Até o amanhecer desta conturbada terça-feira (15), Dilma Rousseff ainda acreditava que transformar o antecessor em ministro de Estado seria uma forma (desesperada) de conter a crise política que sacode o governo e derrubar o processo de impeachment. Isso porque a presidente da República apostava na liderança de Lula para recuperar a perdida relação com o Congresso Nacional, que cada vez mais pende para o lado do impedimento da petista.
Contudo, o que parecia ser doce transformou-se em fel. Isso porque o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, relator dos processos da Operação Lava-Jato, homologou a bombástica delação premiada de Delcídio Amaral, que entre as muitas acusações não poupou Dilma, Lula, Erenice Guerra e Aloizio Mercadante.
Se o imbróglio envolvendo Erenice é assunto que pode ser tratado depois, o que tem Mercadante no alvo caiu como bomba no Palácio do Planalto, Quando soube que o atual ministro da Educação, à época na Casa Civil, ofereceu dinheiro em troca do silêncio de Delcídio, a presidente convocou uma reunião de emergência do núcleo duro do governo. Após analisarem o conteúdo da gravação entregue pelo senador AA Procuradoria-Geral da República, em que Mercadante é flagrado tentando evitar a delação de Delcídio, a presidente concluiu que os efeitos dessa delação certamente afetarão a crise em que se encontra.
De tal modo, Dilma, em consonância com seus assessores, entenderam não ser este o melhor momento para Lula virar ministro. O lobista da Odebrecht teme ser preso a qualquer momento por ordem do juiz federal Sérgio Moro, por isso armou esse golpe contra o Estado Democrático de Direito. Assume como ministro da Secretaria de Governo, no lugar do “companheiro” Ricardo Berzoini, e passa a ter a prerrogativa do chamado foro privilegiado. Ou seja, todas as investigações sobre Lula que estão nas mãos de Moro seriam remetidas ao STF.
Acontece que o Supremo já deu sinais de que pode não aceitar essa manobra criminosa, que, se consumada, exige que os brasileiros saiam às ruas e paralisem o País em todos os seus quadrantes, até que a nomeação de Lula seja anulada.
Apesar da decisão de Dilma de suspender a nomeação de Lula, o ex-metalúrgico confidenciou a pessoas próximas que não tem como recusar o convite da sua “criatura” política. Na verdade, Lula sabe que se for preso no radar da Lava-Jato, o que tornou-se algo absolutamente possível diante dos últimos fatos, sua história política irá pelo ralo, devidamente abraçada ao PT, partido que jê comparado a uma organização criminosa.
Lula pode até querer virar ministro – na realidade essa foi uma exigência para não implodir Dilma – mas sua chegada à Secretaria de Governo pouco representaria se nas próximas horas o PMDB decidir antecipar a decisão de abandonar a presidente da República, adiada por um mês no último sábado (12). Afinal, se Lula não tiver com que quem negociar politicamente no Congresso, sua nomeação como ministro servirá apenas com zombaria dom o Poder Judiciário.
Aliás, se o STF aceitar passivamente a indicação de Lula para algum ministério, ficará patente que o Brasil entrou na fase do “vale tudo”. O que preocupa os defensores da democracia, já que o País começa a se assemelhar à Venezuela, onde a legislação é desrespeitada em nome de uma ditadura bandoleira.