Lava-Jato: Bumlai confirma à PF que dinheiro de empréstimo bancário abasteceu o caixa 2 do PT

josecarlos_bumlai_1002 (gabriela bilo - estadao)

O que o Partido dos Trabalhadores temia, mas acreditava ser quase impossível, acabou acontecendo. Preso na Operação Lava-Jato em 24 de novembro passado e de olho em eventual redução de pena, o pecuarista José Carlos Bumlai, então “conselheiro rural” do lobista-palestrante Lula, admitiu às autoridades, durante depoimento, que tomou emprestado do Banco Schahin R$ 12 milhões, em 2004, e repassou o dinheiro ao caixa 2 do PT. Não se trata de delação premiada, mas de confissão espontânea, figura prevista no Código penal Brasileiro e que reduz eventual pena condenatória.

Bumlai confidenciou aos policiais federais que 50% desse valor foi destinado ao PT de Santo André, cidade do ABC paulista onde o PT teria sido chantageado pelo empresário Ronan Maria Pinto, que teria pedido R$ 6 milhões para não revelar detalhes do caixa 2 da legenda no município e a conexão desses recursos imundos com o assassinato do então prefeito Celso Daniel.

Celso Daniel foi morto, em 2002, de forma brutal e covarde, após ter sido sequestrado por criminosos comuns contratados por pessoas que queriam se livrar do petista, que passou a discordar da destinação dada ao dinheiro de propina recolhida junto a empresários da cidade.

Os outros R$ 6 milhões foram repassados ao diretório do PT de Campinas para quitar dívidas de campanha, de acordo com revelações de Bumlai. As negociações para o empréstimo ocorreram em outubro de 2004, quando o PT participava do segundo turno das eleições municipais em várias cidades, entre as quais Campinas. Naquele ano, o candidato do PDT, Dr. Hélio, venceu a disputa em Campinas com o apoio do PT no segundo turno.

No depoimento prestado à PF, tornado público nesta terça-feira (15), Bumlai disse que parte do dinheiro iria para Campinas por causa da presença de marqueteiros que atuavam na campanha na importante cidade do interior paulista. Sobre a remessa para o diretório do PT em Santo André, o empresário disse que apenas em 2012 soube que os R$ 6 milhões serviram para sufocar uma chantagem.

A primeira notícia sobre o pagamento de um chantagista se deu com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, operador financeiro do Mensalão do PT. Valério disse que os R$ 6 milhões destinados a Ronan Maria Pinto seriam usados pelo empresário para a compra do jornal “Diário do Grande ABC”. Condenado a 40 anos de prisão, o publicitário mineiro, que à época tentava um acordo de delação premiada, disse que foi procurado pelo PT para fazer a operação financeira, mas que se recusou a fazê-la.


Empréstimo perdoado

A dívida contraída junto ao Banco Schahin, de acordo com Bumlai, jamais foi quitada. Contudo, antes de ser preso pela PF, o amigo de Lula afirmou ter pago o empréstimo com embriões bovinos, ao mesmo tempo em que negou que o dinheiro do empréstimo tivesse abastecido o caixa 2 do PT. Com sempre, abusando da desfaçatez, o partido, em nota oficial, afirma que recebe apenas doações legais.

Bumlai contou também que nada fez para que o grupo Schahin conseguisse um contrato de R$ 1,6 bilhão com Petrobras, para fornecimento e operação de navios-sonda utilizados na prospecção de petróleo. Procuradores da República afirmam que o contrato com a petroleira nacional, firmado em 2006, serviu para liquidar a dívida com o banco.

O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou em delação que Bumlai agiu junto ao então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, para que o grupo Schahin conseguisse o contrato em 2006. Tanto Gabrielli quanto Bumlai negam essa versão.

Uma década depois

A revelação feita por José Carlos Bumlai sobre a destinação do dinheiro do empréstimo confirma a matéria publicada pelo UCHO.INFO em janeiro de 2004, com direito à divulgação dos principais trechos das gravações telefônicas sobre o assassinato de Celso Daniel. O editor foi processado por causa da divulgação das gravações, sendo que o autor da ação requereu à Justiça a imediata retirada do ar do site que transformou-se em “A Marca da Notícia”.

Depois de quase dois meses de briga na Justiça, o site saiu do ar, mas uma versão publicada por meio de domínio registrado no exterior permitiu a continuidade do nosso jornalismo.

Com o depoimento de Bumlai, a situação do ex-presidente Lula torna-se muito mais complicada e fragilizada, pois a amizade entre ambos, recentemente negada pelo petista, está mais do que confirmada e abre caminho para novas investigações no âmbito da Operação Lava-Jato, que podem produzir efeitos devastadores.

Confira abaixo os principais trechos das gravações telefônicas do caso Celso Daniel, divulgadas à época com exclusividade pelo UCHO.INFO. Em uma delas, o ex-ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Ivone Santana tratam a morte de Celso Daniel com frieza.

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