Youssef afirma ter pago propina a fiscais da Secretaria da Fazenda de SP a pedido de executivo

alberto_youssef_13Entregando o ouro – Na quarta-feira (24), um dos principais delatores da Operação Lava-Jato, Alberto Youssef, afirmou a promotores criminais de São Paulo e representantes da Corregedoria-Geral da Administração do Estado que pagou propina para fiscais do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), ligados à Secretaria Estadual da Fazenda. O doleiro prestou o depoimento na carceragem da Polícia Federal no Paraná.

De acordo com Youssef, os pagamentos teriam sido feitos para que os agentes não cobrassem dívidas da empresa Pirelli. Segundo as investigações, estima-se que os valores chegaram a pelo menos R$ 15 milhões.

A fabricante de pneus Pirelli revelou que a empresa citada se refere à Pirelli Cabos Elétricos, que foi sucedida por outra empresa à época dos fatos investigados.

Em outubro de 2014, após fechar acordo de delação premiada com procuradores federais para colaborar nas investigações da Lava-Jato, o doleiro revelou, em um dos depoimentos que prestou na PF, o esquema de corrupção envolvendo funcionários públicos do governo paulista.

As declarações foram encaminhadas aos promotores do Gedec, grupo do Ministério Público paulista que investiga exclusivamente crimes de lavagem de dinheiro, que iniciou uma investigação em parceria com a Corregedoria-Geral da Administração, vinculada ao Executivo paulista. Ontem, o delator foi ouvido oficialmente pela primeira vez nesta investigação.

Alberto Youssef reafirmou o que disse no primeiro depoimento da delação. Ele revelou que o executivo Júlio Camargo representava a fabricante de cabos elétricos em 2010 e que foi procurado porque a empresa precisava pagar propina a fiscais do ICMS, visto que teria dívidas muito altas com o fisco paulista. Camargo é investigado na Lava Jato e também fez acordo de delação premiada.

Por meio de contas do executivo no Uruguai, o doleiro conseguiu cerca de US$ 1 milhão. O dinheiro foi transferido para o Brasil para uma conta indicada por Youssef. Cerca de R$ 2 milhões foram pagos em dinheiro a um fiscal de ICMS, em um imóvel localizado na Avenida Nova Independência, na zona sul de São Paulo.

Outro pagamento de propina foi feito pelo delator em 2011, atendendo a mais um pedido de Camargo. Desta vez, foi montado um contrato fictício entre as empresas de Camargo e a que se dispôs a pagar propina, que depositou US$ 2 milhões em uma conta no exterior. O dinheiro foi disponibilizado em reais no Brasil e encaminhado ao doleiro, que se encontrou novamente com o mesmo fiscal no mesmo endereço do primeiro encontro. Mas, dessa vez, o valor pago foi de R$ 4 milhões, em dinheiro acondicionado em malas.

Segundo as investigações, outros pagamentos ocorreram ao longo de, pelo menos, quatro anos. A suspeita dos investigadores é de que o dinheiro não foi dividido apenas entre os agentes fiscais de ICMS e que outros funcionários públicos estaduais também participaram do esquema, entretanto de uma maneira mais discreta. (Danielle Cabral Távora)

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