Parada dura – Nesta sexta-feira (14), o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, defendeu a democratização e a realização de eleições livres em Cuba. Ele aproveitou a oportunidade para enviar uma mensagem, em espanhol, à população local sobre o futuro das relações entre os antigos adversários da Guerra Fria: “Não há nada para temer”.
Kerry é o primeiro secretário de Estado norte-americano a pisar em solo cubano em 70 anos. O representante do governo estadunidense comandou a cerimônia de hasteamento da bandeira dos EUA em Havana, 54 anos depois de ela ter sido retirada do local, devido ao rompimento das relações diplomáticas bilaterais.
Aproximadamente mil cubanos que acompanhavam o evento do lado de fora do prédio gritaram e aplaudiram quando a bandeira foi içada, por volta 10h30 (hora local). Um pouco antes haviam gritado “viva Cuba” durante a execução do hino do país. Bandeiras de Cuba pendiam de prédios vizinhos à embaixada e muitos dos que se reuniram para ver o evento à distância levavam símbolos de um ou do outro país.
Apesar de ressaltar que o futuro de Cuba deve ser decidido pelos cubanos, Kerry afirmou que os Estados Unidos continuarão a pressionar o governo da ilha a obedecer às convenções de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). “Nós estamos convencidos de que o povo de Cuba será mais bem servido por uma democracia genuína, na qual o povo seja livre para escolher seus líderes, expressar suas ideias e praticar sua fé”, declarou.
Dissidentes não foram convidados para a cerimônia, entretanto se encontrarão com o secretário durante a tarde na residência oficial da embaixada. Kerry ainda lembrou que esteve na semana passada no Vietnã para celebrar o restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, que se enfrentaram em uma guerra sangrenta na década de 70.
“Não é necessário ter um GPS para perceber que o caminho de isolamento mútuo e estranhamento que os Estados Unidos e Cuba trilhavam não é o correto e que chegou o momento de nos movermos em uma direção mais promissora”, afirmou.
Kerry também fez referência a alguns dos fatos que opuseram os dois países nas últimas cinco décadas e meia, como a invasão da Baía dos Porcos, a crise dos mísseis de 1962 e o alinhamento de Cuba com a União Soviética. “Os eventos do passado – as palavras duras, as ações provocativas e retaliatórias, as tragédias humanas – têm sido uma fonte de profunda divisão”.
Os cubanos têm a expectativa de que o restabelecimento de relações diplomáticas leve ao fim do embargo econômico contra a ilha, aumente investimentos e amplie o acesso à tecnologia e informação.
Kerry observou, em seu discurso, que o fim do embargo depende de uma decisão do Congresso americano e lembrou que ele e o presidente Barack Obama são a favor de suspensão. Porém, o secretário observou que a medida será consequência de decisões adotadas por ambos os lados. “O embargo sempre foi algo como uma rua mão dupla. Ambos os lados precisam remover restrições que estão mantendo os cubanos atrás”, finalizou. (Danielle Cabral Távora)