CPI quer investigar Instituto Lula e PT prepara ato de apoio a ex-presidente em convenção

(Gabriela Bilo)
(Gabriela Bilo)
Vulcão em atividade – O Partido dos Trabalhadores abrirá seu 5º Congresso, em Salvador, nesta quinta-feira (11), com manifestações de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que nesses últimos dias viu seu instituto aparecer no escopo das investigações da Operação Lava-Jato. O partido, no entanto, não pretende rever seus “erros”, que começaram com o escândalo do Mensalão.

A abertura do encontro contará com a presença da presidente Dilma Rousseff que, cobrada pelo partido, decidiu adiantar a volta de uma viagem à Bélgica para participar do ato. O ex-presidente Lula também participará do Congresso.

Caberá aos dirigentes petistas o desagravo ao lobista Lula. Eles tentam associar a denúncia a uma “criminalização” das doações recebidas pelo partido. “Defendo que tenha (desagravo). É algo que deve acontecer de forma espontânea”, afirmou o coordenador da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), Francisco Rocha. “Atos de solidariedade são naturais, ainda mais nesse momento”, ressaltou Emídio de Souza, presidente do PT paulista.

O ex-presidente, embora não seja formalmente investigado, começou a ter seu nome em evidência após as revelações de que se reuniu com Paulo Roberto Costa, então diretor da Petrobras, pouco antes da compra da refinaria de Pasadena (EUA). Fora isso, a empreiteira Camargo Corrêa, investigada na Lava-Jato, doou R$ 3 milhões ao Instituto Lula. A organização diz que as contribuições foram regulares. No mais, a empreiteira pagou R$ 1,5 milhão à LILS, empresa pertencente ao petista, por palestras feitas entre 2011 e 2013.

Na quarta-feira (10), parlamentares da oposição que integram a CPI da Petrobras protocolaram requerimentos pedindo a convocação de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, para explicar as doações. Também ameaçam pedir na sessão desta quinta a quebra dos sigilos fiscal e bancário da entidade, além da convocação do próprio Lula.

De acordo com dirigentes petistas, passado o momento mais agudo da ameaça de impeachment contra Dilma, a oposição agora concentra forças contra Lula. O PT passa pela maior crise em seus 35 anos, por isso, um dos principais objetivos do Congresso de Salvador é preparar o partido para um processo de recuperação da imagem, que possibilite a volta de Lula em 2018.

Contudo, as perspectivas são pessimistas. Até o início de 2015, Lula era apontado como favorito contra qualquer adversário, mas hoje está enfraquecido. O PT encomendou uma pesquisa com a Vox Populi que foi apresentada à cúpula do partido na segunda-feira mostrando que o ex-presidente em empate numérico com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado por Dilma em 2014.

A corrente pró-Lula defende uma guinada à esquerda e a formação de uma frente progressista nos moldes da que governa o Uruguai desde 2005, a fim de recuperar parte do eleitorado perdido após os escândalos de corrupção e o ajuste fiscal promovido por Dilma. Entretanto, a “Carta de Salvador”, redigida pela corrente “Construindo um Novo Brasil”, não faz autocrítica no âmbito dos graves problemas éticos e nem contesta a política econômica atual.

Assim, o texto proposto pelo grupo de Lula é considerado insuficiente pelas correntes mais à esquerda. “No capítulo do partido, a Carta de Salvador é uma alienação conservadora”, alertou Joaquim Soriano, diretor da Fundação Perseu Abramo e líder da Democracia Socialista (DS). “É uma transformação tão lenta, tão segura, tão gradual, que parece acreditar ser possível mudar sem mudança”, completou Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.

É importante frisar que Dilma e o PT nunca estiveram tão distantes. Nos bastidores, os petistas reclamam da falta de diálogo, de seu estilo avesso às negociações políticas e de que o PT só fica com o ônus da crise. A ordem para amenizar as críticas ao ajuste deve ser aprovada na resolução final do congresso petista, mas rachou o partido. O descontentamento contra os ajustes econômicos é unânime.

Lula também se queixa de Dilma, sua afilhada política, porém tenta manter as aparências. Uma ala do PT queria lançar Lula candidato à Presidência, em 2018, mas foi desaconselhada a tomar a iniciativa. Para completar, o partido se prepara para protestos na frente do hotel do evento, promovido por grupos anti-PT e anti-Dilma. (Danielle Cabral Távora)

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