Outono quente

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Empreiteiro preso, empreiteiro solto, manifestação reprimida com violência, Renan brigando com Temer e Eduardo Cunha? Isso só é crise para os fracos: crise mesmo, pesada, é a que este mês promete- e já no primeiro dia a presidente, que não quis falar na TV para poupar-se de um panelaço, tomou um buzinaço para protestar contra seu silêncio. Mas os problemas são maiores que qualquer discurso de Dilma (ou falta de discurso, que no caso dela é a mesma coisa).

1 – A CPI da Petrobras pediu à empresa a gravação das reuniões do Conselho de Administração que trataram da compra da refinaria de Pasadena e da construção da refinaria Abreu e Lima. Informa a Petrobras que apagou as gravações. Se é para apagar, por que gravar? E justo as reuniões que Dilma comandava? A CPI estuda pedir à Polícia Federal uma operação de busca e apreensão na Petrobras.

2 – O Ministério Público Federal, informa a revista Época, investiga o relacionamento entre Lula, Odebrecht e obras no Exterior financiadas pelo BNDES. Não foi divulgado nenhum indício de crime – mas por que o Ministério Público Federal abriria investigação, se não houvesse qualquer tipo de suspeita?

3 – Há quem pense que, com a libertação dos empresários (presos efetivamente há tempo demais para quem nem foi julgado), a Lava-Jato perdeu o ímpeto. Mas há muito a investigar – inclusive o que foi dito, mas ainda não confirmado, nas delações premiadas. A partir daí abrem-se novas investigações – que ocorrerão. Aliás, o juiz Moro virou ídolo.

Se um dia quiser ser candidato, será forte.

A força dos números

Pedro Pedrossian Neto, leitor desta coluna, fez algumas contas interessantíssimas sobre o tamanho da ladroeira do Petrolão. Os R$ 6,2 bilhões oficialmente desviados da Petrobras, em notas de R$ 100, enfileiradas, formariam uma trilha do Oiapoque ao Chuí, ida e volta. Os R$ 21,6 bilhões de prejuízo da Petrobras em 2014 iriam de Ushuaia, na Patagônia, extremo Sul da América, até Anchorage, no Alasca, no extremo Norte, e voltariam; e, saindo mais uma vez de Ushuaia, chegariam à metade da distância até Anchorage. Isso ainda é pouco: os R$ 44,3 bilhões de baixa contábil (projetos que custaram caro e não deram certo) dariam uma volta e meia na Terra.

Nossos governantes, claro, não sabiam de nada.

Mais número

José Casado, excelente repórter de O Globo, se dedicou ao balanço da gestão de José Sérgio Gabrielli na Presidência da Petrobras. Em sua gestão, a Petrobras perdeu R$ 17,4 milhões por dia, R$ 726.400 por hora. Em cada real registrado como perda no balanço da Petrobras, 87 centavos cabem ao período de Gabrielli.

Comparando: os prejuízos da era Gabrielli na Petrobras equivalem à soma da receita anual da GM, Mercedes-Benz e Honda; superam os monumentais, gigantescos, piramidais lucros de Bradesco e Itaú – somados – em 2014. Metade de sua diretoria é investigada por corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, EUA, Holanda e Suíça.

E como é que Gabrielli foi parar na Petrobras? Simples: era militante do PT. E obedecia sem discutir às ordens da então ministra Dilma.

Sabe de nada, inocente

John D. Rockefeller, criador da Standard Oil, uma lenda no mundo dos combustíveis, dizia que o melhor negócio do mundo era uma empresa de petróleo bem administrada. E o segundo melhor negócio do mundo era uma empresa de petróleo mal administrada. Rockefeller não conheceu a experiência brasileira.

Ou talvez estivesse certo: embora não para seus acionistas, nem para o Brasil, a Petrobras era um excelente negócio para quem soube aproveitar-se dela.

Números d’ultramar

As previsões dos economistas brasileiros, exceto os que melhor conhecem as burras estatais, são ruins. Que se tente uma opção: o Banco Central traz o economista português Ricardo Reis para falar sobre metas de inflação. Reis cobra R$ 30 mil pela palestra, mais despesas.

Talvez, como estrangeiro, seja ouvido.

Os vários Renans

Não estranhe as atitudes de Renan Calheiros, que condena seu PMDB por reivindicar nomeações e, ao mesmo tempo, vai nomeando os aliados. Como um importante personagem bíblico, Renan não é um, é legião. Há um Renan que briga com Temer e o critica em público, há um Renan que manda para Temer uma lista com a indicação de cinco nomes para bons cargos (dois ele já emplacou: um diretor da Anvisa e o presidente da Associação Nacional dos Transportes Terrestres, ANTT).

Há um Renan que condena a corrupção, há um Renan acusado em delação premiada da Operação Lava Jato por Paulo Roberto Costa. Há um Renan que briga com Eduardo Cunha por opor-se à terceirização, e um Renan que se alia a Eduardo Cunha para desgastar Dilma. Há o Renan de Collor, o Renan de Fernando Henrique, o Renan de Sarney, o Renan de Lula, o Renan de Dilma, o Renan anti-Dilma.

E todos convergem em um, o Renan de Renan.

Ele conhece

Joaquim Levy disse que não é difícil ser ministro da Fazenda de Dilma. Deve ter razão, já que até Guido Mantega foi capaz de ocupar o cargo. Está comprovado que não é difícil ser ministro da Fazenda de Dilma.

É apenas inútil.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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