Três vezes zero

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09Geraldo Alckmin, derrotado por Lula na eleição de 2006, foi lançado à Presidência pelo PSDB paulista. Aécio Neves, derrotado por Dilma na eleição de 2014, foi lançado candidato à Presidência pelo PSDB mineiro. Serra, o mais completo de todos – perdeu em 2002 para Lula e em 2010 para Dilma – também quer ser candidato à Presidência, talvez por seu antigo partido, o PMDB. Serra, quem diria! Deixou o partido na época de Ulysses e volta com Eduardo Cunha!

Dizem (mas ninguém confirma) que Alckmin, se perder a disputa interna no PSDB para Aécio, sai candidato pelo PSB. O ajuste passaria pelo apoio de Alckmin à nova socialista Marta Suplicy para a Prefeitura paulistana e ao vice Márcio França, presidente estadual do PSB, para seu sucessor no Governo paulista. Difícil? Muito mais difícil seria tentar eleger os atuais candidatos tucanos.

Aécio confia no recall, na lembrança de sua campanha à Presidência, em que foi derrotado por pouco (mas na qual, ninguém esqueça, por pouco não foi tirado do segundo turno por Marina Silva). E confia no arrependimento dos mineiros que elegeram o petista Fernando Pimentel e agora têm de ser governados por ele.

E Serra é Serra, oras. Passou a vida almejando a Presidência e se preparando para o cargo. Como Quércia, como Luiz Eduardo Magalhães, como Maluf, que nunca chegaram lá, enquanto Sarney e Itamar, que nunca pensaram nisso, chegaram. Mas Serra tem um objetivo e não pretende desistir de seu sonho.

Ah, PSDB! Acredita que juntando três perdedores forjará um vencedor.

Médicos em ação

O presidente do PSDB paulista, deputado Pedro Tobias, médico de profissão, disse, ao lançar o médico Alckmin à Presidência da República, que o Brasil está doente e precisa de um médico.

Mas o Brasil precisa acelerar, e Alckmin – como sabe quem quer que costume ouvir seus discursos – é médico anestesista.

Quarta quente

O Tribunal de Contas da União julga hoje as contas de 2014 do Governo Federal – aquelas em que há as “pedaladas fiscais”, em que o Governo determinou a empresas por ele controladas que efetuassem pagamentos antes de enviar-lhes as verbas necessárias para isso. Essas pedaladas podem configurar infração à Lei de Responsabilidade Fiscal, o que é causa para um processo de impeachment. Neste momento, um pedido de impeachment é improvável, por falta de sustentação política. Mas, se as contas do Governo forem rejeitadas e houver mobilização de rua, as condições políticas podem surgir.

De qualquer forma, é tema incendiário. E, com o PMDB irritado com o PT e com Dilma, tudo pode acontecer.

O tamanho da conta

Uma primeira estimativa diz que o Governo fez com que Banco do Brasil e BNDES usassem R$ 24 bilhões nas “pedaladas fiscais”. Outros órgãos do Governo também participaram, embora com quantias menores.

O versátil Palocci

Outro tema explosivo é a revelação das empresas que pagaram a Antônio Palocci por consultorias, durante seu mandato de deputado. Nisso não há nada de ilegal; o parlamentar tem direito de exercer sua profissão durante o mandato. O que chama a atenção não é, portanto, a contratação de Palocci como consultor, mas o volume de pagamentos e a amplitude do raio de atividades das empresas que o contrataram.

A maior contratante, por exemplo, é a Amil, especializada em seguros-saúde; logo abaixo, vem o escritório do advogado Márcio Thomaz Bastos, que foi colega de Ministério de Palocci; em terceiro, perto dos primeiros, a CAOA, distribuidora e fabricante de veículos (o grupo JBS, ao qual pertence o Friboi, está em quarto). Entre os 60 clientes de Palocci, que lhe renderam um faturamento de R$ 35 milhões em quatro anos, há uma empresa de participações financeiras, dois bancos, construtora, moinho de trigo, fábrica de produtos químicos.

Para uma consultoria com um só consultor, que versatilidade!

Haddad no escuro

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, acaba de sofrer a maior derrota de sua gestão: tentou, com o máximo possível de discrição, empurrar um contrato de R$ 7,5 bilhões para iluminação urbana, carregado de pontos altamente discutíveis e sem votá-lo na Câmara. Na manobra, o mesmo secretário que coordenou o plano – uma PPP, parceria público-privada em que a Prefeitura entrava com o investimento e os parceiros privados com o recebimento dos lucros – foi nomeado para o Tribunal de Contas do Município e encarregado de ser o relator do seu próprio plano.

Só que a história foi revelada. E o Tribunal de Contas, exposto aos holofotes, decidiu adiar o projeto e pedir à Prefeitura que explique a série de itens pouco claros no projeto de iluminação. Uma curiosidade: entre os participantes da concorrência da iluminação pública está o grupo do Friboi.

Fazendo contas

Para o pessoal que defende a volta da CPMF, o Imposto do Cheque, “para financiar a saúde”: entre 1997 e 2007, a CPMF rendeu US$ 111 bilhões, lembra o bom colunista Lauro Jardim.

E as críticas à saúde pública eram iguaizinhas às que se fazem hoje.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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