Haddad altera projeto de ciclovia para beneficiar família de Jilmar Tatto e pode ser investigado

jilmar_tatto_07Piada pronta – O projeto de uma ciclovia inaugurada na Zona Sul de São Paulo, que teve sua rota original alterada pelo prefeito Fernando Haddad, em 2014, é o mais novo escândalo envolvendo o Partido dos Trabalhadores. A faixa foi criada duas quadras abaixo da rua que constava no projeto original, além de receber um desvio para que não fosse implantada em linha reta.

De acordo com o jornal “Folha de S. Paulo”, a medida beneficiou a família do secretário de Transportes (responsável pela implantação de ciclovias na cidade), Jilmar Tatto, visto que a nova rota desviou a faixa de cinco imóveis de parentes do secretário, que seriam afetados pelo projeto original ou pelo formato linear da ciclovia.

O primeiro projeto foi elaborado pela empresa TC Urbes, cujo presidente, Ricardo Corrêa, afirmou que não entendeu o motivo da mudança. “Começamos os estudos em 2006, com discussões públicas junto a comerciantes e moradores. Mas a prefeitura internalizou o processo. Parece que foi no achismo”, declarou.

A rota em questão ganhou 400 metros a mais para que o desvio fosse realizado, além de passar por quatro curvas e quatro travessias – onde o ciclista pedala lado a lado com os carros. Para que o projeto fosse executado no novo local, um trecho de determinada rua precisou ser asfaltado, impermeabilizando a área e provocando inundações no local. Moradores da região afirmaram que a medida foi realizada com extrema celeridade e que em três dias a ciclovia já havia sido construída – eles não foram consultados sobre a execução do projeto.

A reportagem da Folha passou pelos cinco imóveis dos familiares de Tatto e, em frente a todos eles, tinha carros estacionados no local onde seria implantada a ciclovia. Um dos sobrinhos do secretário – que é sócio de um prédio na mesma rua – afirmou que a criação da faixa seria prejudicial para seus negócios e que ela deveria continuar onde está. O empresário também afirmou que o tio não influenciou na mudança das rotas.

A ciclovia começa na Rua Alexandre Dumas, é desviada para a Rua Fernandes Moreira e retorna à Alexandre Dumas, completando 2,4 quilômetros de extensão. Ciclistas ressaltaram que o desvio não tem sentido algum e que até deixam de utilizar a faixa para não terem que passar pelo mesmo.

Segundo o diretor de Associação Comercial de São Paulo, Luiz Augusto Barbosa, comerciantes e moradores não foram consultados antes da execução do projeto, e donos de estabelecimentos estão se sentindo prejudicados porque a obra dificulta o acesso dos clientes. Barbosa ainda deixou claro que o prefeito tem criado uma guerra entre comerciantes e ciclistas.

A prefeitura afirmou “repudiar insinuações” de que o desvio da rota se deu em benefício da família de Jilmar Tatto. De acordo com o órgão, os critérios adotados foram técnicos e o secretário não teria acompanhado a execução desse projeto, especificamente. Para a prefeitura, foram considerados a conexão com outros meios de transporte, o desvio de interferências locais – como pontos de ônibus – e a ligação direta com a estação de trem Granja Julieta.

OAB cobra investigação

Presidente da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Marcos da Costa afirma que há indícios claros de irregularidades na ciclovia construída na zona sul paulistana, cujo trajeto foi modificado para desviar de imóveis da família do secretário de Transportes da gestão de Fernando Haddad (PT), Jilmar Tatto, representante de um clã que domina a política na região.

Costa considera grave a situação, pois a prefeitura, em ato autoritário, promoveu um novo estudo para a ciclovia sem ao menos ouvir a população. “Tudo isso deve ser investigado. Houve alguma razão para a mudança do traçado e, se foi beneficiar a família do secretário, é inadmissível”, diz Marcos da Costa.

Para o advogado, a medida viola princípios básicos que devem nortear a administração pública. “O prefeito adotou medidas que alteram a medida do cidadão sem ouvir a população. Precisa apurar, ouvir o secretário para avaliar se isso se deu para beneficiá-lo.”

Os escândalos de Tatto

Uma das fases mais controversas de Jilmar Tatto na Secretaria Municipal de Transportes, à época da administração da ex-petista Marta Suplicy, surgiu a partir de sua ligação com perueiros. O favorecimento a aliados e as divisões de algumas áreas de atuação fizeram surgir o termo “Tattolândia”, algo que não se desfez com o passar do tempo e muito menos com as negativas do secretário.

Preso em 2006, um dirigente de cooperativa de perueiros, acusado de financiar com o dinheiro das lotações e micro-ônibus o resgate frustrado de um preso, em Santo André, no ABC Paulista, disse que membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) – facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios paulistas – estavam infiltrados nos serviços de lotação e que foi por ordem de Jilmar Tatto que teve de admitir membros da facção criminosa na cooperativa de transportes que comandava.

De acordo com o declarante, Tatto teria recebido, à época, R$ 500 mil para favorecer, durante processo licitatório, um grupo de perueiros ligados ao PCC na zona Sul de São Paulo, onde a família do petista controla a política local.

As denúncias são públicas e registradas oficialmente pela polícia, mas não foram comprovadas. Não se sabe se a não comprovação se deu por má vontade dos envolvidos na investigação ou se por pressão do acusado e seus protegidos, que, é bom lembrar, não são diplomatas. (Danielle Cabral Távora e Ucho Haddad)

(A matéria foi modificada em 13 de janeiro de 2016, após a apresentação de documentos que comprovam a isenção de um dos citados)

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