Nigéria é acusada por morte 300 muçulmanos xiitas; mortos foram enterrados em valas comuns

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A organização Human Rights Watch (HRW) denunciou nesta quarta-feira (23), o massacre de aproximadamente 300 pessoas pertencentes à seita xiita Movimento Islâmico da Nigéria (IMN, sigla em inglês), estabelecida no norte do país e sem vinculação com o extremismo do grupo jihadista Boko Haram.

Segundo informações de testemunhas, os soldados nigerianos mataram os fiéis xiitas em ataques registrados em três pontos da cidade de Zaria entre os dias 12 e 14 deste mês. Durante dois dias, o exército atacou a mesquita Hussainniya Baqiyyatullah, o bairro de Gyellesu e o cemitério da seita em Daral-Rahma.

Cerca de 300 xiitas morreram e muitos ficaram feridos, enquanto os soldados queimaram os corpos em valas comuns sem a permissão de suas famílias.

O Movimento Islâmico da Nigéria é uma seita xiita com vínculos com o Irã e estabelecida em Zaria, no estado nigeriano de Kaduna. O grupo religioso, liderado pelo Sheik Ibraheem Zakzaky, começou sua atividade no país africano em 1980 e conta com três milhões de fiéis na Nigéria. “Não tem relação com o Boko Haram, um grupo islâmico radical que também opera no norte da Nigéria, e cujos integrantes atacaram xiitas e outros”, ressaltou a HRW.


A origem do massacre realizado pelo exército nigeriano se encontra na revolta de um grupo de xiitas perto de uma mesquita, coincidindo com o início do mês de Rabi-ul-Awal, o nascimento do profeta Muhammad, em protesto por ataques anteriores feitos pelos militares.

De acordo com o exército, quando o comboio de um militar de alta patente passou pelo lugar, um grupo de jovens xiitas começou a protestar e atirar pedras, com o objetivo de matar o tenente-general.

“É impossível que uma barricada levantada por um grupo de jovens nervosos pudesse justificar o massacre de centenas de pessoas. Foi uma reação brutal e desmedida, quando não um ataque planejado contra o grupo xiita minoritário”, afirmou o diretor da HRW para a África, Daniel Bekele.

No último dia 18, o governo da Nigéria classificou o incidente como um “assunto militar”. “O presidente Muhammadu Buhari deveria dar um basta à lamentável lista de graves abusos contra os direitos humanos do exército para que não continuem durante seu mandato”, destacou Bekele.

A Nigéria vive sob a ameaça constante do grupo jihadista Boko Haram, que luta para impor um estado islâmico no norte do país, o que gerou uma violenta repressão do exército federal, que cometeu várias violações contra os direitos humanos.

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