidade climática natural vem aumentando devido a esse aquecimento. Isso significa que eventos extremos do clima, como secas e inundações, serão cada vez mais severos e mais frequentes, em comparação com os padrões históricos.
O pesquisador alerta que é muito importante a necessidade não apenas de adaptação às novas condições, mas também da luta contra o chamado efeito estufa. O combate às causas das mudanças climáticas precisa ser feito de modo muito mais sério do que tudo o que se viu até agora. Em contraponto, a posição do Brasil nessa questão continua a ser a de que o país aceitaria uma meta de redução de emissões de gases que contribuem para o efeito estufa, dentro da Convenção de Clima, mas somente se todos os outros países do mundo concordassem em fazer o mesmo. Ou seja, não assumiu ainda nenhum compromisso de fato.
Espera-se que a drástica seca em São Paulo leve a uma mudança na posição brasileira em relação às mudanças climáticas. Com isso, o país assumiria um papel de liderança nessa questão, em vez de adotar uma postura “acomodada”.
Vale ressaltar que essa mudança estaria fortemente vinculada ao interesse nacional, porque o Brasil está entre os países que mais sofrerão se uma redução nas emissões globais não acontecer a tempo. (Por Danielle Cabral Távora)