Protestos contra a Arábia Saudita tomam as ruas do Iraque e do Irã

(A. Kenare - AFP - Getty Images)
(A. Kenare – AFP – Getty Images)

Milhares de manifestantes xiitas foram às ruas de cidades do Iraque e do Irã na segunda-feira (4) para protestar contra o regime sunita da Arábia Saudita, que executou um proeminente clérigo xiita no sábado.

A execução de Nimr Baqir al-Nimr pelo reino sunita gerou indignação entre xiitas e levou ao ataque à embaixada saudita em Teerã e ao consequente rompimento de relações diplomáticas entre a Arábia Saudita e o Irã. Bahrein e Sudão também romperam relações com Teerã.

Em Bagdá, uma multidão carregando retratos de Al-Nimr se reuniu do lado de fora da chamada Zona Verde, um altamente protegido distrito da capital iraquiana que abriga departamentos governamentais e representações diplomáticas, incluindo a embaixada saudita, reaberta recentemente.

Policiais responsáveis pela segurança do distrito conseguiram evitar a entrada dos manifestantes, que gritavam “amaldiçoados, amaldiçoados sejam os Al Saud”, referindo-se à família real saudita.

Ao sul de Bagdá, na região de Hilla, homens com uniformes militares bombardearam duas mesquitas sunitas, segundo fontes médicas e policiais iraquianas. As mesmas fontes revelaram ainda que um muezim, o encarregado de anunciar em voz alta o momento das cinco orações diárias, foi morto a tiros em sua casa em Iskandariyah.

Protestos similares ocorreram também em Basra, a maior cidade do sul iraquiano, e nas cidades xiitas sagradas de Najaf e Kerbala. “Matando ‘xeque’ Al-Nimr é o começo de sua queda”, gritaram manifestantes em Kerbala, em alusão à família real da Arábia Saudita. Eles carregaram um caixão simbolizando o enterro do clérigo xiita.

Em Basra, os manifestantes levaram cartazes pedindo à população, aos comerciantes e ao governo que boicotem produtos sauditas, ecoando pedidos semelhantes feitos por políticos xiitas ao longo dos últimos dois dias.


Iranianos queimam bandeiras

Em Teerã, onde no sábado a embaixada saudita foi saqueada, manifestantes tomaram as ruas pelo terceiro dia consecutivo. Cerca de 3 mil pessoas se reuniram na praça Imam Hossein, no leste da capital iraniana. Eles também gritaram frases de ordem contra os regentes da Arábia Saudita.

Muitos manifestantes incendiaram bandeiras de Israel, arqui-inimigo do Irã, e dos Estados Unidos, um dos principais aliados da Arábia Saudita. Por outro lado, não houve relatos de bandeiras sauditas queimadas, pois esta carrega a escrita de uma declaração de fé islâmica, sagrada para todos os muçulmanos.

Já na cidade natal do clérigo xiita Al-Nimr, numa província oriental da Arábia Saudita, um homem foi baleado no domingo, segundo informação da agência oficial da Arábia Saudita, a SPA.

Execução de clérigo aumenta tensões no Oriente Médio

No último sábado (2), o governo da Arábia Saudita executou 47 pessoas acusadas de ligação com o terrorismo, entre elas o proeminente clérigo xiita. A maioria era de nacionalidade saudita, com exceção de um egípcio e um chadiano. As acusações incluem a adoção e promoção da ideologia takfiri (extremismo sunita), assassinato, sequestro, fabricação de explosivos e posse de armas.

Dos 47 executados, a maior parte foi condenada por ataques da Al Qaeda na Arábia Saudita há uma década. Quatro, incluindo Al-Nimr, foram acusados de atirar em policiais durante protestos contra o governo. Segundo o governo, as penas visam principalmente desencorajar os sauditas de aderir ao jihadismo.

A execução de Al-Nimr gerou indignação nos países xiitas, principalmente no principal rival regional de Riad: o Irã. No domingo, o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, alertou que a Arábia Saudita vai enfrentar uma “vingança divina”. No sábado, a Guarda Revolucionária afirmou que a família real saudita sofrerá consequências, ao mesmo tempo em que o Ministério do Exterior garantiu que Riad pagará um “preço elevado” pela execução do clérigo xiita.

Em reação, Riad rompeu as relações diplomáticas com Teerã e pediu que todos os diplomatas iranianos deixem a Arábia Saudita imediatamente. Outros três países, Bahrein, Sudão e Emirados Árabes Unidos, também romperam ou relaxaram suas relações diplomáticas com o Irã. (Com agências internacionais)

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