Negociando delação premiada, presidente da Traffic pode ser uma ameaça a Del Nero e Ricardo Teixeira

1432943876963Pedaladas futebolísticas – Aaron Davidson presidente da Traffic nos Estados Unidos, está negociando uma delação premiada com a Justiça americana. Esta iniciativa pode colocar em risco a posição do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, e o ex-dirigente Ricardo Teixeira. Davidson pretende fazer um acordo para cooperar na investigação sobre as propinas da empresa para entidades esportivas.

A carta foi enviada pelos procuradores do caso para a corte federal no Brooklyn, em Nova Iorque. Nela, os procuradores apontam que Davidson estava “ativamente comprometido em negociar um acordo”.

O americano foi preso em maio, na operação do FBI contra a Fifa. Fontes próximas ao caso confirmaram que a iniciativa envolvendo o executivo se refere às propinas recebidas por membros da CBF para a Copa América.
Numa das acusações, a Traffic negociou o pagamento de US$ 110 milhões em propinas para os dirigentes sul-americanos. Parte do pagamento, porém, seria destinado para eventos que ocorreriam já na presidência de Del Nero, como as edições do torneio em 2015, 2016 e 2019.

A própria Traffic foi quem teria compartilhado uma propina com Ricardo Teixeira no contrato com a Nike e negociado também nos EUA.

A expectativa dos americanos é de que o executivo possa explicar para onde foram as supostas propinas e como os pagamentos ocorreram. Na semana passada, Davidson, foi o primeiro executivo a ser levado a uma corte desde as prisões em maio. Ele se declarou “inocente” diante das acusações de fraude, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça.

O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, preso em Zurique, também será alvo de uma negociação com a Justiça americana. Porém, com a cooperação imediata do executivo da Traffic, o peso das declarações do brasileiro pode ser diminuído.

A ausência de Del Nero nas reuniões da Fifa em Zurique, nesta segunda-feira, 20, significará para os demais cartolas o “silêncio” do Brasil no processo decisório da entidade e a perda de espaço nas definições do futuro do esporte. Na última sexta-feira, o dirigente brasileiro enviou uma carta para a Fifa alegando que não poderia viajar diante da CPI do Futebol no Congresso. Hoje, a Fifa realiza uma reunião de emergência para definir o futuro da entidade.

A notícia da ausência do brasileiro foi marcada por uma mistura de críticas e reconhecimento de que a situação da CBF não é boa. ”Não me surpreende que Del Nero não esteja em Zurique”, apontou um membro do Comitê de Ética da Fifa, pedindo para não ser identificado.

“O Brasil tem um peso no futebol mundial que não se pode imaginar que não esteja numa reunião como a desta semana”, ressaltou outro dirigente, também na condição de anonimato. “Se existe um país no mundo que é o futebol, esse país é o Brasil”. “Esse é ‘o’ encontro da Fifa”, enfatizou Gianni Infantino, secretário-geral da Uefa, sobre a importância do encontro.

De acordo com um representante da Oceania, a ausência de Del Nero pode ser “perigosa” para o Brasil. “Ninguém sabe o que vai acontecer. Não estar aqui significa ficar de fora e em silêncio no momento mais importante da Fifa”, disse. Para um cartola europeu, também pedindo anonimato, foi claro que o Brasil acabará sofrendo. “Não estar neste momento significa que o Brasil não será ouvido e, se houver algum tipo de revolta, não saberemos a posição da CBF”, declarou. (Danielle Cabral Távora)