Germanwings: especialistas suspeitam que copiloto sofria da Síndrome de Burnout, saiba o que é

andreas_lubitz_03Capítulo extra – As investigações sobre a queda do voo 4U-9525 da Germanwings sobre a França, resultando na morte de 150 pessoas, apontaram que o copiloto Andreas Lubitz poderia sofrer da “Síndrome de Burnout”, que no Brasil alguns especialistas chamam de “Síndrome do Fósforo Queimado”.

De acordo com a psiquiatra Fernanda Piotto Flalonardo, professora de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC, todos os transtornos mentais apresentam riscos acentuados de suicídio. “Como sabemos das notícias apenas pela imprensa, não se pode afirmar que nesse caso específico do copiloto foi a doença que desencadeou o acontecimento. Ou se realmente era esse o problema que tinha. Os médicos que o atendiam podem falar melhor sobre o paciente”, afirmou.

Apesar do risco, não significa que todos os portadores de doenças como depressão, esquizofrenia, doença bipolar e Síndrome de Burnout vão se matar. “Ninguém é um suicida 24 horas por dia. Podemos dizer que isso ocorre como uma onda, uma espécie de flutuação, por isso a importância da avaliação de um potencial risco, com a pesquisa de dados familiares, o contexto social e a necessidade de acompanhamento do paciente”, explica a médica. Ela ainda lembra que, estatisticamente, as pessoas esquizofrênicas e com transtorno bipolar são os mais propensos ao suicídio do que as com depressão e Síndrome de Burnout.

Burnout

Alguns sintomas da Síndrome de Burnout são parecidos com os de depressão, porém há diferenças entre as duas doenças.

Ao contrário da depressão, que muitas vezes surge sem um motivo aparente, a Síndrome de Burnout é desencadeada por um estresse e estafa muito forte, associada principalmente ao seu trabalho. “Pode acontecer também com estudantes e com donas de casa, pois está ligada diretamente às atividades desenvolvidas pela pessoa”, revela a psiquiatra.

De acordo com o clínico geral e psiquiatra Cyro Masci, especializado no tratamento de fadiga, estafa e exaustão, “quando o Burnout chega, há uma nítida sensação de que todas as capacidades pessoais foram exauridas, de que a energia vital foi drenada. Isso dá origem a uma queda acentuada na produtividade e gera atitudes agressivas e confusão”.

O problema pode se desenvolver em quatro fases e atinge pessoas submetidas a altíssimas cargas de pressão, responsabilidade e estresse. “É um processo físico e mental progressivo de esgotamento”, Segundo o médico. Num primeiro momento, os sintomas são de exaustão física, mental e emocional. “A sensação é de um morto vivo, sem interesse, energia ou prazer. ”É a fase do banho e cama, e mais nada.”

A próxima fase é o momento em que a pessoa perde a confiança em si mesma, fica em dúvida sobre a própria capacidade e autoestima. A terceira etapa, de acordo com o psiquiatra, é caracterizada pelo cinismo, agressividade e insensibilidade, que acabam por afastar as pessoas próximas. “A agressividade deste período libera altíssimas ondas de hormônios que acabam facilitando o aparecimento de doenças, especialmente as coronarianas”, acrescenta o médico. Se nada for feito, o portador da síndrome chega àquarta e última fase, que é a exaustão total, de falência, de crise pessoal.

Durante todo o tempo, tentativas de minorar a situação como uso de bebidas alcoólicas, aumento, ou até início, do consumo de tabaco ou passividade física complicam ainda mais a situação geral, chegando à quarta fase. “Pessoas próximas muitas vezes não entendem o fato de alguém sem uma doença aparente dizer se sentir tão mal. Essa atitude só piora o quadro dos pacientes e, além do mal-estar, há uma baixa na auto-estima e no senso de controle pessoal”, revela Masci.

Já para a psiquiatra Fernanda Flalonardo, as pessoas que exigem demais de si mesmas, que não conseguem falar “não” quando estão sobrecarregadas de trabalho, que não se desligam e não sabem impor limites nas tarefas têm uma predisposição a adquirir a síndrome de Burnout. “Competitividade no meio do trabalho e personalidade predisposta estão entre os fatores ligados à doença. Muitas vezes, a pessoa sequer consegue chegar perto do local de trabalho e começa a ter alguns sintomas como sudorese, diarréia, taquicardia”, afirma.

Outros sintomas importantes são atitudes depressivas, ansiedade, falta de prazer, alteração do sono, apetite e concentração. “Sempre que alguém é submetido a pressões prolongadas, física, mental ou emocionalmente tem grandes chances de desenvolver a doença”, finaliza Cyro Masci. (Por Danielle Cabral Távora)

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