A lenda da idade justa

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_09Albert Einstein, aos 26 anos de idade, formulou a Teoria da Relatividade. Aos 42 anos, recebeu o Prêmio Nobel de Física. Nero, o imperador romano, aos 22 anos de idade, mandou matar a mãe. Aos 27, pôs fogo em Roma.

Dá para ir longe nos exemplos históricos. Menos no Brasil: aqui se perde tempo com as questões erradas. É absurdo que alguém com 17 anos, 11 meses e 29 dias possa assaltar e matar e ser punido com menos severidade do que seria se tivesse mais algumas horas de idade. Mas não adianta reduzir a maioridade penal para 16 anos, ou 14: sempre haverá alguém com poucos dias a menos para proclamar-se “dimenor”. Baixar a idade indefinidamente não é a solução. Há pouco tempo, na Inglaterra, crianças de dez anos amarraram um garoto mais novo nos trilhos para saber o que aconteceria quando o trem passasse por cima. Aconteceu.

O problema não é idade: é definir o que se busca. Pretende-se, em primeiro lugar, que uma pessoa perigosa, conforme decisão judicial, seja contida, para não mais gerar riscos. Isso pode ser obtido sem levá-la à prisão: pode ficar naqueles hotéis fantásticos do Dubai, desde que não possa circular livremente nas ruas. Em segundo lugar, pretende-se reeducar o adolescente, para que se torne um bom cidadão. Isso não ocorrerá nas atuais prisões brasileiras. Mas o mau ambiente também torna os adultos mais perigosos. É preciso rever penas e civilizar as prisões, para que deixem de tornar-se universidades do crime.

O restante da discussão só serve para desviar o assunto e evitar fazer o que deve ser feito.

Desespero ou estratégia

Joseph Blatter tentou ao máximo: no auge da crise, insistiu em ser reeleito presidente da Fifa. Seu adversário político (e amigo pessoal) Michel Platini pediu-lhe que renunciasse. Rejeitou o pedido. E, de repente, cinco dias depois de ser reeleito, anunciou que convocará novas eleições e renunciará assim que houver novo presidente.

Pode ser estratégia: submergir e esperar a crise passar (talvez tenha até feito algum acordo com quem investiga o caso das propinas). Perde um cargo de altíssimo prestígio, de altíssimos rendimentos, de altíssimo poder, mas mantém a liberdade e, com quase 80 anos, aposenta-se. Pode ser desespero: acreditar que, longe do poder, será poupado do facão que atingiu tantos de seus aliados – inclusive o principal, Jerôme Valcke. Curiosamente, foi logo após as acusações contra Valcke, no The New York Times, que Blatter desistiu de ficar.

Por que desistiu é ainda um mistério. Mas uma coisa é clara: depois de 17 anos no poder supremo da Fifa, se Blatter resolver falar nada irá restar intacto.

Uzianque e a zelite

Os aliados de Blatter e alguns intelectuais de esquerda explicam a crise do mesmo jeito: os Estados Unidos resolveram vingar-se por não ter sido escolhidos como sede da Copa. Até pode ser.

Mas a pergunta correta é outra: os fatos denunciados aconteceram? As pessoas pagaram e receberam propina? Se os fatos são reais, se houve pagamento e recebimento de propina, de que se queixam?

O mundo gira

Este colunista é gordo, e gordos não esquecem. Nos arquivos, sabe quem falava bem de José Maria Marin? Romário, claro; e o Ministério Público paulista. E Bebeto, que fazia dupla de ataque com Romário na Seleção campeã de 1994.

Aos amigos, tudo

O deputado estadual Nereu Moura, do PMDB paranaense, acaba de perder o mandato: sentença da 3ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba o condenou por ter contratado, como funcionária fantasma de seu gabinete, a empregada doméstica de um colega de partido, que assim era paga com dinheiro público da Assembleia Legislativa. De acordo com a sentença, Elza Chrispim Calixto trabalhava na casa do senador Roberto Requião. Nereu Moura, além de perder o mandato, teve os direitos políticos suspensos por dez anos e foi condenado a devolver ao Tesouro os salários pagos irregularmente à funcionária fantasma.

E Requião? O senador vai bem, obrigado, tem mais quatro anos de mandato, está na bancada de apoio à presidente Dilma (mas contra Joaquim Levy), faz oposição dura ao governador tucano Beto Richa.

De Brasília, tuitou logo após a renúncia do presidente da Fifa: “Blatter é um exemplo a ser seguido pelo Richa?”

Teias de aranha, mas sem poeira

Pergunte a alguém com menos de 30 anos o que é uma máquina de escrever. Poucos se lembrarão – mas nosso Congresso até agora a homenageia. O Senado tinha até há poucos dias, com empresa especializada, um contrato de manutenção de máquinas de escrever. Incrível? Isso até descobrirem o contrato, que talvez exista, para a manutenção terceirizada de tinteiros e penas de ganso bem afiadas.

Aposentadoria, enfim

Djalma Morais está no poder há 25 anos – um recorde. Agora, aposenta-se. Foi nomeado por Collor para dirigir a Telemig. Com Itamar, foi ministro das Comunicações. Com Fernando Henrique, vice-presidente executivo da Petrobras Distribuidora (BR). De lá passou à Cemig, onde ficou até agora. A derrota de Aécio o deixou sem cargo. Está tristíssimo – embora more no Rio, numa cobertura, a um quarteirão da praia.

O poder deve ser ótimo. Pelo menos é viciante.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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