Assustados com carta de Temer, petistas fingem inocência e se igualam ao marido traído que vendeu o sofá

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A carta de Michel Temer à presidente da República é explícita, não deixando qualquer dúvida a respeito do objetivo, mas caiu como verdadeira bomba no Palácio do Planalto, que nos últimos dias tentou constranger o vice no afã de conseguir seu apoio contra o pedido de impeachment de Dilma.

Como se não tivessem compreendido o conteúdo da tal carta, que varreu qualquer nesga de esperança que ainda existia na sede do governo em relação ao impeachment, os governistas, em especial os petistas, apostaram na dissimulação como forma de fingir desentendimento.

Qualquer neófito na língua portuguesa é capaz de compreender a carta de Temer na primeira leitura, mas ao longo desta terça-feira (8), marcada por uma derrota histórica do governo na Câmara dos Deputados, petistas preferiram minimizar o documento, alegando que o conteúdo da mesma não passou de desabafo de alguém que discorda de algumas decisões do governo. O ridículo chegou a tal nível, que petistas chegaram a afirmar ser um direito de Temer discordar de algumas decisões do governo. O papel de arlequim do reino de Maria Louca ficou por conta do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) e do senador Humberto Costa (PT-PE).

Quem acompanha o cotidiano da política brasileira sabe que o presidente nacional do PMDB sempre foi persona non grata na seara petista, desde o momento em que Lula, agora um bem sucedido palestrante e lobista de empreiteira, impôs Michel como candidato a vice na chapa de Dilma, em 2010. Desde então, a presidente da República atura Temer, a ponto de ter “fritado” o peemedebista depois que o mesmo afirmou, em meio à crise política, que era preciso alguém para unificar o País.


O desprezo de presidente em relação a Michel Temer ganhou contornos perigosos quando a petista, durante a reforma ministerial, não consultou o vice para tratar do loteamento dos ministérios. Em atitude claramente provocativa, Dilma passou a negociar com o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ), cuja escola de manobras políticas não poderia ser pior: o próprio pai, Jorge Picciani, deputado estadual pelo PMDB do Rio de Janeiro, presidente da Alerj e dono do partido no estado.

A postura de Picciani foi considerada uma traição na cúpula do partido, que aguardava o momento certo para desautorizar o deputado que tenta impor na Câmara um ritmo que atende apenas os próprios interesses.

Nesse imbróglio, que de chofre parece não ter fim, inexistem inocentes, mas sobram alarifes profissionais, mercadoria farta na política nacional. Para evitar um impeachment e garantir o mandato, petistas aceitam, inclusive, o papel de “bobo da corte”, como se Michel Temer fosse inexperiente a ponto de cair nessa esparrela de quinta.

O comportamento vexatório e pequeno dos parlamentares petistas no Congresso Nacional, diante da explosiva carta de Michel Temer, remete àquela piada do marido que flagrou a mulher com outro no sofá da sala. Para lavar a honra, o traído toma uma grande decisão: vender o sofá. Enfim, como disse certa feita um conhecido e gazeteiro comunista de boteco, “nunca antes na história deste país”.