“Nunca antes na história deste país” um partido político chegou tão fundo no poço da iniquidade. Com praticamente todos os seus principais quadros presos ou gravemente implicados em crimes de toda natureza, o PT está considerando a hipótese de colocar a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) na liderança do governo no Senado, no lugar de Delcídio Amaral (PT-MS), preso na última quarta-feira (25) por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de conspirar a fuga de Nestor Cerveró ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava-Jato.
A substituição, se ocorrer, equivale ao clássico trocar seis por meia dúzia e revela o nível de esgotamento moral do PT. O partido passou a cogitar nomes para altos postos não mais pela reputação ilibada, mas pelo simples critério de os mesmos ainda estarem soltos. Gleisi e o marido – o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações) – vivem uma situação tão complicada quanto a de Delcídio. No mundo político a troca é considerada tão bizarra, que na opinião de muitos o PT trocará um investigado preso por uma investigada solta.
Gleisi Hoffmann, que acumula denúncias gravíssimas, casos escandalosos muito mal explicados (como nomear um pedófilo conhecido, Eduardo Gaievski, para cuidar das políticas para crianças e adolescentes do governo federal), já foi denunciada por dois delatores da Lava-Jato (Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef) por ter recebido R$ 1 milhão de propina do Petrolão. Gleisi e o marido são os principais suspeitos da Operação Pixuleco II, 18ª fase da Lava-Jato.
Matéria do jornal “O Globo”, publicada quando da deflagração da Pixuleco II, em agosto, dá a medida do envolvimento de Gleisi no esquema. Documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) em escritório de advogado da senadora Gleisi Hofmann (PT-PR) indicam que dinheiro desviado do Ministério do Planejamento pagou motorista da petista. Por conta do foro privilegiado, o juiz federal Sérgio Moro suspendeu as investigações da “Pixuleco II” e encaminhou o processo ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A “Pixuleco II” revelou um esquema de pagamento de propina dentro do Ministério do Planejamento, que já foi comandado pelo marido da senadora, Paulo Bernardo (PT). Segundo os investigadores, mais de R$ 40 milhões foram desviados de um contrato para fornecimento de crédito consignado a servidores federais. O esquema teria sido operado por pessoas ligadas ao PT, entre elas o ex-vereador petista Alexandre Romano, preso durante a operação. O contrato foi assinado pela empresa Consist durante a gestão de Paulo Bernardo, em 2010.
Na opinião de Moro, há indícios de que “parte expressiva da remuneração da Consist foi repassada, por solicitação de Alexandre Romano, ao advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, que, por sua vez, utilizou esses mesmos recursos para pagamentos associados à senadora Gleisi Hoffmann”.
De acordo com a PF, parte dos recursos desviados era paga ao escritório de advocacia de Guilherme Gonçalves, que prestou serviço para a campanha de Gleisi nas últimas eleições. Documentos apreendidos por policiais “indicam que os valores recebidos da Consist teriam sido em parte utilizados para efetuar pagamentos em favor da Senadora Gleisi Hoffmann”.
Uma das planilhas apreendidas no escritório do advogado comprovaria a operação. O documento, de fevereiro de 2015, revela que o “Fundo Consist” — denominação usada para identificar o pagamento de valores ilícitos — apresentava um crédito de R$ 50.078,00, em favor da senadora e de pessoas. Em um dos lançamentos de débito consta a anotação “salário motorista – cheque 828”, enquanto no outro, “Diversos PT, PB, Gleisi”.
Segundo a PF, o motorista da petista, Hernany Mascarenhas, foi pago com dinheiro desviado do Ministério do Planejamento. Em outro documento apreendido consta anotação do pagamento de R$ 50 mil em honorários pela Consist ao escritório do advogado em 29 de setembro de 2011. O pagamento teria sido acertado com o ex-ministro Paulo Bernardo, “que ficaria com todo o montante”, segundo a PF.
Ao justificar o encaminhamento do processo ao Supremo, Moro justificou dizendo que “os fatos foram descobertos em desdobramento natural das investigações” e que para eventual continuidade das investigações na Justiça do Paraná terá que ter a autorização da Corte.