Olho do furacão – Existem fortes indícios de que a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) foi beneficiada pelo esquema de corrupção investigado pela décima oitava fase da Operação Lava-Jato, a Pixuleco II. Contudo, o mandato parlamentar a protege de investigações na primeira instância do Judiciário. Por conta disso, o juiz federal Sérgio Fernando Moro, que conduz as ações decorrentes da Lava-Jato, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal os documentos que indicam repasses ilícitos para Gleisi. Essa proteção relativa não abrange o marido da senadora paranaense, o também petista Paulo Bernardo da Silva, que comandava o Ministério do Planejamento quando foram autorizadas operações de empréstimos consignados que renderam R$ 50 milhões à empresa Consist.
Rastreamentos financeiros promovidos no âmbito da Pixuleco II estabeleceram que R$ 7 milhões com origem na Consist foram parar no escritório de Guilherme Gonçalves, advogado de Gleisi e Paulo Bernardo. Parte desse dinheiro teria sido usada para cobrir despesas pessoais da senadora. A investigação cita também o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicações, nos governos Lula e Dilma, respectivamente), como beneficiário de valores suspeitos.
Moro decidiu que Gleisi, apenas ela, estaria temporariamente a salvo das investigações promovidas pela Lava-Jato, ficando ao STF a responsabilidade de investigá-la. “Havendo indícios de que autoridade com foro privilegiado seria beneficiária de pagamentos sem causa, é o caso de acolher o requerimento da autoridade policial e do Ministério Público Federal e remeter o feito para o Supremo Tribunal Federal”, decidiu Moro.
Gleisi detém prerrogativa de foro perante o Supremo e já é alvo de investigação da Procuradoria-Geral da República pelo suposto recebimento de R$ 1 milhão do esquema LavaJato na campanha de 2010, quando concorreu ao Senado Federal.
O marido de Gleisi Hoffmann, atualmente sem mandato, sem ministério, sem cargo e, portanto, sem emprego, é um caso completamente diferente. Além de ser o pivô dos ilícitos investigados pela Pixuleco II, mantém relação muito próxima com o advogado Guilherme Gonçalves. Segundo o próprio causídico, “para o Paulo Bernardo advoguei pessoalmente em queixas crimes que propus como advogado dele”.
O juiz Sérgio Moro cita documento do qual consta uma anotação que demonstra que a ligação do advogado Guilherme Gonçalves e Paulo Bernardo era muito próxima. O documento mostra que do pagamento de R$ 50 mil de honorários pela Consist a Guilherme Gonçalves, em 29 de setembro de 2011, ele teria acertado com o ex-ministro Paulo Bernardo que ficaria, desta feita, com todo o montante.
“Referente à diferença de R$ 35.700 que foi retirados [sic] dos honorários de setembro/2011 dos R$ 60 mil. O Guilherme acertou com o Paulo Bernardo que ficaria com honorários no valor de R$ 50 mil. R$ 35.700 entrou direto da Consist e o restante R$ 14.300 foi transferido do fundo para a c/c 2 do Guilherme”, diz a anotação no documento apreendido.
Para a PF, esta tal anotação revela que Guilherme precisaria ‘da concordância de terceiro [Paulo Bernardo] para ficar com os honorários pagos pela Consist’, o que indicaria que os valores não se tratavam de fato de honorários.
Ouvido no inquérito, Guilherme Gonçalves alegou que utilizava recursos recebidos a título de honorários advocatícios da Consist para pagar despesas de clientes do escritório, como da senadora ou de pessoas a ela ligadas. O advogado afirmou que os débitos seriam relativos a “despesas urgentes” dos clientes, mas também esclareceu que nenhuma dessas “despesas urgentes” teria sido, posteriormente, ressarcida pelos clientes ou mesmo por ele cobrada.
Segundo Moro, as provas produzidas pelas buscas da Pixuleco II revelam, em síntese:
“a) a Consist foi escolhida para prestar serviços de informática no âmbito do acordo técnico entre o Ministério do Planejamento e a ABBC e SINAPP para gestão de margem consignável em folha de pagamento dos servidores públicos federais;
b) que parte expressiva da remuneração da Consist, de até 40% do faturamento líquido obtida com o contrato, foi repassada, sem causa lícita aparente, a intermediadores como Alexandre Romano e Milton Pascowitch (lobista e delator da Lava Jato), sendo posteriormente direcionada a dezenas de empresas de fachada;
c) que parte expressiva da remuneração da Consist, cerca de 9,6% do faturamento líquido, foi repassada, por solicitação de Alexandre Romano, ao advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, que, por sua vez, utilizou esses mesmos recursos para pagamentos associados à senadora da República Gleisi Hoffmann.”
Diante do suposto envolvimento da senadora, o juiz da Lava-Jato sugere o desmembramento da Pixuleco II.