Marcando presença – A Força Aérea russa lançou nesta quarta-feira (30) os primeiros bombardeios na Síria, desencadeando uma série de reações internacionais. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Ashton Carter, disse que aparentemente os ataques aéreos foram realizados em áreas onde é provável que não haja membros do grupo extremista “Estado Islâmico” (EI), apesar de Moscou afirmar o contrário.
Carter fez o comentário numa coletiva de imprensa no Pentágono, na qual forneceu poucos detalhes sobre os ataques, mas disse que eles indicam uma contradição na abordagem da Rússia. Moscou justifica os bombardeios como uma resposta a um apelo direto de Damasco e uma tentativa de conter o avanço do EI.
O secretário americano afirmou que os russos não deveriam estar apoiando o presidente sírio, Bashar al-Assad, e que suas manobras militares são uma “falácia” e estão “fadadas ao fracasso”. Ele também se disse desapontado com o fato de Moscou não ter usado canais formais para notificar os EUA sobre os ataques.
Carter anunciou que encaminhará autoridades militares americanas para um encontro com homólogos russos “assim que possível”, com o objetivo de discutir maneiras de certificar que Moscou não entre em conflito na Síria. Ele disse que espera que as conversas, a serem realizadas nos próximos dias, sejam “muito construtivas”.
O secretário de Estado americano, John Kerry, disse ao Conselho de Segurança da ONU que Washington aprova o interesse da Rússia em atingir posições do “Estado Islâmico”, mas que ações em apoio a Assad minam uma solução política para o conflito. “O EI não poder ser derrotado enquanto Bashar al-Assad continuar sendo presidente da Síria.”
Também se dirigindo ao Conselho de Segurança da ONU, o ministro do Exterior britânico, Philip Hammond, disse ser muito importante que a Rússia confirme se os ataques desta quarta-feira foram direcionados a alvos do EI e de afiliados da Al Qaeda, e não de opositores moderados do regime Assad.
O ministro do exterior francês, Laurent Fabius, disse que, se os ataques aéreos russos tiverem como alvo rebeldes sírios moderados, isso impediria que a França colaborasse com Moscou. Fabius afirmou que as autoridades estavam verificando os alvos dos bombardeios.
Fabius também pediu que as forças do regime sírio parassem com “ataques indiscriminados” a civis e assinalou que não há espaço para Assad no futuro da Síria.
No final do dia, Khaled Khoja, líder da Coalizão Nacional Síria, principal grupo de oposição apoiado pelo Ocidente, afirmou que os ataques russos desta quarta-feira mataram 36 civis e nenhum combatente rebelde. Moscou está “usando sua força militar para apoiar a guerra do regime Assad contra civis e corre o risco de se envolver em crimes de guerra”, disse
“A Rússia não pretende atacar o EI, mas prolongar a vida de Assad”, disse Khoja à agência de notícias Reuters. Ele afirmou estar escrevendo ao Conselho de Segurança da ONU para pedir uma ação urgente.
EUA x Rússia
Moscou e Washington divergem sobre as causas da guerra civil síria. Para os russos, a ingerência internacional – da invasão do Iraque à Primavera Árabe – é responsável; para os americanos, o maior culpado é Assad e seu regime repressor.
Putin diz que Assad deve fazer parte da coalizão que luta contra o “Estado Islâmico”. Obama e seus aliados, por sua vez, argumentam que Assad pode permanecer no poder a curto prazo, mas que seria essencial uma transição de regime na qual ele não teria papel duradouro.
Uma coalizão liderada pelos EUA tem bombardeado alvos do “Estado Islâmico” na Síria há cerca de um ano, enquanto uma coalizão separada, composta por alguns dos mesmos países, ataca extremistas no vizinho Iraque.
Nesta quarta-feira, Putin recebeu autorização do Parlamento para a realização de uma intervenção militar na Síria. Horas depois, a imprensa americana começou a noticiar bombardeios nos arredores de Homs, onde o “Estado Islâmico” tem áreas sob seu domínio.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que os ataques aéreos não vão ser expandidos para o Iraque. O governo russo também garante que a autorização dada pelo Parlamento é uma formalidade e não significa que as forças russas vão participar do conflito por terra, mas apenas com bombardeios aéreos pontuais. A autorização, no entanto, foi a mesma obtida por Putin antes da invasão da Crimeia, em março de 2014, que abriu a maior disputa entre Ocidente e Rússia desde a Guerra Fria. (Com agências internacionais)