Mãos ao alto – O castelo de lama que sempre existiu na Confederação Brasileira de Futebol, a bisonha CBF, começa a ruir. Entre os investigados no esquema de corrupção que culminou com a prisão de José Maria Marin e mais seis cartolas da FIFA, em Zurique, na Suíça, está o empresário José Hawilla, conhecido como J. Hawilla e dono da Traffic, empresa de marketing esportivo.
Em acordo com a Justiça dos Estados Unidos, onde a corrupção é crime grave e passível de penas pesadas, Hawilla assumiu o compromisso de devolver US$ 151 milhões ao assinar sua confissão de culpa no processo em que é acusado de conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução à Justiça. Em 14 de maio passado, o empresário foi considerado culpado por fraude bancária.
Do total (US$ 151 milhões) a ser devolvido, US$ 25 milhões (equivalente a R$ 78,8 milhões) foram restituídos no momento da assinatura do acordo, segundo documento divulgado pela Justiça norte-americana.
Além de Hawilla, outros dois réus assumiram a culpa por negócios estranhos envolvendo o futebol planetário: Daryan Warner, filho de Jack Warner – ex-secretário de desenvolvimento da FIFA e também réu no processo – devolveu mais de US$ 1,1 milhão (R$ 3,4 milhões) ao longo do processo em que foi acusado por conspiração para fraude, lavagem de dinheiro e estruturação de transações financeiras. No acordo, Daryan Warner assumiu o compromisso de devolver novos valores, ainda não definidos.
Charles Blazer, ex-secretário-geral e ex-membro do comitê executivo da FIFA, declarou-se culpado nas acusações por conspiração para extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e evasão de imposto de renda. Ele devolveu US$ 1,9 milhão (R$ 6 milhões) no decorrer do processo e também fez acordo para novas restituições financeiras, cujos valores ainda serão definidos com a Justiça dos EUA.
Bandalheira tupiniquim
O envolvimento de J. Hawilla no esquema de corrupção e fraudes coloca a CBF na alça de mira das autoridades dos EUA que já investigam a entidade por ilícitos cometidos na Copa do Mundo de 2014. A investigação se deve ao fato de que a Nike, empresa norte-americana, é patrocinadora oficial da CBF desde 1990 e fornecedora de materiais esportivos da seleção brasileira.
No momento em que a investigação chegar de fato à Copa de 2014, políticos e autoridades brasileiras não terão como escapar das garras da Justiça. Isso porque o superfaturamento dos estádios financiados com dinheiro público e o pagamento de propinas são assuntos correntes nos bastidores do futebol desde que a FIFA anunciou o Brasil como sede da competição. Em suma, na Esplanada dos Ministérios há pelo menos uma dúzia de poderosos reforçando o estoque de ansiolíticos.
Confira abaixo a íntegra da nota divulgada pela Justiça dos Estados Unidos:
“Em 12 de dezembro de 2014, o acusado José Hawilla, dono e fundador do Grupo Traffic, o conglomerado de marketing esportivo brasileiro, foi indiciado e declarado culpado por extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Hawilla concordou em devolver mais de US$ 151 milhões, sendo US$ 25 milhões destes pagos no momento de seu apelo.
Em 14 de maio de 2015, os acusados da Traffic Sports USA Inc. e Traffic Sports International Inc. foram considerados culpados por fraude bancária.
Todo o dinheiro devolvido pelos acusados estão sendo guardados na reserva para assegurar sua disponibilidade para satisfazer qualquer ordem de restituição em sentenças que beneficiem qualquer pessoa ou entidade qualificada como vítima dos crimes destes acusados sob a lei federal”.