Apesar da aproximação, EUA e Cuba admitem diferenças e enxergam desafios

(Joe Raedle - Getty Images)
(Joe Raedle – Getty Images)
Cachimbo da paz – Depois de fazerem história, Cuba e Estados Unidos agora enfrentam a parte mais difícil da retomada das relações diplomáticas e governamentais, a implementação gradual de uma relação mais próxima entre os dois rivais de várias décadas. Na primeira reunião do tipo em quase sessenta anos, o presidente norte-americano, Barack Obama, e o ditador cubano, Raúl Castro, reuniram-se no último sábado (11) por mais de uma hora, durante a Cúpula da Américas, no Panamá, dando um importante passo a mais para restaurar os laços entre ambos os países.

Esse encontro foi fruto de quase dois anos de negociações secretas e diplomacia silenciosa. O clima foi positivo, tanto no local do encontro quanto fora dela, onde os líderes latino-americanos elogiaram Obama por acabar com décadas de hostilidade dos Estados Unidos para com a ilha comunista.

O presidente ianque enxerga Cuba como uma provável história de sucesso em sua política de aproximação com inimigos dos Estados Unidos. Em um momento de múltiplos riscos na sua trajetória em política externa – do programa nuclear iraniano e a guerra na Síria ao envolvimento da Rússia na Ucrânia e a violência do Estado Islâmico –, o fato de dar-se bem com Cuba parece simples.

Para Obama, parte considerável do seu trabalho será na política interna. Para aliviar as sanções contra Cuba, como previsto no acordo com Havana, ele terá de convencer o Congresso americano a votar pela anulação das restrições. Porém, como ambas as Casas legislativas são dominadas pelo Partido Republicano, a tarefa do presidente é bastante difícil.

“A Guerra Fria acabou”, afirmou o americano. “Acho que há uma forte maioria tanto nos Estados Unidos como em Cuba que diz que a nossa capacidade de engajamento, de abertura para o comércio e as viagens e de trocas entre as pessoas vai ser, por fim, boa para o povo cubano”.

Entretanto, a diferença entre os dois lados ainda é grande, ilustrado pela ausência de bandeiras dos EUA e de Cuba na reunião. O embargo econômico dos EUA, que bloqueou quase todo o comércio entre as duas nações nas últimas cinco décadas, mantém-se firme. A situação dos direitos humanos em Cuba ainda é desdenhada por Washington, enquanto a política externa americana é motivo de desprezo por parte de Havana.

“Não vamos nos enganar. Temos um monte de diferenças”, disse Raúl, inimigo dos Estados Unidos durante a maior parte de sua vida e que ainda critica as políticas passadas do governo americano, apesar de elogiar Obama como “um homem honesto”. “Em outras palavras, estamos dispostos a falar sobre tudo com paciência, com muita paciência”, acrescentou Raúl, que é general do Exército cubano e irmão mais novo do ex-ditador Fidel Castro.

Os governantes dos dois países anunciaram em dezembro que iriam trabalhar para restabelecer relações diplomáticas completas, cortadas em 1961, reabrir embaixadas nas capitais de ambos os países e liberalizar o comércio e as viagens. O restabelecimento das relações diplomáticas é bastante fácil, exigindo pouco mais do que o acordo dos presidentes, mas a normalização das relações como um todo pode levar anos.

Vale ressaltar que Cuba não tem dado sinais de que está disposta a permitir direitos políticos mais amplos. O governo se refere aos dissidentes como mercenários, move-se rapidamente para sufocar a oposição, patrocinando inclusive uma tropa de choque de apoiadores que entraram em confronto com dissidentes durante a Cúpula das Américas no Panamá.

O ditador cubano deixou claro que não pretende permitir qualquer relaxamento do poder do Partido Comunista. Embora Cuba busque atrair o investimento estrangeiro, quaisquer empresas americanas que pretendam se instalar lá vão precisar da bênção do governo. O governo de Raúl se movimenta com cautela, como tem mostrado com próprias reformas econômicas de abertura ao mercado nos últimos anos.

No mais, Cuba ainda está esperando ser removida da lista de Estados apoiadores do terrorismo, uma designação unilateral do Departamento de Estado dos EUA, que o governo cubano considera injusta. A inclusão nesta lista implica em sanções econômicas automáticas e reflete-se também em impedimentos diplomáticos para os políticos e cidadãos cubanos. (Por Danielle Cabral Távora)

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