De novo Janot – Rodrigo Janot é o favorito dentro do Ministério Público para ser reconduzido a um novo mandato à frente da Procuradoria-Geral da República. Contudo, segundo avaliação de membros do Ministério Público Federal, há grande risco de Janot ser barrado pelo Senado. A votação é secreta.
Vale ressaltar que o procurador-geral é alvo de ataques de políticos, especialmente do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), citados no esquema do petrolão. Por isso, procuradores da República próximos a Janot já cogitam traçar um segundo plano para evitar prejuízos que levem à contestação da apuração do esquema de desvios na Petrobras que financiou políticos e partidos na Operação Lava Jato.
A ira contra Janot cresceu desde a última terça-feira, com a Operação Politeia, primeira fase da Lava Jato centrada no núcleo político do esquema. Semana passada, a PF realizou buscas e apreensões em imóveis de três senadores: Fernando Collor, Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE). A ação deixou o ambiente no Senado ainda mais tenso.
Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde começará a nova sabatina se Janot for indicado pela presidente Dilma Rousseff, nove dos 27 senadores titulares estão na mira da Procuradoria, o que deve acirrar os ânimos contra o chefe do Ministério Público.
Com este cenário, procuradores próximos a Janot começaram a traçar um plano B cujo objetivo final é proteger a Lava Jato, caso o atual procurador-geral seja rejeitado pela Casa. Como plano alternativo, Janot poderia apoiar outro candidato da lista tríplice nos bastidores. Na disputa, estão os subprocuradores-gerais Carlos Frederico Santos, Mario Bonsaglia e Raquel Dodge. Porém, o atual procurador-geral vai manter o discurso público de que é candidato sem quaisquer condicionantes.
A ideia de apoiar um sucessor seria uma forma de manter o ritmo das investigações da Lava Jato. Há receio de uma descontinuidade, ainda que temporária, na condução dos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) contra deputados e senadores e no apoio às ações tocadas por procuradores da força-tarefa da operação – grupo designado diretamente por Janot e que atua na Justiça Federal de Curitiba. Um novo procurador-geral poderia, por exemplo, pedir um tempo adicional para avaliar os inquéritos da Lava Jato contra políticos.
O alto risco de derrota no Senado agita os bastidores do Ministério Público Federal. Um procurador reconhece que as recentes ações contra os senadores vão criar um clima de solidariedade entre os parlamentares na Casa. Para ele, Janot “cutucou a onça com vara curta”.
Outro fator que complica a situação do procurador-geral é o calendário apertado até sua recondução. A eleição interna ocorrerá em 5 de agosto e, se encabeçar a lista tríplice, Dilma deve indicá-lo para um novo mandato – o atual termina em 17 de setembro. Além do tempo curto, a investigação sobre tantos senadores cria embaraços para um corpo a corpo com os parlamentares.
Três líderes governistas do Senado avaliam que Janot terá dificuldades para ser reconduzido. Cabe aos senadores chancelar a escolha feita pela presidente. O primeiro desses parlamentares disse que os mandados de busca e apreensão criaram “mais atrito”. De acordo com um senador, a operação foi uma “demonstração desnecessária de poder”.
Além de parlamentares, os alvos da Politeia são um ex-presidente da República (Collor), o presidente de um partido (Nogueira, do PP) e um ex-ministro do governo Dilma (Bezerra). Por fim, o terceiro líder lembra que, como a votação é secreta, existe “uma possibilidade grande de Janot não passar”.
Até o momento, apenas Collor critica abertamente a operação autorizada pelo STF e avalizada por Janot, desafeto contra quem já moveu quatro processos que poderiam levá-lo ao afastamento do cargo. Os demais, inclusive Renan, reclamaram genericamente dos “excessos” da ação de busca e apreensão, sem citar Janot.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, que é alvo de três inquéritos na Lava Jato, afirmou que vai se comportar “com a isenção que o cargo recomenda”. “A indicação é uma faculdade da presidente da República e a sua aprovação ou não é uma prerrogativa dos senadores e das senadoras. Não posso, não tenho como nem vou predizer o que vai acontecer, nem o que não vai acontecer”, revelou Renan na sexta-feira, 17, em pronunciamento transmitido pela TV Senado.
Publicamente, aliados de Janot apostam na vitória mesmo na votação secreta no Senado. “Eu penso que o Rodrigo será reconduzido, apesar do Collor, Dilma, Calheiros, deputados do PP [partido com o maior número de parlamentares investigados]”, assinalou o subprocurador-geral da República Brasilino Santos, eleitor de Janot. “[Ele] colocou o Senado todo de joelhos, é o nosso procurador por mais anos”, ressalta outro subprocurador. (Danielle Cabral Távora)