Dengue: vacinas excluirão bebês e idosos e só serão indicadas para grupo que reúne 40% das mortes

vacina_02Seleção burra – As duas vacinas contra a dengue em estágio mais avançado de estudos são vistas como principal esperança no controle das epidemias da doença no País. Entretanto, só poderão ser aplicadas no grupo da população que reúne o menor número de mortos por complicações da doença. Serão indicadas para crianças, adolescentes e adultos de até 59 anos, grupo que concentrou 40% das 290 mortes por dengue em 2015.

Os idosos não serão beneficiados pelo imunizante, grupo que, de acordo dados inéditos do Ministério da Saúde, concentra 60% das mortes. Vale ressaltar que os idosos são os pacientes mais vulneráveis pelo processo de envelhecimento do organismo e a frequente presença de doenças crônicas.

Porém, a condição clínica do idoso também impede, por uma questão de segurança, que ele participe dos primeiros testes clínicos de um imunizante. E, sem estudo específico, ele não pode receber a vacina até que fique comprovado que não trará riscos à saúde. A mesma lógica vale para outras populações vulneráveis, como crianças com menos de 2 anos, gestantes e portadores de doenças crônicas.

Nem a vacina do laboratório francês Sanofi Pasteur nem a do Instituto Butantã, as mais adiantadas, foram testadas na faixa etária acima de 60 anos. “Toda vez que você registra uma vacina, se ela é preventiva, você habitualmente trabalha com populações saudáveis. Posteriormente ao registro, você começa a fazer estudos em populações específicas, para ver como ela atua em diabéticos, hipertensos. Os idosos são uma dessas populações que só poderiam ser vacinadas posteriormente”, explica o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantã, Alexander Precioso.

“Como a vacina tem vírus ativo, não podemos correr o risco de testá-la inicialmente em idosos, que já têm um organismo mais frágil. Quando aprovada, ela será indicada para pessoas saudáveis. O uso em outros grupos precisaria de mais estudos”, alerta Lúcia Bricks, uma das diretoras médicas da Sanofi.

A vacina da empresa francesa está em processo de aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e foi testada apenas em crianças e adolescentes entre 2 e 16 anos e sua indicação deverá ser voltada principalmente para essa faixa etária, segundo Lúcia. Também testada em 40 mil pessoas em 15 países, o produto da Sanofi Pasteur tem eficácia de 60,8% na redução de notificações de dengue e conseguiu diminuir em 95,5% o número de casos graves.

O imunizante foi submetido à aprovação da Anvisa no fim de março e a expectativa do laboratório é de que a licença para comercialização saia no fim de 2015. Só depois do registro o governo vai decidir se oferecerá a vacina na rede pública.

Já o imunizante do Butantã ainda precisa passar pela fase 3 de testes clínicos, última etapa da pesquisa, que será realizada com 17 mil pessoas. Nesse estágio, o instituto vai testar o imunizante em pessoas de 2 a 59 anos. O instituto aguarda a liberação da Anvisa para o início dessa fase. A estimativa de Precioso é de que isso ocorra em agosto. Os resultados da fase 3 e a solicitação de registro na Anvisa ficarão para 2016, se os testes de eficácia alcançarem o resultado esperado.

Segundo o infectologista pediátrico e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, embora haja pressa por parte dos fabricantes para aprovar a primeira vacina contra a dengue, os formatos dos estudos e a indicação inicial do imunizante apenas para populações saudáveis estão dentro da normalidade. “Quando você desenvolve um estudo para aplicar a vacina em populações especiais, você normalmente precisa ter acumulado uma certa experiência de aplicação em população saudável”, ressalta. Ainda segundo o especialista, geralmente são necessários alguns anos para que se inicie o uso em grupos mais frágeis.

Celso Granato, infectologista, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e assessor médico do Grupo Fleury, afirma que mesmo que não possa ser aplicada nas populações mais frágeis, a vacina vai colaborar no controle da epidemia. “O mosquito terá menos pessoas contaminadas para picar, pegar o vírus e repassá-lo”. (Por Danielle Cabral Távora)

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