Lava-Jato: Ministério Público Federal aciona autoridades dos EUA para rastrear operador da Odebrecht

bernardo_freiburghaus_01Afunilamento de pista – A força-tarefa do Ministério Público Federal pediu auxílio às autoridades dos Estados Unidos para tentar desmontar a complexa engrenagem que teria sido utilizada pela Construtora Norberto Odebrecht para pagamento de propinas, operação através de empresas offshore registradas em nome de terceiros e contas secretas no exterior.

A Odebrecht é um dos alvos da 14ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Erga Omnes, que levou para a cadeia na última sexta-feira (19), seu presidente, Marcelo Bahia Odebrecht, e outros onze executivos do grupo e da construtora Andrade Gutierrez, incluindo o presidente, Otávio Marques Azevedo.

A pedido dos nove procuradores da República que atuam na Lava-Jato, órgãos de investigação norte-americanos atuarão na triagem dos depósitos de propina feitos em contas que eram do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.

É importante destacar que Costa foi o primeiro delator da Lava-Jato. O ex-diretor devolveu US$ 23 milhões apreendidos na Suíça, montante que é uma das provas materiais que o MPF acredita ter o envolvimento da Odebrecht com Petrolão, esquema de corrupção que sangrou os cofres da Petrobras.

O doleiro Bernardo Schiller Freiburghaus é acusado de ser o operador de propinas da Odebrecht. O suíço é figura central nas investigações da Lava-Jato no exterior, em parceria com os Estados Unidos, e está na Lista Vermelha de procuradores da Interpol.

A força-tarefa da Lava-Jato requisitará a autoridades norte-americanas a ampliação do rastreamento de dados bancários envolvendo o suposto operador de propinas da Odebrecht referentes às transações bancarias que passaram pelos Estados Unidos.

Freiburghaus é cidadão suíço, com mãe brasileira, e morava no Rio, onde era dono da Diagonal Investimentos. Após deflagrada a deflagração, em março de 2014, da fase ostensiva da Operação Lava-Jato, ele deu baixa em seu passaporte brasileiro e voltou para a Suíça, onde mora atualmente.

De acordo com os investigadores da Lava-Jato, Freiburghaus era quem operava as propinas da Odebrecht. “O modus operandi da Odebrecht foi revelado pelos beneficiários da propina. Paulo Roberto Costa, em sua delação premiada, afirmou que quase todos os valores recebidos nas contas offshores que mantinha na Suíça seriam da Odebrecht”.

Ainda segundo as investigações, “a propina teria sido paga pelo diretor da Odebrecht, Rogério Araújo, e intermediada pelo doleiro Bernardo Schiller Freiburghaus, que exercia papel equivalente ao de Alberto Youssef, de operador de propinas e de lavagem de dinheiro para a empreiteira”, escreveu o juiz federal Sérgio Moro, em seu decreto de prisões da Erga Omnes.

São o ponto de partida para essa apuração em cooperação com as autoridades dos Estados Unidos, uma offshore aberta no Panamá em 2006, a Constructora Internacional Del Sur, e contas indicadas pelo ex-diretor de Abastecimento que seriam dele, mas controladas por Freiburghaus.

Paulo Roberto Costa confessou em setembro de 2014 que os US$ 23 milhões que ele tinha em conta secreta na Suíça foram propina da Odebrecht.

Documentos indicam que a Constructora Del Sur foi a origem de pelo menos cinco depósitos feitos em contas secretas do ex-diretor de Abastecimento. Freiburghaus seria o operador dessas contas. Costa apontou as contas em nome das offshores Sygnus Assets S.A., Quinus Services S.A. e Sagor Holding S.A. como “controladas por Bernando Freiburghaus, mas pertencentes” a ele.

Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Petrobras, outro delator, também apontou a Constructora Del Sur como origem da suposta propina recebida da Odebrecht. Documentos obtidos em outro acordo de cooperação internacional, com as autoridades do Principado de Mônaco, ainda revelaram depósitos provenientes de conta da Constructora Del Sur mantida no Credicorp Bank S.A destinados a uma conta no Banco Julius Baer, que seria do ex-diretor de Serviços Renato Duque.

“A constatação de que a Constructora Internacional Del Sur efetuou depósitos nas contas off-shore de, pelo menos, três dirigentes da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque, permite concluir por sua ligação com o esquema criminoso de cartel e propinas que afetou a Petrobrás”, argumenta o juiz federal Sérgio Moro, em decisão que decretou as prisões dos executivos.

Na Suíça, a força-tarefa da Lava Jato já havia pedido cooperação internacional para que os endereços de Freiburghaus naquele país fossem vasculhados e suas contas rastreadas e bloqueadas. O operador foi convocado pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos no dia 5 de fevereiro, mas não foi encontrado no Brasil – onde ele é foragido.

No entanto, apesar de o MPF brasileiro ter pedido cooperação da Suíça para investigar o operador das propinas, a opção foi a de não transferir o caso para os suíços. A cooperação entre o Brasil e Suíça foi solicitada há mais de um mês. Porém, até agora a Justiça suíça não havia procedido no interrogatório ou no mandado de busca e apreensão.

Assim, a decisão foi a de encaminhar um pedido de cooperação com a Justiça americana, alertando que o suíço pode ter operado via bancos americanos. O objetivo é a de que ele seja investigado e eventualmente indiciado nos EUA.

Na prática, isso significaria um mandado de prisão contra ele sendo emitido pelas autoridades norte-americanas, o que a Suíça dificilmente poderia se recusar a cumprir, mesmo que não seja extraditado.

Com Freiburghaus preso, a força-tarefa da Lava-Jato espera contar com o operador para que colabore nas investigações e aponte o caminho do dinheiro, principalmente sobre quem teria recebido a propina.

O suíço afirma que não é doleiro e que “apenas” atua como gestor financeiro. “Eu sou apenas gestor. Vim para a Suíça em julho do ano passado. Não existe nada. Não tenho nada a ver com esse caso”, declarou. “Nunca fui doleiro”, garantiu. “Mas vão tentar me crucificar”, ressaltou.

Com a entrada das autoridades americanas no auxílio das apurações da Lava Jato, procuradores brasileiros esperam aprofundar o quadro de provas materiais para imputar não só aos executivos da Odebrecht, como seu presidente, Marcelo Odebrecht, por uma prática sistematizada de corrupção e fraudes em seus contratos com o poder público.

Os procuradores também têm a expectativa de que o caso das apurações de autoridades dos Estados Unidos no escândalo de corrupção na FIFA, em que foi desenvolvido um amplo trabalho de cooperação internacional entre autoridades que combatem a corrupção pelo mundo, possa ser espelhado nas investigações da Lava Jato. (Danielle Cabral Távora)

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